#PlenaeApresenta Estela e Pedro e a viagem para mares profundos

O primeiro episódio da décima sétima temporada é sobre uma mãe, seu filho e o mar inteiro ampliando os mais diferentes horizontes!

7 de Outubro de 2024



Quais são os limites de dois pais que querem ganhar o mundo com seus filhos a bordo, independente de qualquer diagnóstico? No primeiro episódio da décima sétima temporada do Podcast Plenae - Histórias para refletir, você conhece a história de parentalidade do Pedro que, ao lado de sua esposa, Estela, decidiram enquanto casal que nada poderia detê-los de realizar um sonho antigo: velejar pelo mundo com as crianças ainda pequenas. 

Mas antes desse sonho se concretizar, é preciso voltarmos alguns passos. O primeiro deles é provavelmente o mais importante: como duas pessoas com tantos objetivos em comum se encontraram. “Quando eu conheci a Estela, eu levei ela para o nosso veleiro, em Paraty, no Rio de Janeiro”, relembra Pedro. 


“Eu brinco que foi o teste do namoro”, diz Estela “O Pedro me perguntou: ‘Você gosta de acampar? Então, tem um barquinho, que é como se fosse um camping, só que na água’. O barco era bem roots mesmo. A luz era à vela. O banheiro era um balde. Eu sempre gostei de aventura, e naquela viagem ficou claro que a gente tinha muitas afinidades. Aos poucos, o Pedro foi me seduzindo com a ideia de uma viagem longa”, conta ela.

Depois, vieram as primeiras viagens juntos e a experiência desafiadora na Grécia que serviu para comprovar que era isso mesmo que eles queriam para suas vidas no futuro. Mas com uma diferença: crianças juntos. O próximo passo óbvio então era engravidar, certo? Só que esse passo levou mais tempo do que a dupla esperava. 

“Quando a gente tomou essa decisão, eu já estava fazendo tratamento para engravidar. A Aninha veio depois de cinco anos de tentativas. A notícia da gravidez foi maravilhosa, até que a gente descobriu, num ultrassom de rotina, que ela tinha algumas questões de má formação”, diz Estela. As válvulas e as paredes do coração não formadas, o tamanho do feto menor do que a idade gestacional, o osso nasal pequeno e o intestino obstruído com várias pregas -  tudo isso, segundo a médica, eram indícios de uma síndrome, mas não se sabia qual ainda.

E era a Síndrome de Down. “Depois do parto, os primeiros oito meses foram os mais difíceis. A saúde da Aninha era muito frágil e, em alguns momentos, ela ficou entre a vida e a morte. De todos os problemas, o mais grave era a cardiopatia. Com quatro meses, a Ana foi internada às pressas, com um derrame pericárdio, que é um vazamento de líquido em volta do coração. Ela precisou ser operada às pressas, ficou na UTI, e os médicos chegaram até a preparar a gente para o pior”, diz Pedro. 

Nesse primeiro ano da Ana, o assunto da viagem ficou totalmente deixado de lado, afinal, o foco era estabilizar a saúde da primogênita Essa estabilidade chegou “um ano e pouco depois”, como conta o casal, e a Ana ainda ganhou um irmãozinho. A Estela engravidou do Gabriel e, antes dele nascer, o casal definiu a data exata para embarcarem. O plano era perfeito e a Ana teria 4 anos, enquanto o Gabriel teria 2.

A surpresa da pandemia não foi capaz de detê-los e ainda por cima trouxe uma certa facilidade, afinal, todas as terapias às quais a Aninha era submetida para seu desenvolvimento já tinham sido adaptadas para o modelo remoto e virtual. A única exigência mais específica eram os exames cardíacos que a pequena precisava fazer de tempos em tempos, e mesmo isso se tornou uma aventura à parte no roteiro. 

“O grande desafio mesmo não foi ligado à parte médica, nem à segurança, como se poderia pensar. Foi a convivência. O veleiro tem 43 pés e 13 metros de comprimento. O espaço interno dele equivale ao de um apartamento de 25 metros quadrados. Nesse cubículo, tinham dois quartos, dois banheiros, uma sala e uma cozinha. Tudo muito pequenininho, tipo uma casinha de boneca”, conta Estela.

“Quando você se propõe a estar junto num espaço pequeno 24 horas por dia, você tem que lidar com os conflitos que aparecem. Se surge um desafio, não dá para jogar a sujeira para baixo do tapete. Tem que lidar com ele. Com as crianças, o desafio era a falta de respiro. As crianças demandavam a gente 24 horas por dia, sete dias por semana, sem nenhum escape. Para elas, também era difícil em alguns momentos”, diz ela.

Lidar com o tédio fez com que as crianças se tornassem criativas, lidar com as turbulências fez com que o casal aprofundasse a conexão. Contemplar a natureza passou a ser um programa em família e os pequenos passaram a adquirir conhecimento natural do mundo que o cerca e a verbalizar suas próprias percepções.

A viagem que tinha “começo, meio e fim” desde o começo, trouxe benefícios para todos os envolvidos. A Aninha se desenvolveu muito além do esperado, o Gabriel cresceu e se tornou ainda mais observador e a família não só se fortaleceu, como também ganhou espaço nas redes sociais.

“Quando eu decidi criar uma página no Instagram, a ideia era falar sobre liberdade para as pessoas com algum tipo de deficiência. E aí, os seguidores chegavam no nosso perfil curiosos, porque viam um casal com dois filhos pequenos e uma menina com Síndrome de Down. E acabou virando uma via de mão dupla, porque os relatos dos seguidores também inspiravam muito a gente continuar compartilhando a nossa vida nas redes sociais”, diz Estela. 

O resto dessa linda e emocionante história você confere no episódio completo, disponível aqui no nosso site ou no Spotify. Aperte o play e inspire-se!

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Entrevista com

Cirilo Tissot

Psiquiatra com especialização em vícios e diretor da Adeamus

Compulsões alimentares: por que e como elas surgem?

Conversamos com um especialista em compulsões para entender um pouco mais sobre esse impulso humano que pode ser o começo de uma longa jornada.

9 de Janeiro de 2024



A compulsão é um excesso de interesse por um determinado objeto de prazer que pode variar desde uma atividade - como a compulsão por exercícios físicos - até a uma substância - que pode levar a um quadro de dependência química, como te contamos neste artigo.

Das compulsões mais famosas, a alimentar se destaca por ser provavelmente a mais comum. Estima-se que 2,5% da população mundial sofra com esse mal que muitas vezes é a causa secundária de um outro problema, como a ansiedade.

A comida se torna então o objeto de prazer desse compulsivo e deixa de ser um item básico de sobrevivência pare se tornar um item de obsessão que ultrapassa nossos sinais internos de fome.

Conversamos com Cirilo Tissot, Diretor da clínica Audeamus, médico associado a Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Drogas e mestre em psiquiatria pelo IPq-USP. Ele nos explicou um pouco mais sobre as origens e gatilhos desse mal. Você confere a conversa completa a seguir! 

Como você decidiu estudar as compulsões alimentares? Qual foi o estalo inicial na sua carreira?

Há 35 anos, comecei a observar na vivência clínica com pacientes internados, um fenômeno que se repetia com alguns deles. Não era com todos, mas a maioria dos afetados futuramente viriam a se somar com aqueles pacientes de ambulatório pós-cirurgia bariátrica - procedimento para redução do estômago.

Estes pacientes, frente à sobriedade do seu objeto de vício (a comida), começavam a demonstrar interesse em outros objetos de prazer. Nada de incomum, se não fosse pelo fato de ser abusivo e com características compulsivas não relatadas anteriormente. 

Um paciente que parava de beber começava a comer compulsivamente na mesa do refeitório. Outro viciado em cocaína corria na esteira da academia como um hamster “tresloucado”, enquanto outros demonstravam interesse por sexo, compras ou jogos. De qualquer forma, um novo comportamento se desenvolvia frente a supressão de outro, havendo uma migração entre eles. 

Meu interesse pelo estudo das compulsões iniciou-se aí, não só pela curiosidade em diferenciar as origens da compulsão daqueles não compulsivos, como também determinar um prognóstico frente a reabilitação. E no meu ponto de vista, é ainda mais importante prever antes a recaída quando do aparecimento de sinais da compulsão por qualquer coisa.

De forma científica, qual é a definição de uma compulsão? Quando pode ser chamado assim?

Dentro da psiquiatria e psicologia, a compulsão está mais associada ao transtorno obsessivo compulsivo (TOC), onde o indivíduo acometido tem ações repetidas habituais com características de rituais. 

Essas ações produzem alívio emocional em quem fantasia que alguma coisa de ruim irá acontecer. De qualquer forma, de modo geral, a compulsão refere-se a uma ação repetitiva que busca alívio ou prazer, que se impõe à razão apesar da percepção dos possíveis prejuízos acarretados, dando, à pessoa, a sensação de descontrole sobre si mesma.

E no caso das alimentares?

Na compulsão alimentar soma-se a ação de comer à definição anterior, dentro de um curto espaço de tempo (duas horas), uma quantidade não compatível com a fome ou vontade de comer das pessoas em geral. 

Como doença isolada (transtorno de compulsão alimentar - TCA), caracteriza-se por episódios recorrentes de compulsão (pelo menos uma vez por semana e durante meses), trazendo grande sofrimento, acessos noturnos de vontade de comer e vergonha de ser visto comendo em público. 

Ela não possui ação compensatória inadequada para perder peso (vômito, diarreicos, enemas etc.), diferenciando-se, desta forma, da bulimia. O Transtorno da Compulsão Alimentar caracteriza-se por ganho de peso, propiciando a obesidade mórbida. 

Na bulimia, apesar dos acessos de compulsão, não necessariamente a pessoa tem ganho de peso, já que existe um cuidado excessivo em não engordar. Podemos dizer também que no TCA a motivação principal é hedonista. Ou seja, existe um grande prazer em comer, enquanto na bulimia tem características de alívio da ansiedade.

Vivemos uma epidemia de compulsão alimentar de fato ou sempre houve e agora só sabemos melhor diagnosticar?

Os transtornos da alimentação vêm aumentando no mundo, afetando 2,5% da população. Porém, essa porcentagem tem sido maior no Brasil, principalmente após a pandemia, atingindo 4,7% dos brasileiros, segundo dados da OMS. Podemos pensar em duas causas principais: o sedentarismo e o aumento da ansiedade.

Definições mais claras do que vêm a ser os transtornos da alimentação, segundo os dois principais códigos de classificação (DSM5 e CID 11), ajudam os profissionais a fazerem diagnósticos mais precisos e, assim, termos mais precisão nas prevalências destes transtornos. Sabemos que metade dos brasileiros que sofrem dos transtornos alimentares estão acima do peso e, destes, 15% têm obesidade mórbida.

Quais são as causas secundárias que levam o indivíduo a ter uma compulsão alimentar?

A origem da compulsão alimentar é multifatorial, onde a diversidade de fatores se relaciona de forma complexa para produzir e, muitas vezes, perpetuar a doença. Os fatores precipitantes aumentam a chance do desenvolvimento dos transtornos alimentares, mas não são inevitáveis. 

Fatores ligados a personalidade, como baixa autoestima, impulsividade e instabilidade emocional, além de história pregressa de depressão, ansiedade e tendência a obesidade, estão associados ao desenvolvimento da compulsão alimentar, como fatores de predisposição.

Por outro lado, já está bem estabelecido que a compulsão alimentar está diretamente relacionada a presença de restrição alimentar (dieta) como fator de precipitação, quando associado a tendência a obesidade e dificuldade no controle dos impulsos. Junto com a dieta, eventos estressores que geram desorganização da vida e ameaça da integridade física (doença, gravidez e abuso físico), estão também frequentemente associados, por gerar insegurança e sentimento de inadequação. 


Diante de situações que aumentam a ansiedade, o compulsivo reage de forma a ficar ruminando ideias negativas, que por sua vez, geram sofrimento, sensação de vazio e o desejo imperioso de fazer algo a respeito. O prazer em comer, neste momento, parece trazer alívio e dá uma folga na pressão mental, promovendo distração e senso de recompensa.

No caso da compulsão alimentar infantil, as causas se aplicam da mesma forma ou há outros motivos?

Além dos fatores predisponentes, é na infância que se observa uma tendência da criança em engordar e a pressão familiar subsequente pelo controle do peso (dieta restritiva). Isso se alastra para a adolescência, quando o critério de beleza está socioculturalmente ligado a um ideal de magreza, em um momento da vida onde as mudanças corporais cursam com uma mudança de peso e de formas. 

A supervalorização do ser magro aumenta a insegurança do púbere e promove uma baixa autoestima. Familiares de indivíduos compulsivos em primeiro grau têm quatro vezes mais chance de desenvolver a mesma patologia, não sendo apenas por uma influência genética, mas pelo aprendizado da restrição alimentar familiar. 

Essa forma de funcionamento proporciona a manutenção do quadro compulsivo, onde a restrição alimentar antecede a compulsão alimentar, quando nos deparamos com os mesmos sinais e sintomas dos adultos, quer pela velocidade e quantidade de comida ingerida, quer por comer escondido ou durante a noite. 

Não podemos esquecer também, que, quanto mais urbanizada for uma criança, mais terá acesso a produtos alimentares super processados e de baixo poder nutricional (os conhecidos “fast food”). Isso também acarreta malefícios. 

Como tratar uma compulsão alimentar?

Enquanto em outros transtornos por uso de substâncias a reabilitação cursa com ensinar a pessoa a viver sem as drogas pela manutenção da sobriedade, na compulsão alimentar é o inverso. 

Manter uma rotina frequente de refeições (de três em três horas), com alimentos saudáveis e em um contexto que traga bem-estar, alimentando-se de forma devagar e com a prática de esporte nos momentos livres, parece ser fundamental para uma mudança no estilo de vida. 

A procura por profissionais especializados é fundamental para orientação e seguimento da reabilitação. Um psiquiatra pode ajudar com medicações, pensando nas comorbidades comumente associados na compulsão alimentar, como ansiedade e depressão, por exemplo.

Um terapeuta para psicoterapia na linha cognitivo-comportamental, preferencialmente. No caso de crianças e adolescentes, ter um psicoterapeuta familiar pode ser de grande ajuda.

Há novos caminhos que surgem inicialmente para outros fins, mas acabam funcionando para a compulsão? 

Nos últimos anos, medicações hipoglicemiantes vêm ganhando espaço no tratamento das compulsões alimentares e os estudos voltados para o emagrecimento indicam uma perda de peso de até 30% do peso corporal, sem que os mecanismos de como isso ocorra ainda estejam bem esclarecidos. 

De qualquer forma, parece atuar diretamente no circuito do prazer, diminuindo o senso de recompensa ou a necessidade de comer de forma compulsiva. Por outro lado, seus efeitos estão comprovados nos transtornos da compulsão alimentar como doença e não como sintoma. Isto é, não tem indicação na compulsão alimentar da Bulimia Nervosa, associada mais a ansiedade e sensação de vazio, mas sem o sobrepeso da obesidade mórbida, sua primordial indicação.


A dismorfia corporal das pessoas anoréxicas ou a necessidade de purgar ou compensar o aumento do consumo de alimentos nas bulímicas promove a perversão do uso inicial. O desejo de alcançar a beleza ideal em um corpo magro, mais a venda livre sem prescrição médica nas farmácias, pode agravar o quadro clínico das pessoas com diagnóstico de anorexia e bulimia nervosa.

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