Entrevista com

Luiz Alberto Hanns

Doutor em psicologia clínica

O estresse é o maior inimigo silencioso do casamento

11 de Abril de 2019



Com mais de 20 anos de prática como terapeuta de casais, o doutor em psicologia clínica Luiz Alberto Hanns defende a tese de que há seis dimensões para um casamento feliz. Descritas no livro A Equação do Casamento - O Que Pode (Ou Não) Mudar na Sua Relação (Ed. Paralela) são elas: compatibilidade psicológica, grau de consenso, atração sexual, competência de convívio a dois, valorização de permanecer casado e, por fim, grau de fontes de estresse e de gratificação. Hanns afirma, no entanto, que o casal não deve idealizar que tudo se encaixe perfeitamente. “Esperar isso pode arruinar uma relação que seria muito boa”, diz ele, que dá aulas da Casa do Saber. 

Até poucas décadas atrás, os casamentos duravam a vida toda para a maioria das pessoas. Hoje, cerca de 50% dos casais se separam. As pessoas eram mais felizes no casamento antes? Em muitos países o modelo ainda é o dos nossos avós. Muçulmanos ortodoxos, judeus hassídicos e sikhs se casam não em busca de um projeto individualista de felicidade pessoal, mas como parte de um ciclo de vida a ser cumprido em que outros aspectos também pesam, obrigações, estabilidade, expectativas da comunidade etc. Tem de haver simpatia, não necessariamente paixão. O entendimento é que você aprenderá a amar seu cônjuge por meio do convívio e da aliança pela construção da vida em comum. As pesquisas indicam que essas pessoas tendem a esperar menos prazer e sintonia de almas e em geral estão mais satisfeitas com o que têm. Nesse sentido, podemos dizer que nossos avós eram mais felizes. Hoje, temos total liberdade de escolha e uma expectativa muito alta da vida. Esperamos demais do trabalho, filhos, saúde, aparência e casamento. Se a vida não for maravilhosa em todos os aspectos, nos sentimos devedores de nós mesmos. O lado positivo da liberdade e fluidez das relações é que podemos sair de situações de extrema opressão. O negativo é que facilmente nos frustrarmos por idealizar  metas irrealizáveis. O que podemos fazer? Idealizar menos e desenvolver o que se chama de "habilidades interpessoais para conviver a dois". 

Como é possível aprender a conviver com outra pessoa? As pessoas podem fazer terapia de casal para aprender a viver a dois e lidar com divergências. Pesquisas mostram que indivíduos que fazem 6 ou 7 sessões antes do casamento tendem a ter relacionamentos mais satisfatórios. São aprendizados como, por exemplo, não dizer tudo que quero no momento em que sinto necessidade de desabafar, mas entender que é vital escolher o momento e a forma de pedir, cobrar ou reivindicar. Outro exemplo se refere ao fato de compreender que o mau humor não é um salvo conduto que me permite dizer desaforos ao outro. Se eu estiver mal-humorado porque não dormi, é melhor que eu durma, mas preserve o meu parceiro do mau trato que corrói o relacionamento. Muitos casais dizem que, se soubessem e fossem treinados em como praticar essas coisas antes, o casamento teria sido melhor. 

De que maneira duas pessoas podem saber se são psicologicamente compatíveis? Depois de um tempo de convívio, as pessoas percebem se combinam no jeito de ser. Em alguns casos, os opostos se atraem, como o sádico e o masoquista, que são complementares. Mas, em outros casos, os opostos podem se repelir, como por exemplo, uma pessoa com déficit de atenção e uma perfeccionista, que tenderão a ter mais conflitos. Do mesmo modo os iguais podem se atrair ou repelir dois indivíduos ansiosos tendem a potencializar o nível de irritação um do outro. Já um mais tranquilo pode acalmar um ansioso. O problema é que, no afã de se casar, a pessoa pode perder a capacidade de observar essas dinâmicas. 

A incompatibilidade psicológica inviabiliza o casamento? Não necessariamente. É possível fazer ajustes. Uma pessoa extremamente espaçosa pode se habituar a não falar tão alto e ser mais ordeira para não incomodar o parceiro. É claro que tudo isso tem limites. Por exemplo, se eu genuinamente não tolero pessoas com pouco interesse intelectual, talvez não consiga me adaptar a um parceiro sem esse pendor. Enfim, é preciso ser ao menos suficientemente compatível, mas não é preciso buscar um casamento em que tudo se encaixe perfeitamente. Esperar isso pode arruinar uma relação que seria muito boa. 

Com o passar do tempo e após o nascimento dos filhos, a vida sexual se deteriora para a maioria dos casais. Qual é o caminho para lidar com essa realidade? O primeiro passo é entender que isso acontece para muitos casais, tanto por razões hormonais, quanto pela logística de ter um filho. Às vezes, não contamos com reservas internas para ter foco simultâneo em filho, família estendida, nós mesmos e ainda sobrar espaço para o romantismo. O problema é quando isso se torna permanente. Em tese, seria importante tentar recuperar o espaço de namoro dentro do relacionamento. Não precisa ser sempre sexo, mas também fazer programas de que os dois gostem, como jantar, conversar, praticar esportes. Ter prazer em compartilhar determinados momentos a dois. 

As pessoas mudam ao longo da vida. Com isso, pode mudar também o grau de consenso do casal. Quando isso acontece, é hora de se separar? Quando os projetos de vida ou os valores do casal são incompatíveis, pode acabar o casamento. Um exemplo é se uma pessoa quer ter filho e a outra, não. Um pode até mesmo abrir mão de um projeto que para ele era vital, mas ficar ressentido e a cada briga jogar na cara do outro. Valores também são importantes, inclusive políticos, estéticos e éticos. Alguns casais não se mantêm atualizados sobre essas mudanças e só se dão conta dessas diferenças quando já não têm mais muito em comum. Por isso, é importante prestar constantemente atenção ao que se passa com o parceiro e sempre que necessário conversar, repactuar e renegociar. Quais são os principais inimigos do casamento?Existem inimigos barulhentos, são conflitos evidentes, como projetos de vida incompatíveis e concepções de direitos e deveres que não foram discutidos antes de casamento. Por exemplo: quem vai acordar à noite para trocar a fralda do bebê? Ou: é aceitável viajar sem a companhia do cônjuge? Mas existem também inimigos silenciosos, problemas que não detectamos, mas deterioram a relação. O maior inimigo silencioso é o estresse oriundo de fontes externas, como trânsito, finanças, filho, saúde. A maioria dos casamentos contemporâneos está sujeita a ele. Muitas vezes um casamento com alto grau de satisfação se deteriora porque a pessoa sem perceber acumula estresse. Em algum momento, o indivíduo então começa a se irritar com parceiro e atribui isso equivocadamente à relação, tal como na história do sapo, que estava sentado na frigideira com água fria e não notou como ela se aquecia até ferver.

Em qual das seis dimensões do casamento feliz é mais fácil corrigir a rota e, em oposição, em qual é mais difícil fazê-lo? A mais fácil é a aprendizagem de habilidades para conviver a dois. Ele funciona como um pó de pirlimpimpim que ajuda a ajustar as outras dimensões. As dimensões mais difíceis de ajustar são a incompatibilidade de projetos essenciais, de valores e de química sexual. Também é complicado quando não há afinidade de interesses. Por exemplo, uma triatleta que seja casada com um filatelista, intelectual e sedentário tenderá a sentir vibração e prazer em atividades praticadas com outras pessoas fora da relação. Esse interesse em assuntos em comum tem se mostrado como muito importante na maioria dos casamentos contemporâneos.

Estatisticamente, somente um em cada 4 casais é feliz. Ainda assim, a maioria das pessoas quer se casar. Por quê? Por um conjunto de razões. As pessoas muitas vezes chegam a uma fase em que desejam estabilidade e compromisso. Esse período coincide com o fim dos estudos e início da vida profissional, entre os 26 e 32 anos, quando o indivíduo cansa da balada e quer formar uma família. Homens frequentemente se casam movidos pela busca de fundar um lar para ter uma relação que sirva de apoio para a vida. Já as mulheres são movidas pela expectativa da vida a dois, algo que os homens não compreendem direito. 

Os aplicativos de namoro tornaram as relações mais efêmeras? Não vejo assim. A maioria das pessoas busca compromisso, inclusive homens. A diferença é que, enquanto ele não encontra uma companheira de vida, se diverte com outras parceiras e pode-se ter a impressão de que ele não quer nada sério. Na verdade, ele apenas não achou ainda a parceira certa. A mulher, por pressão social, aspectos emocionais, encaixe sexual e certas vulnerabilidades, como segurança, higiene etc., não costuma querer praticar sexo tão promíscuo como passatempo. Mas, mesmo assim, elas também se envolvem em paqueras e podem ter sexo com um ou outro parceiro ocasional apenas para ter companhia e por recreação. Mas, vale para eles e elas, hoje, 30% dos casamentos nos Estados Unidos se originam de pessoas que se conheceram em aplicativos. 

Como o avanço da longevidade deverá impactar as relações amorosas? Os jovens hoje são menos românticos e ingênuos ao se casarem. Eles dizem “espero que dure a vida inteira”, mas não têm certeza de que “seremos felizes para sempre”, o que é muito diferente. Soma-se a isso o fato de que a longevidade com mais saúde pode fazer com que as pessoas tenham dois ou três relacionamentos de compromisso ao longo da vida, ou experimentem outras sexualidades. Além disso, o segundo ou terceiro relacionamentos de compromisso não precisam ser necessariamente casamentos, mas namoros, sem morarem 100% do tempo juntos.

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Parada obrigatória

Mergulhando nos porquês

O que foi falado no Plenae em junho

30 de Junho de 2023


Olá, caro leitor. É sempre um prazer ter você aqui com a gente. Em junho, demos continuidade a mais uma temporada do Podcast Plenae, dessa vez, a décima segunda. Conhecemos a história de foco e resiliência de Carlos Burle, representando o pilar Mente. Em Propósito, nos emocionamos com os caminhos que o bombeiro Leo Farah trilhou.

Nos inspiramos com a jornada de autoaceitação da Letticia Munniz, que representou lindamente o pilar Corpo. Terminamos o mês - mas ainda não a temporada toda! - quebrando nossos tabus e deixando nossos preconceitos de lado com Mariam Chami, que trouxe um outro lado do islamismo para o pilar Espírito. 

Como você já sabe, a cada semana de episódio, produzimos também um conteúdo relacionado, que converse diretamente com o tema abordado nos capítulos. E quais foram eles? Te contamos a seguir!



Seja um aliado da luta
Inspirados pelo episódio lançado ainda em maio de Fernanda Ribeiro, separamos algumas dicas para apoiar mais a causa preta no seu dia a dia. Um detalhe importante é que todas elas são acessíveis e pelo menos uma pode ser colocada em prática ainda hoje! Seja um aliado dessa luta tão importante.



Quem conta um conto…
Aumenta um ponto. Já ouviu esse ditado? Nesse conteúdo, buscamos entender a importância de contar histórias, essa atividade ancestral da nossa espécie. Essa investigação foi inspirada no episódio de Carlos Burle, que buscou melhorar a sua oratória para fortalecer ainda mais o seu esporte, o surf, diante



Qual sua missão?
A busca por um propósito de vida pode ser leve e aterrorizante na mesma medida. Para Leo Farah, o próprio destino se encarregou de guiá-lo até a sua verdadeira missão de vida. Mas, essa não é a realidade de todo mundo. Por isso mesmo, te contamos como a ciência pode te ajudar nessa procura!



O corpo de verão
O corpo de verão, tão desejado ao longo dos séculos, é simplesmente aquele corpo onde há uma pessoa feliz dentro dele. Essas e outras frases de efeitos que buscam pregar a autoaceitação são parte de um movimento chamado body positive (o corpo positivo, em tradução), movimento que Letticia Munniz faz parte. Venha conhecer!



Quebrando tabus
Nada melhor do que deixar velhos preconceitos no lugar onde eles pertencem: no passado. É isso que Mariam Chami busca fazer com a sua religião, o islamismo. Pensando em somar, fomos desmistificar esse conceito e te explicamos mais sobre um dos dogmas mais antigos - e cheios de tabus - do mundo. 



O melhor dos amores: o próprio
No dia dos namorados, trouxemos a nossa queridinha do Instagram: a crônica. Nesse texto, brindamos aos diferentes tipos de amores: os que já se foram, os que estão por vir, os que ficam porque fazem de tudo para ficar, os que fogem à regra… E, principalmente, ao amor próprio, o mais potente e importante amor.



Coloca um casaquinho!
Porque o inverno definitivamente chegou. A estação mais fria do ano nos desafia a enxergar poesia e beleza mesmo quando isso parece tarefa difícil. Ela também nos lembra que para aquecer, é preciso estarmos juntos, segurando as nossas mãos. É sobre isso que nos debruçamos na última crônica do mês.



Com a cabeça na lua 
Você sonha? Se sim, lembra do que sonhou? Sente que sabe que está sonhando enquanto ele acontece? No Tema da Vez de junho, trouxemos a temática à mesa e discutimos a importância dos sonhos, qual a visão da ciência e de outras correntes e outras dicas importantes para domar a sua mente e sua atividade onírica.

Nos vemos em julho, esse mês que traz consigo o encerramento dessa linda temporada do Podcast Plenae e muitos outros conteúdos que possuem um único objetivo: te lembrar que você importa e que o equilíbrio dos pilares é o caminho. Nos vemos em breve!




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