Para Inspirar

Zica Assis em "O resgate da minha identidade"

Conheça a história de Zica, personagem do pilar Contexto e símbolo de perseverança, sucesso e resiliência

5 de Julho de 2020


Leia a transcrição completa do episódio abaixo:


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Introdução: Bem-vindo ao Podcast Plenae, um lugar onde você encontra histórias reais para refletir. Ouça e reconecte-se. 

No episódio de hoje, a empresária Heloísa Assis, a Zica, como prefere ser chamada, compartilha sua trajetória de aprendizagem, superação e muita garra. A filha do meio da dona Dulce e do seu João já entrou para a lista da Forbes das 10 mulheres mais poderosas do Brasil, ao lado da Gisele Bündchen e da Luiza Trajano. Sua jornada ilustra o pilar Contexto. No final do relato você ouvirá reflexões do monge Satyanatha, nosso convidado especial dessa temporada, para ajudar você a se conectar com o seu momento presente. Aproveite este momento, observe seus sentidos e abra-se para uma nova visão sobre o mundo e sobre você mesmo.

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Zica Assis: Eu sou a filha do meio entre 13 irmãos, seis pra cima, seis pra baixo.

A gente cresceu na comunidade do Catrambi, perto do morro do Borel, na Tijuca, zona norte do Rio. Minha mãe lavava roupa para fora e meu pai vivia de fazer bicos.

A gente morava em um barraco de 20 metros quadrados, dois cômodos, chão de terra batida e telhado de zinco.

Nem tinha cama. Dormia tudo apertado, no chão mesmo. Apesar de todos os problemas, a energia da nossa casa era boa. Meus pais ensinavam que a gente tinha que se unir, se ajudar para superar as dificuldades. E era isso que a gente fazia.

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A minha maior alegria eram os bailes que aconteciam no sábado e domingo à tarde, perto de casa, num grande barracão de madeira azul. Como era matinê, com 7 anos eu já frequentava o baile e a comunidade toda ia. Naquela época, final dos anos 60, começo dos anos 70, a influência do soul americano era muito forte e as festas faziam concurso de melhor cabelo black power. Eu tinha um black enorme, o maior da comunidade e ganhei vários desses concursos. Eu morria de orgulho do meu belo pêlo. Ah, pêlo, é como a gente chamava o cabelo black na época.

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Apesar de fazer sucesso no baile, eu sofria preconceito na escola. Eu nunca pude sentar na frente da sala, porque o black incomodava ela. Quando ela me chamava a atenção por alguma coisa, ela não falava o meu nome, mas dizia assim: “Ô, menina, você aí do cabelo armado”. Ou ainda pior: “você aí do cabelo de arame farpado!” Não tinha a Heloísa, não tinha a Zica. Embora eu ficasse muito triste na escola, o maior problema não foi esse.

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Em casa, existia uma regra: quando a gente fazia 9 anos, tinha que começar a trabalhar. Minha mãe ficou sabendo que uma família do Alto da Boa Vista, onde só tinha mansões, precisava de uma babá pra uma criança de 5 anos, e ela me levou lá pra conhecer a patroa. Era uma casa enorme. O muro era de pedra e com um belo jardim. E logo no portão, a mulher olhou pra mim e falou: “com esse cabelo, você não entra. Tem que dar um jeito”.

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Eu fiquei paralisada por alguns segundos, sem entender o que estava acontecendo.

O que o meu black tinha a ver com tudo aquilo? Por que eu não podia apenas fazer o meu trabalho? Só acordei quando minha mãe segurou firme no meu braço, olhou pra mim e falou: “Seus irmãos precisam de comida! Vai ter que cortar o cabelo!" Cortar o cabelo, pra mim, era deixar de ir ao baile. Porque como eu ganhava os concursos eu não precisava pagar pra entrar. Sem meu pêlo eu ia deixar de me divertir. Mais do que isso, eu ia deixar de me achar bonita. Ele era a fonte da minha alegria. Eu fiquei arrasada!

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Fui pra casa e minha mãe cortou meu cabelo. Eu chorava muito. Não cortei curtinho, porque eu ainda queria me sentir menina. Aí ficou um blackzinho. Mas não…. não foi suficiente pra patroa. Eu ia ter que alisar. A maioria das mulheres da comunidade também alisava o cabelo pra trabalhar e minha mãe pagou uma vizinha fazer o meu. No quintal da casa dela, ela espalhou henê na minha cabeça. Henê é uma pasta química que alisa e colore o fio de preto. Depois, ela ainda passou um pente de ferro quente. Meu cabelo ficou totalmente liso. E eu me senti horrorosa. Ganhei um emprego, mas perdi a identidade. 

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Nessa época eu chorava muito sozinha, mas nunca na frente da minha mãe e dos meus irmãos. Eu guardei essa tristeza dentro de mim e joguei a energia toda pro trabalho.

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Aí eu virei a melhor lavadeira da região. A melhor babá. A melhor faxineira. Eu prestava atenção nos detalhes: pegava as flores no jardim e colocava num vasinho, arrumava a cama bem bonita, fechava as cortinas da sala pra não esquentar a casa. Fui fazendo isso tão bem que as patroas me amavam. Para mim, ter um trabalho era fundamental para o sustento da minha família, mas por causa dele eu deixei de me divertir durante a infância e adolescência. Nem namorado eu tive, de tanto que eu me dediquei ao trabalho. Enquanto isso, eu continuava alisando o cabelo. Todo mês! Várias vezes eu não tinha dinheiro pro henê e passava ferro de carvão mesmo no cabelo. Parece até coisa de novela, né? Mas não é, não! Era assim mesmo.

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Na minha comunidade tinha sempre alguém que aprendia uma profissão e aí ensinava o outro. Quando eu tinha 21 anos, fiz um curso de cabeleireiro na Igreja de São Camilo de Lellis, ali mesmo no meu bairro. Não era um curso especializado que nem hoje. Eu nem pensava em ser cabeleireira, eu só queria aprender a cuidar do meu cabelo.

Por que meu cabelo crescia pra cima? Por que ele era grosso? Por que ele não tinha brilho? Mas principalmente, eu queria entender porque as pessoas associavam o crespo à sujeira e a desleixo. Infelizmente, o curso não deu as respostas para as minhas perguntas. Porque, na verdade, o que ele ensinava era o alisamento que todas as minhas vizinhas faziam. Mas ali nasceu uma paixão.

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Eu acabei fazendo amizade com os fornecedores de henê e de pasta para alisar o cabelo e pedi para que eles me trouxessem não os produtos prontos, mas as matérias-primas. E aí, eles chegaram com um monte de pozinho. E eu nem sabia o que era o quê.  Mesmo assim fui pro tanque, separei uma bacia com água, uma colher de pau e comecei a misturar os pozinhos de qualquer jeito, sem seguir nenhuma receita.

Na maior inocência, apliquei aquele negócio em metade do meu cabelo, da raiz até a ponta. E… surpresa… Meu cabelo caiu todo. Foi horrível ver o meu cabelo se desfazendo na minha mão. Mesmo assim coloquei um lenço na cabeça e não desisti. 

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Os anos passaram, eu casei, tive três filhos e continuei fazendo faxina para colocar dinheiro em casa. Mas, nos fins de semana, quando tinha um tempinho, eu ia pro tanque e fazia minha alquimia. Quer dizer, eu não entendia absolutamente nada de química. Eu misturava tudo o que você pode imaginar. Pegava os pozinhos e misturava com azeite, óleo de cozinha, sabão e o que tivesse à mão.

Aí, teve uma época que o meu marido se chateou. Meu cabelo tava destruído, cheio de buraco no couro cabeludo. Eu vivia de lenço. Ele implicou muito e eu falei: “Quer saber? Vou pegar meus irmãos de cobaia”. Porque em casa era lei: os irmão mais novos tinham que obedecer os mais velhos.

E aí eu escolhi o Rogério, que já era meu parceiro, entregando as roupas que eu lavava. O cabelo dele também caiu várias vezes com as minhas misturas, coitado. Mas ele esperava crescer e deixava eu passar de novo.

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Depois de oito anos e muito cabelo estragado, eu recebi o primeiro elogio. Eu estava voltando pra casa depois de um dia de trabalho e uma prima minha me parou na rua. Ela falou que meu cabelo estava lindo! Mais do que isso, ela pegou no meu cabelo e perguntou o que eu estava passando, pra passar no dela também.

Foi incrível, porque naquela época ninguém nunca elogiava o meu cabelo, só o meu trabalho, a minha alegria… Mas não o meu cabelo. Nesse dia, quando eu cheguei em casa, corri pro banheiro e me olhei no espelho. Meu cabelo estava hidratado, com balanço e cachos definidos. Minha vida começou a mudar aí!

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Eu tinha a mistura na mão, mas ainda não sabia o que fazer com ela. Foi quando eu tive a ideia de conversar com as minhas patroas. Elas eram as únicas referências que eu tinha de pessoas estudadas. Infelizmente, nem a primeira, nem a segunda me incentivaram. Falaram que eu era louca, que deveria continuar fazendo faxina, que era o que eu sabia fazer bem. Mas a terceira me ajudou.

Ela arrumou uma profissional de química, que foi até a minha casa e viu meu passo a passo. Essa mulher transformou a minha mistura caseira em fórmula e ainda me explicou como registrar o produto. Eu sou muito grata por ela ter me ensinado o caminho das pedras. 

Eu já tinha 33 anos, ainda era empregada doméstica, ajudava a sustentar a minha casa quando consegui a patente do "Super-Relaxante". Tinha chegado a hora de arriscar. Meu marido, que é 20 anos mais velho que eu, já era aposentado. Com o dinheiro da rescisão na empresa, ele tinha comprado um Fusca 78 e trabalhava como taxista na comunidade. Era o único bem de grana da família. Convenci ele a vender o carro e investir em um salão de beleza. Acontece que o dinheiro ainda não era suficiente. Meu irmão Rogério, que já tinha sido meu parceiro de baile e cobaia de cabelo, virou meu sócio, e ele trouxe junto a Leila. Nós juntamos o que hoje seriam uns 4.200 reais. 

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A última faxina que eu fiz na vida foi numa segunda-feira. Eu sei, porque abrimos o Beleza Natural no dia seguinte, 27 de julho de 1993, lá na Tijuca. Esse dia marcou a minha vida. O salão ficava em uma casa de fundos, com uns 30 metros quadrados e mais de 100 anos. Tinha piso de cimento, pé direito alto e as paredes descascadas. Tinha café passando na hora e, principalmente, era feito para as mulheres de cabelos crespos e cacheados, coisa que o mercado não enxergava na época. Era pobrezinho e pequenininho, mas acolhedor e inovador. 

No primeiro dia eu, meu marido, meu irmão e  a Leila fomos de ônibus até lá. Quando eu coloquei a chave no portão minhas mãos tremiam a suavam. Abrimos às 9h em ponto. E no dia inteiro... Não apareceu ninguém. Nem as vizinhas que me incentivaram a abrir o salão. Pra não dizer que não entrou ninguém, a minha família chegou de noite, pra festa de inauguração. Eu fiz salgadinhos, comprei refrigerante e brindamos com espumante nacional. Eu chorei de emoção várias vezes naquele dia, porque eu me vi como profissional, como empresária, como patroa.

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Dois dias depois que a gente abriu o salão, o Itamar Franco, presidente na época, anunciou o Plano Real. Acabou a inflação e começou a ascensão da classe C. As primeiras clientes começaram a chegar. Em três meses, já tinha fila na porta. Quando o salão abria, às 9h, já tinha umas 100 pessoas esperando. A gente teve que começar a distribuir senhas e saía do salão meia-noite, uma da manhã, porque não dava conta!

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Hoje, nós somos uma rede com 38 endereços em 5 estados. Quando acontece alguma coisa que me deixa triste, eu olho para trás e penso de onde eu vim, da comunidade de onde eu saí e que agora eu consigo ajudar. Eu lembro dos concursos que eu ganhei, do meu cabelo sendo cortado, das faxinas, dos pozinhos misturados, do meu irmão deixando o cabelo dele crescer só pra eu testar tudo de novo.

Lembro da minha prima elogiando meu cabelo lindo, da patroa que me incentivou e da química que acreditou em mim. Lembro do meu marido vendendo o fusquinha dele e do meu irmão e da Leila juntando o dinheirinho suado deles pra me ajudar. E aí eu levanto a cabeça, dou um sorriso e tá tudo bem.

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Satyanatha: Chegamos ao fim da história da Zica. Não tem nada mais bonito do que aprender a ser você mesmo. A Zica insiste em ser ela. Tem uma música do Cartola que diz: “Deixe-me ir, preciso andar, ir por aí a procurar, rir pra não chorar. E se alguém por mim perguntar, diga que só vou voltar depois de me encontrar”. Conhecer a si mesmo é encontrar uma vibração que é só sua, algo especial que só você tem. O “eu” não é um ponto, mas é uma frase, uma prosa fluida. 

Quando a gente descobre e aceita quem se é, alcança o ápice produtivo. Se eu, que sou monge, tentasse ser matemático, a minha contribuição pra humanidade seria menor. A Zica era uma excelente faxineira, mas ajudou a mudar a vida de muito mais gente porque persistiu na busca pela sua identidade, até encontrar a fórmula para embelezar os seus cachos. A identidade deu a ela a sensação de pertencimento. 

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Finalização: Nossas histórias não acabam por aqui. Acompanhe semanalmente novos episódios e confira nosso conteúdo em plenae.com e no perfil @portalplenae no Instagram .


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Superstições esportivas: o misticismo entra em campo

As tradicionais crenças populares invadem também o meio esportivo. Conheça as “fézinhas” mais famosas dos jogadores e também dos torcedores!

1 de Dezembro de 2022


Nada mais brasileiro do que a cultura das “fézinhas”: uma superstição no dia a dia não faz mal a ninguém, afinal, e fortalece a confiança naquilo que não se vê. Existem as mais populares, como desvirar o chinelo pela saúde da mãe, bater três vezes na madeira para evitar notícia ruim, entrar com o pé direito em um evento importante ou evitar passar por debaixo das escadas. 

Existem as mais complexas, conhecidas como simpatias, muito popular entre as avós e que perderam um pouco de força na modernidade, mas que não morreram e não deixam de ser superstições. Dar água na concha para criança que demora a falar, por exemplo, é um clássico da infância. 

"Superstições são tão antigas quanto as religiões. No começo, as superstições foram identificadas como ‘religiões ruins’. A palavra vem do latim superstitio e significa originalmente algo como ‘ter muito medo dos deuses’, ainda na época do Império Romano. Alguém que rezava muito, tomava muito banho, era excessivamente temeroso em relação aos deuses… Isso era superstitio. Mas, com o passar do tempo, esse conceito mudou para classificar outras religiões como ruins”, conta  o psicólogo americano Stuart Vyse. Ex-professor da Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos, à revista Saúde. 

A superstição só migrou da “religião ruim” para a “ciência ruim”, como é conhecida até hoje, durante o Iluminismo. Tudo que era uma crença pautada em algo irracional era assim classificada. Vale dizer que, apesar de ser um movimento global, como por exemplo a astrologia, cada região possui as suas próprias crenças, como o mau olhado na América do Sul, ou a crença em cores e números, mais forte na Ásia. 

Mas qual é o papel da superstição no nosso cérebro? Há um conceito na psicologia chamado “ilusão do controle”, que te contamos melhor nesse artigo. “Quando você joga dados ou faz coisas que são completamente aleatórias, a superstição dá a noção estar realizando algo a mais para conseguir alcançar aquilo que é desejado”, diz Stuart. Ou seja, é uma espécie de efeito placebo cerebral, que te dá mais confiança, ainda que seja subjetivo.

Superstição dos torcedores

Mas se há um evento que reúne as maiores crendices populares, esse evento é o futebol. Seja para seu time do coração ou para a seleção, todo torcedor fanático tem um ritual para fortalecer seu time, ainda que sejam só coincidências. Em quase todas as entrevistas feitas para esse artigo, a crença de que gritar gol antes traz má sorte foi a vencedora. Em segundo lugar, entrar sempre com o pé direito em caso de ir assistir ao jogo no estádio. E, por fim, a importância que se dá à camisa usada no dia do jogo.

“Tem uma camisa do Fortaleza que eu só uso pra passear. Se eu usar em dia de jogo, o Laion perde”, conta Humberto Mota, torcedor do Fortaleza. “Não estrear blusa em jogo importante. Se está valendo vaga/título, nunca usar uma blusa nova e sem história”, complementa sua amiga de time, XX.

Essa não é uma especificidade somente dos torcedores do Fortaleza. A corintiana Carolina Marconi revelou sentir o mesmo. “A superstição básica é fazer exatamente tudo igual ao que fez no dia do primeiro jogo que o Brasil ou o time ganhou, incluindo usar a mesma roupa até o fim do campeonato/copa”, conta. 

O são paulino Rafael Teixeira diz que acorda já com a camiseta da sua “seleção”. “Eu sempre visto a camisa do SPFC no dia, mesmo antes do jogo, e fico com ela o dia inteiro. Não importa qual camiseta, só precisa ser do São Paulo”. Isso se aplica aos torcedores da Seleção Brasileira, porque o torcedor Vinicius Buono complementa: “Eu assisto todos os jogos da copa no mesmo lugar com a mesma roupa (que não lavo entre um jogo e outro)”. Ele também faz “figas” com os dedos para afastar a sorte do adversário em caso de um passe de sucesso, movimento que ele diz ter aprendido com seu pai. 

O palmeirense Marcelo Favilla vai além. Mais do que usar a mesma camisa em todos os jogos ao longo do campeonato para “acumular a sorte”, como ele mesmo define, ele ainda possui mais duas crenças muito fortes. A primeira delas é a mais importante: em dia de jogo do “porco”, deve-se comer porco antes do jogo, seja lá qual for a opção. 

“Em dia de jogo do Palmeiras, eu tenho que comer carne de porco, independente do horário e de qual opção, nem que seja um bacon no almoço, uma linguiça de noite, pernil antes de entrar no jogo ou se eu assistir em casa um salame, é tradição aqui de todos nós”, conta. 

A posição demarcada para assistir o jogo, superstição comentada em alguma das falas anteriores, marca presença para Marcelo também. “Se a gente está vendo o jogo em casa e estamos meu pai, eu e meu irmão sentados em determinado lugar, e aí sai um gol, então não podemos mais mudar de posição depois do segundo tempo, temos que ficar sentados exatamente daquela forma e a gente meio que mantém isso até o final do campeonato”, diz. Matheus Sertório, igualmente palmeirense, traz a religião para sua superstição. “Faço o sinal da cruz três vezes antes e durante o jogo, sem falta”, conta. Ele também, é claro, não abre mão de usar a mesma camisa em todos os jogos, como de praxe.

E falando em palmeirense, o seu rival histórico, os corintianos, também têm suas próprias fézinhas. Lucas Baranyi conta que, sempre quando o juiz apita, é preciso gritar “Vai Corinthians''. Já Lourdes Scarano, aos 90 anos, não abre mão de assistir ao jogo na TV, mas com o radinho ligado. “Ele é antigo e me dá sorte”, conta. “Quando o Corinthians disputou o mundial em dezembro, eu tirei a árvore de natal da sala porque era verde”, complementa Victor Basilio, revivendo a velha disputa de cores entre os times.   

Ex-corintiano e atual fã de carteirinha dos jogos da copa, Victor Cianci diz ficar tão tenso antes dos jogos, que há uma verdadeira preparação - também considerada uma superstição, já que se repete todos os jogos. “15 minutos antes do jogo eu me isolo de todos e fico ouvindo alguma música bem ‘seleção’, para entrar no clima e colocar a cabeça no jogo”. 

Misticismo profissional

Além dos torcedores, os próprios jogadores têm suas crenças também. Isso pode atuar diretamente na ilusão de controle, ou seja, se esse jogador entrar em campo após ter feito o seu ritual, ele se sentirá mais confiante, uma espécie de efeito placebo. Segundo artigo, o atacante Neymar sempre fala com seu pai e faz uma oração em conjunto antes de cada partida. Além disso, ele coloca o nome do filho e o número da sua camisa (dez) nas caneleiras e entra em campo sempre com o pé direito, toca o gramado com as mãos e faz o sinal da cruz. Como dissemos, a religião é um dos pilares de muitas das superstições. O capitão da seleção brasileira, Thiago Silva, também faz o sinal da cruz três vezes quando entra em time, além de se ajoelhar em frente à sua camisa e rezar.

O português mundialmente conhecido e idolatrado, Cristiano Ronaldo, pede para ser o primeiro a entrar em campo. Há boatos que dizem que ele não gosta de jogar sem antes cortar o cabelo. O zagueiro francês Laurent Blanc, que estava lá no 3x0 contra o Brasil na final da copa de 1998, beijava a careca do goleiro do time, Fabien Barthez antes de a bola começar a rolar. 

E ainda falando de jogadores pelo mundo, o zagueiro inglês John Terry conta que, quando jogava no Chelsea, se sentava sempre no mesmo lugar do ônibus do clube, escutava o mesmo disco e estacionava o carro no mesmo lugar no estacionamento do estádio Stamford Bridge. Ele não é o primeiro britânico supersticioso, já que o meio-campista Jack Grealish prefere estar com as canelas desprotegidas do que usar a meia e a caneleira na altura normal. Isso porque, em um ano onde a meia encolheu depois de lavar, ele entrou assim em campo e sentiu que teve sorte, como conta em entrevista. 

Há crenças que são partilhadas de forma coletiva. Como é o caso da equipe que nos trouxe o pentacampeonato em 2002. Denilson contou, em entrevista, que era preciso sempre tocar pagode no ônibus, a mesma playlist, a caminho do jogo. Inclusive, em uma das partidas, eles esqueceram de uma das músicas e voltaram rapidamente ao ônibus só para cantar o refrão. Superstição da forte!

Se você pensa que é só entre os jogadores, está enganado. Técnicos também acreditam no que parece "bizarrice" para muitos. Como é o caso do ex-técnico do time do Botafogo, Cuca, que acreditava que o ônibus que levava os jogadores para a partida não podia jamais dar ré. Luiz Felipe Scolari, o “Felipão”, usava sempre o mesmo agasalho em todos os jogos - mas resta saber se a crença se mantém depois do fatídico e inesquecível 7x1.

Um dos técnicos mais famosos por sua superstição é o Zagallo, “pai” de quatro dos nossos cinco títulos. Aficionado pelo número 13, ele chegava até mesmo a anotar em um bloco frases com 13 letras que mostrassem seu otimismo. O mais curioso é que, apesar de usar o número em tudo, há muitas pessoas que temem essa mesma combinação, tanto que, em alguns países, alguns hotéis e prédios não têm o 13º andar, nem o número 13 em assentos de teatro e plataformas de trem. Existe até a fobia do número 13, que recebe o nome de Triskaidekaphobia. 

Até mesmo a família dos jogadores entra na onda das crenças. Mãe do goleiro Cássio, titular do Corinthians, conta que, no dia que o time conquistou um de seus títulos mais importantes - o da Libertadores -, a família se manteve sentada nas mesmas posições de sempre, como já era de costume, mas ela foi além e jejuou o dia inteiro, uma espécie de “promessa” em troca do título. 

A verdade é que superstição e futebol são assuntos tão individuais e que mexem tanto com os sentimentos de uma pessoa, que é impossível questionar. Nos resta aceitar, respeitar e, porque não, se divertir com as histórias que contam por aí. Se todas as crenças juntas forem capazes de nos trazer o título do hexacampeonato, que vença a melhor!

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