Para Inspirar
A sétima temporada do Podcast Plenae está no ar! Confira a história da jornalista Silvia Poppovic. Aperte o play e inspire-se!
15 de Fevereiro de 2022
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Silvia Poppovic: Durante muito tempo, eu não via a obesidade como uma doença. Eu tive uma grife plus size e dizia: “as mulheres podem ser do jeito que elas quiserem”. E podem mesmo. O problema é que é uma hipocrisia dizer que quem tá acima do peso tá sempre bem. Gente, não é verdade. O excesso de peso pode trazer uma série de doenças metabólicas e fisiológicas. Eu negava os prejuízos da obesidade, até começar a sentir as consequências dela.
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Geyze Diniz: Conhecida por sua presença e potência feminina na TV aberta por mais de 40 anos, a apresentadora Silvia Poppovic, aos 60 anos, resolveu tomar uma atitude radical em relação ao seu corpo: fazer uma cirurgia de redução do estômago. Depois de passar uma vida com excesso de peso, ela percebeu que para ter uma velhice com qualidade e longevidade, precisava perder um peso significativo. Com quase 50 quilos a menos, ela vivenciou prazeres singelos e rotineiros na vida de quem nunca viveu com sobrepeso. Como cruzar as pernas com conforto e vestir o que queria. Mais do que isso, Silvia hoje vive a adolescência da maturidade, como ela mesma diz.
Conheça a história de autocuidado e zelo com o hoje e amanhã de Silvia Poppovic. Ouça, no final do episódio, as reflexões do especialista em desenvolvimento humano, Marc Kirst, para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e este é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
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Silvia Poppovic: Quando eu tinha 26 anos, a minha mãe morreu num acidente de trânsito. Ela era educadora, psicóloga, uma pessoa energética, inteligente e MUITO importante na minha vida. E um dia, ela saiu pra trabalhar, foi dirigindo pela Avenida Sumaré, aqui em São Paulo. Na outra direção, vinha um jovem num carro grande, em altíssima velocidade. Esse motorista atropelou uma menininha de 8 anos, perdeu o controle do volante, atravessou a ilha de 4 metros que separa os dois sentidos da avenida e pegou a mamãe que estava vindo de frente. Matou ela na hora.
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Acidente de trânsito é diferente de uma morte pra qual você se prepara. Ou que acontece num ambiente privado, dentro de casa. A minha mãe não. A minha mãe morreu no asfalto. Durante muitos anos, eu simplesmente não conseguia me deitar, porque eu sentia o que ela poderia ter sentido quando ela foi colocada sobre o asfalto. Muito forte isso. Eu nunca engoli direito essa tragédia, o jeito que ela morreu. O motorista fugiu, mas foi preso depois. Eu acredito na lei do retorno, e a vida dele não foi nada fácil depois disso. Agora… A minha também não foi.
Depois do acidente, eu comecei a trabalhar que nem uma maluca e abandonei os cuidados comigo mesma. Eu sempre fui uma pessoa acima do peso e, quando a mamãe morreu, eu simplesmente desencanei dessa preocupação. Fiquei obesa. Até os 40 anos eu fui muito gorda. Talvez tenha sido a época que eu fui mais prejudicada pelo excesso de peso.
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Eu nunca fui escrava do corpo gente, nem nunca deixei me vitimizar pela gordura. Não me incomodava ser fora do padrão. Eu namorava, me divertia, dançava, fazia tudo que tinha vontade. Mas algumas coisas eram BEM complicadas, por exemplo, como comprar roupa. Eu me apresentava num programa de TV diário e precisava de um figurino variado. No Brasil, simplesmente, não tinha manequim do meu tamanho nas marcas legais. Então eu tinha que viajar duas, três vezes por ano pros Estados Unidos. Ficava lá uns 3 ou 4 dias e comprava tudo que eu precisava, de calcinha a sutiã, calça, blusa, blazer. E eu descobri que essa moda se chamava plus size e resolvi então criar uma grife de tamanhos grandes. Durou 12 anos e foi um sucesso. Era uma maneira de fazer de um limão uma limonada.
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Aos 40 anos, eu me casei. Voltei a me cuidar mais. Aos 45, eu tive uma filha, que tem o nome de Ana, o nome da minha mãe. Só que eu engordei de novo e aí eu fui oscilando o peso na balança, até completar os 60 anos. Eu não sofria nenhum problema grave de saúde por causa da obesidade. Eu tinha colesterol e triglicérides altos, que eu controlava com remédio. Agora, o excesso de peso começou a atrapalhar a minha rotina. Eu comecei a ter dor nos lados, comecei a ter dor no joelho, nas costas, na sola do pé e passei a ter dificuldade pra caminhar. Então eu andava 2 quarteirões e tinha que me alongar. Era uma questão de mobilidade. Aí, nesse momento, caiu a ficha de que, naquele peso, eu ia envelhecer mal.
A minha filha tava com 18 anos e o meu pai tinha feito 90 anos. A Ana já estava independente, cuidando de si, estudando medicina, pronta pra andar com as próprias pernas. O meu pai tava ótimo, com a cabeça lúcida aos 90 anos e eu me perguntei: “e eu?”.
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Como eu sou muito otimista, no mínimo eu pretendo viver o mesmo tanto que o meu pai, ou mais, já que eu sou uma geração que vem depois Tendo uma filha tão jovem e uma tradição de longevidade, eu pensei o seguinte: “eu quero viver também a minha maturidade, bem, não sobreviver ela, eu quero viver com qualidade”. Agora, gorda daquele jeito, não ia dar. Eu precisava emagrecer.
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Agora, gente, a obesidade é uma doença difícil de lidar. O gordo tem o metabolismo lento. Eu sou casada com um médico endocrinologista e testei todas as dietas. Agora, tem uma hora que não adianta. Você se esforça, se restringe, abre mão de prazeres, emagrece, e depois ganha tudo de novo, às vezes até mais do que você perdeu. Todo mundo com excesso de peso sabe como é isso. Por isso, em 17, exatamente em setembro de 2017, eu decidi seguir um caminho mais radical, que foi o da cirurgia bariátrica.
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A técnica de redução de estômago era perigosa no início. As pessoas morriam na mesa de operação. Mas a ciência foi se aperfeiçoando e hoje em dia é uma cirurgia controlada, com riscos pequenos. A obesidade oferece muito mais perigo do que qualquer operação.
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A cirurgia foi feita por laparoscopia e durou uns 30 ou 40 minutos. No outro dia, já tive alta, já tava em casa. Agora, não pense que a bariátrica é café com leite. As pessoas acham que a cirurgia é simples. Ah, pronto, se você opera já fica maravilhosa, já sai perdendo peso e tá tudo certo. Não é assim não. O pós-operatório até que é tranquilo, mas o pós-vida exige uma BAITA disciplina.
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O corpo demorou a se adaptar nesse novo formato. Meu intestino ficou diferente e eu passei a comer muito menos do que eu comia. Eu como de tudo, mas em pequenas quantidades. Mas não posso comer e beber ao mesmo tempo, por exemplo, porque não cabe no estômago. Então, com o passar dos anos, eu me ajustei e essas questões sinceramente ficaram menores. A comida é importante? É. A comida é importante, mas sinceramente também, eu já comi tudo o que eu queria nessa vida.
Eu passei a descobrir outras fontes de prazer, como me vestir bem, por exemplo. Antes, era a roupa que me escolhia. Agora, o poder de decisão é meu. Com 48 quilos a menos, tudo que eu visto cai bem. É uma delícia entrar numa loja e comprar um biquíni que eu achei bonito, por exemplo. Ou usar uma calça marinheiro com um monte de botõezinhos, algo impensável antes. Não é que eu tô magra, eu tô no peso que eu tenho que ter: 65 quilos pra 1 metro e 70. É uma equação equilibrada.
Meus índices metabólicos se estabilizaram e eu não preciso mais de remédio pra nada. Tenho a saúde de uma menina. Estou in love com esse corpo que me oferece tantas possibilidades. Fazer exercício, que era um pesadelo, ficou muito mais fácil e prazeroso. Caminhar passou a ser uma coisa leve, gostosa. Hoje cruzo a perna com uma felicidade que ninguém imagina. Eu chego a dobrar duas vezes a perna. São pequenos prazeres que quem é magro não tem a menor ideia. Olha, tem uma Silvia que ficou abandonada por muito tempo e agora tá sendo mimada. Essa é que é a verdade. Eu tô me sentindo muito plena, eu estou me sentindo muito bem.
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Se eu soubesse que seria tão bom, eu teria operado antes. Mesmo assim, eu agradeço por ter tido a oportunidade de fazer essa mudança, de ter acordado pra ela a tempo e de poder curtir o meu corpo. Porque envelhecer já é complicado. Mas, se a gente tá em forma, dá pra filtrar várias doenças e problemas. Essa é a verdade.
Aos 66 anos, estou vivendo a adolescência da maturidade, cheia de projetos de vida que eu nem pensava em realizar. Eu me reinventei nas redes sociais, gente. Eu tô numa fase criativa profissionalmente, aprendendo, tentando usar a credibilidade de 40 anos de TV aberta como uma jornalista pra me comunicar com o meu público. Estou desenvolvendo uma linha de mesa, de toalhas, de pratos. Eu adoro esse universo do servir e agora eu tô entrando nele, como empreendedora. Um montão de novos projetos.
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A maturidade pode ser uma fase muito gostosa. É quando você tem tempo e dinheiro pra fazer coisas que durante a vida talvez você não tenha tido. A gente não precisa temer a velhice, precisa se preparar pra vivê-la da melhor maneira possível. Essa fase não tem só ruga e doença. Tem também a coragem de ser quem você é.
A gente pode recomeçar a qualquer tempo, basta ter curiosidade de aprender coisas novas e coragem pra dar os primeiros passos. Feliz de quem tem o insight de perceber isso e de viver na plenitude, em qualquer idade. Porque se você tem 30 anos e consegue viver na plenitude dos 30, maravilhoso, ótimo! Tem muita gente que, por neurose, vai empurrando os problemas com a barriga e sendo infeliz a vida inteira. É ou não é? A vida é muito curta pra gente não ser feliz. Chega uma hora em que ou você toma uma providência pra mudar ou entra numa posição de vítima.
Eu espero que o meu último terço de vida seja leve, com propósito, com saúde. E olha, com tudo isso eu posso sonhar com o amanhã. Espero que eu continue descobrindo o mundo e fazendo coisas que eu nunca fiz. Eu não canso de me reinventar. Eu me casei mais velha, fui mãe tardia. Aos 45 anos a Ana nasceu. Gente, 45 anos, isso era uma novidade na época. Essa mudança do meu corpo também aconteceu numa fase em que a maioria das pessoas nem pensa mais nisso.
No fundo, todo mundo sabe onde está pecando e onde pode melhorar na sua própria vida. Com um autoexame e sinceridade consigo mesmo, você pode estabelecer projetos e concretizar esses projetos. A vida fica muito melhor quando você vai ticando a sua lista de desejos. Quem consegue fazer isso tem uma existência menos frustrante, menos amarga, menos problemática. A gente tem que estabelecer as nossas metas e realmente se comprometer com elas. Eu queria me comprometer com um corpo novo. Eu estou comprometida com ele e muito feliz por isso.
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Marc Kirst: A transformação de Silvia chega colocando luz em algumas das grandes contradições que vivemos atualmente. Focamos no externo, negligenciando o interno. Nos doamos ao outro e esquecemos de nós mesmos. Buscamos o prazer do agora sem cuidar do amanhã. Em uma cultura que venera a correria, a estética e o reconhecimento externo, quantos de nós, realmente, incluímos no dia a dia o cuidado e a saúde do nosso corpo? É comum estar focado na próxima conquista profissional e esquecer que é ele, o corpo, o nosso veículo, a ferramenta, o instrumento que permite e potencializa toda e qualquer realização. E claro, quanto melhor a qualidade do nosso meio, melhor será o nosso fim e o nosso resultado.
Depois de décadas minimizando a dor e o incômodo do excesso de peso, Silvia chegou ao ponto de não conseguir andar com as próprias pernas. E com a liberdade de ir e vir ameaçada, despertou a necessidade de levar a própria saúde a sério. Autoconhecimento, honestidade e comprometimento foram a base para o nascimento de um novo nível de potência e satisfação que era até inesperado. O que antes era impossível se tornou privilégio diário. Quantos pequenos incômodos ignoramos no cotidiano, sem perceber os problemas sérios que estamos arriscando ter no futuro. Muitos precisam encarar consequências extremas pra admitir o que precisa ser feito. Te convidamos a decidir pela tua mudança, agora.
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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
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Para Inspirar
O que há em comum entre espiritualidade e arte? Paulo Vicelli explica sua relação com ambas em seu episódio
12 de Julho de 2020
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
Introdução: Bem-vindo ao Podcast Plenae, um lugar onde você encontra histórias reais para refletir. Ouça e reconecte-se.
No episódio de hoje Paulo Vicelli, diretor institucional da Pinacoteca de São Paulo, conta porque a experiência transcendental da espiritualidade é tão importante ns sua vida. A história dele representa o pilar Espírito. No final do relato você ouvirá reflexões e uma meditação guiada do monge Satyanatha, nosso convidado especial dessa temporada, para ajudar você a se conectar com o seu momento presente.
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Paulo Vicelli: Na minha primeira vez no Sudeste Asiático, visitei a estupa de Shwedagon, em Myanmar. É um templo budista com torres de 100 metros de altura cobertas de ouro e com um grande de diamante na ponta. Ali, eu vi pessoas em cerimônias de adoração ao Buda, banhando a imagem, colando folhas de ouro nas estátuas, cantando ajoelhados com a mesma fé e devoção que eu tenho pela Nossa Senhora.
E lá eu me lembro de pensar: “Será que eles não sabem que estão rezando pro Deus errado?”. E fiquei com isso na cabeça durante boa parte da viagem, até que entendi que não era sobre isso. Não tem Deus errado. Tem Deus e ponto. E Ele é único, não importa a forma que ele assuma ou os caminhos que se faz para acessá-lo. Todas as representações são formas de um único Deus, que é amoroso, que perdoa, que quer o bem e que protege, não importa se é em São Paulo ou em Rangum.
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A minha ligação com a arte e com a espiritualidade vem desde a infância e ela se deu de forma espontânea e natural. Eu era uma criança muito independente e agitada. Uma das minhas diversões, imagine, era ir sozinho ao museu histórico da cidade onde eu morava, Rio Claro, no interior de São Paulo. Isso com 7, 8 anos de idade.
No mesmo quarteirão do museu morava uma benzedeira. Eu ia na casa dessa mulher umas duas vezes por dia. O portão ficava sempre aberto. Eu entrava na sala e tinha uma roda de pessoas sentadas e uma cadeira bem no meio. Aí eu sentava nessa cadeira e a mulher passava a mão na minha cabeça, enquanto o marido dela e outras pessoas ao redor ficavam com as mãos espalmadas no ar. Ela pedia para eu rezar uma Ave Maria. Aí eu lembro só do “psi, psi, psi”, que eram eles rezando. Aquele ritual me tranquilizava e me dava paz.
Fiz o ensino fundamental todo em colégio de freiras e sempre fui muito ligado à religião católica e interessado nas religiões e no divino. Era comum que eu fosse a única criança no meio de um monte de adultos participando de eventos como grupos de oração, círculo bíblico, novena de Natal, novena de Páscoa. Eu sempre acompanhava a minha avó materna, Didi. Eu adorava e sigo fazendo as novenas até hoje.
Eu já questionei até que ponto a fé é minha ou foi influenciada pelo ambiente em que eu cresci. Cheguei à conclusão que ela é minha mesmo. Houve o estímulo inicial da família, mas eu me apropriei da fé e hoje não vivo sem ela. Minha relação com Deus é muito pessoal e íntima. Considero Deus um amigo, desses que a gente pode tocar e abraçar.
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Aos 17 anos, fui passar um ano em Brighton, no sul da Inglaterra. Tinha acabado de ser aprovado na faculdade de Relações Internacionais e me faltava vivência de mundo e, claro, falar inglês fluentemente. Tranquei a faculdade e fui morar fora, com o incentivo do meu pai. O começo foi difícil, porque eu não falava a língua, sofria com o frio, a comida e tinha muita saudade da minha família.
Acabei indo buscar refúgio em dois lugares: a biblioteca local e a igreja. Na primeira vez que encontrei a biblioteca, meio que por acaso, lembro de me sentir aliviado, como se estivesse em casa. Eu não conseguia ainda ler bem em inglês, então os únicos livros que eu entendia eram os livros de criança, além de umas poucas matérias de revistas e jornais. Nada de Jane Austen ou Henry James, por enquanto.
Já a igreja eu procurei intencionalmente. Queria sentir parte de uma comunidade, acolhido e mais próximo da família que estava no Brasil.
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Quando eu entrei nela pela primeira vez na St. Josephs Church, eu me sentei no banco e fiquei investigando com os olhos aquele novo templo. Aí apareceu uma senhora que disse alguma coisa que eu não entendi. Acho que ela falou assim: “Você quer falar com o padre?”. Aí eu devo ter respondido: “Ah, quero”. E dali a pouco veio o padre, um irlandês, com batina preta e uma cruz de ametista no peito. Não sei como a gente conseguiu se comunicar. O fato é que eu passei a frequentar a missa, meu inglês começou melhorar e eu fui me envolvendo nas atividades da igreja, tipo festa dos velhinhos, bazares, almoços…
Me senti muito acolhido por aquela comunidade. Passei a me sentir mais seguro naquele país, mais tranquilo e com a certeza que tudo daria certo. As missas e essas visitas rapidinhas a igreja apenas para dar um oi pra Nossa Senhora acalmavam a falta que eu sentia de casa.
Como ainda não tinha sido crismado no Brasil, aproveitei aquele tempo na Inglaterra para resolver isso. A crisma é a confirmação da fé cristã. E acabei recebendo o sacramento pelo Bispo da região. Como sou muito devoto de Santa Terezinha do Menino Jesus, pude incluir o nome da minha santinha de devoção no meu nome de crisma. No início, a minha escolha gerou um certo espanto, porque normalmente os homens escolhem santos homens e eu escolhi uma mulher para ser minha madrinha espiritual. E, assim, meu nome de crismado ficou: Paulo de Santa Teresinha do Menino Jesus.
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Foi na Inglaterra também que eu me liguei mais em arte. Sempre gostei e era interessado, mas eu quase não tinha acesso a esse universo em Rio Claro. Na estante de casa tinha um livro de História da Arte do Ernest Gombrich, um dos clássicos. A capa era uma reprodução do quadro A Leiteira, do Johannes Vermeer, um pintor holandês do século XVII que se tornaria um dos meus favoritos. Eu sempre folheava esse livro.
Mas fora isso, pouco se falava de arte em casa, ou ao menos, nada que justificasse um gosto hereditário. Meu pai é engenheiro e minha mãe professora. Não são pessoas super interessadas no tema. A arte foi se tornando algo tão presente que só visitar os museus nos finais de semana não bastava. Eu queria mais. Primeiro, eu tentei fazer arte. Fui para a aula de pintura, escultura, toquei piano e violão. Mas sempre fui um artista medíocre. Depois, percebi que era possível ficar nos bastidores e trabalhar com arte, mesmo não sendo um artista. De volta ao Brasil, concluí o curso de Relações Internacionais na PUC São Paulo, mas logo desisti do sonho de ser diplomata. Fui me apaixonando cada vez mais pela arte e enveredando por esse caminho, até chegar à diretoria da Pinacoteca de São Paulo em 2012.
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A arte e a espiritualidade sempre caminharam em paralelo na minha vida. No entanto, alguns momentos elas deixam de andar separadas e se juntam. São momentos super raros e sublimes, mas acontecem. Uma missa com canto gregoriano, uma igreja especial, uma pintura de um ícone russo, uma sinfonia do Mahler, por exemplo.
Em 2018, a Pinacoteca organizou uma exposição da artista Hilma af Klint, que viveu na Suécia no início do século XX. Eu já tinha visto algumas pinturas dela em Nova York anos antes e fiquei fascinado. Não sabia nada da vida da artista, aliás nem quem era ela. Fui impactado pela força daquelas pinturas que estavam em uma exposição coletiva em meio a tantas outras de outros artistas.
Para minha sorte (e para sorte de muitos visitantes que vieram até a Pina para ver a exposição), o museu organizou uma mostra com várias pinturas da Hilma e aí eu fui saber e conhecer mais detalhes daquela artista que também acreditava que arte e espiritualidade caminhavam bem juntas e que acabavam, uma por influenciar a outra.
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As obras da Hilma af Klint são misteriosas, mas um mistério que fala daquilo que vem do divino, de outra dimensão. As cores, as formas, os símbolos, tudo parece vir de uma comunicação direta com Deus.
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Quando as obras chegaram em São Paulo, eu não quis participar da montagem, porque eu gosto de ver a exposição pronta, assim como o público. No dia da abertura, recebi os convidados do museu e fiz algumas visitas guiadas com eles. Por duas vezes, ao começar a falar sobre a obra fiquei tão emocionado que mal podia continuar falando.
As pessoas me olhavam e tentavam me consolar: Tipo, “Tá tudo bem, é bonito mesmo”. Eu tinha muita vontade de ver aquele conjuntos de obras. E aquela situação toda delas estarem no museu onde eu trabalho, mexeu muito comigo. Eu não me lembro de ter me emocionado como eu me emocionei nessa exposição. Quando o evento acabou, eu até mandei rezar uma missa pra alma da Hilma af Klint na Igreja de Santa Generosa, em São Paulo.
[trilha sonora]
As manifestações culturais ligadas à religião também sempre me tocam de forma especial. Ir ao Santuário de Fátima ou na igrejinha da Nossa Senhora da Medalha Milagrosa em Paris são sempre encontros muito especiais. É como se naqueles lugares, com tantas pessoas rezando e agradecendo, Deus e seus Santos estivessem mais perto da Terra.
A Festa do Círio de Nazaré em Belém do Pará foi um desses momentos especiais para mim. Tenho uma ligação com o Pará, gosto muito daquele lugar, da comida, do clima. E ver a devoção do paraense para a Virgem me toca profundamente. Sempre tive essa vontade de ir à Belém na época do Círio, mas só consegui ir em 2018.
A fé das outras pessoas faz com que a nossa própria fé aumente. E lá é uma multidão rezando por dois, três dias. Me disseram que a energia do Círio é diferente e especial, e sabe por que? Porque as pessoas vão para lá para agradecer e não para pedir. Esse arrebatamento independe da religião: posso me emocionar com uma procissão ou com o banho do Buda, como aconteceu lá em Myanmar.
As pessoas acham estranho que eu seja religioso. Porque eu uso óculos de armação laranja, visto camisa estampada e, às vezes, uso até saia… Não é exatamente o estereótipo de um carola. Eu sempre ouço: “Mas você é super católico e é diretor de um museu?”. Como se as coisas não pudessem conviver. Mas é ao contrário! Crer em Deus e vivenciar esta fé me conforta e potencializa a minha experiência com a arte. E vice-versa.
[trilha sonora]
Satyanatha: Chegamos ao fim do relato do Paulo. A espiritualidade é a sua experiência do divino. Já a religião é o método que te leva até lá. Mas muitas estradas levam ao mesmo destino. A arte é uma dessas estradas.
Tanto a arte quanto a espiritualidade buscam a transcendência do concreto. Ambas têm muitos elementos que não são utilitaristas. Rezar um terço ou contemplar um quadro nos lembram da nossa dimensão humana superior, que está muito além da simples sobrevivência.
Enquanto a gente apenas se alimenta, se reproduz e procura abrigo, somos quase animalescos. Mas, quando a gente transcende, lembra da alma. E a conexão com a alma tem a potência de revolucionar a nossa vida. Para viver essa experiência, é preciso estar de coração aberto, como o Paulo. Ele tem uma relação tão leve com a espiritualidade que vê Deus em todas as coisas. E você? Abre seu coração para se conectar com as outras dimensões?
A meditação é algo que nós usamos para nos levar para o invisível, para o transcendente e para as outras camadas da existência. Então eu convido você a meditar. Sente-se, relaxe, em uma cadeira, em uma poltrona, em um sofá, no chão de pernas cruzadas, como você preferir. Sente-se, relaxe, feche os olhos e vá suavemente mergulhando dentro de você. Meditar é encontrar o divino dentro de você. Respire e amorosamente vá relaxando seu corpo.
[respiração profunda]
Relaxe pés e dedos do pé. Relaxe as pernas. E a cada relaxamento, vá sentindo a libertação das tensões indo embora, saindo de onde estavam aprisionadas. A ideia fica sempre presa na mente, mas a tensão fica nos músculos, nos tendões, no corpo. Liberte-se. Relaxe os quadris. Relaxe os braços e o peito. Relaxe o rosto. Inspire, expire. Inspire de novo, sinta o ar cheio de vida que entra em você. Solte o ar. E tendo relaxado completamente vá buscar em cada coisa a transcendência. O ir além, encontrar a própria essência, libertar a luz dentro de cada pensamento, dentro de cada sinto. Sinta o corpo, e tente transcender o corpo, perceba que ele é energia
[silêncio]
Sinta a mente e tente transcender os pensamentos. Perceba que eles são passageiros e que você é mais permanente.
[silêncio]
Sinta as emoções de alegria ou tristeza, tanto faz, e tente transcendê-las. A sua consciência é o que está além das emoções. Sinta o mundo e tente transcender o mundo encontrando a espiritualidade e o divino, que está presente em todas as coisas. Busque a transcendência. Respire e continuamente, a cada assunto que vier na sua mente, busque a transcendência.
[silêncio]
A busca pela transcendência leva ao silêncio, o silêncio interno. Sinta esse silêncio. Você não é os seus pensamentos. Por alguns momentos, apenas sinta o silêncio dentro de você. Perceba o alívio, perceba a plenitude de estar em seu silêncio interior.
[silêncio + respiração profunda]
Respire e gradativamente dentro do silêncio, do profundo, do mais profundo, procure sentir a presença, a sua presença. Mas também a presença divina em todas as coisas. Sinta a presença da infinita energia que sustenta toda realidade, sinta a presença divina em você, na matéria e no mundo. Sinta a presença divina, a luz em todas as coisas. Sinta a presença.
[silêncio]
Inspire e solte o ar e mais conectado com a sua espiritualidade, vá retornando suavemente da meditação, lentamente, para estar em paz, ficar em paz. Ser a própria luz, viver uma vida mais plena. Namastê.
[trilha sonora]
Finalização: Nossas histórias não acabam por aqui. Acompanhe semanalmente novos episódios e confira nosso conteúdo em plenae.com e no perfil @portalplenae no Instagram .
[trilha sonora]
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