Para Inspirar
Na quarta temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir, conheça a relação intensa de Rafael Mantesso e seu cachorro, Jimmy
28 de Março de 2021
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Rafael Mantesso: A vida toda eu me forcei a fingir um personagem que consegue socializar. Eu tenho muita dificuldade de ler os sentimentos das pessoas, de identificar as emoções. Relacionamento é um desafio imenso pra mim. Mas, com o Jimmy, eu não tenho esse problema. Eu sei o que ele tá sentindo o tempo inteiro. Eu tenho por ele talvez um amor muito parecido ao de uma mãe por um filho. Mas o Jimmy não é meu filho, ele é meu cachorro.
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Geyze Diniz: O ser humano vive para se relacionar e isso traz vínculos, pertencimento, personalidade. Mas é engano nosso achar que essas relações para serem relevantes precisam ser estabelecidas somente entre pessoas. Hoje, trazemos o lindo relato de uma relação forte, inspiradora e cheia de afeto entre uma pessoa e seu cachorro.
Vamos ouvir a história do Rafael Mantesso contando como sua relação com o Jimmy, um bull terrier de 11 anos, faz dele mais do que um simples pet, e sim, seu melhor amigo, fonte de inspiração, afeto e muito amor. Ouça no final do episódio as reflexões da especialista em desenvolvimento humano, Ana Raia, para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
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Rafael Mantesso: Quando eu me casei, minha ex-mulher e eu quisemos um cachorro. Eu pesquisei muito antes de escolher a raça. Se você jogar no Google: “Quero comprar um cachorro feliz pra minha família”, o primeiro resultado que aparece é o golden retriever. Não tem como não gostar de um golden.
Ele é maravilhoso, sem defeitos, a versão canina de uma loira correndo na praia de SOS Malibu. Mas eu prefiro bichos meio desajustados, esquisitos. Não é à toa. Vários estudos psicológicos relacionam donos e seus animais, inclusive na aparência. E eu sou um cara fora dos padrões considerados normais.
A minha pesquisa não deixou dúvida. O meu cachorro seria um bull terrier, uma mistura de buldogue com terrier inglês. Essa raça tem características que eu amo. Tem pelo curto, que é mais prático de cuidar e combina com o clima do Brasil. Late pouco, fundamental pra mim, que sou sensível a barulho. São teimosos, insistentes e obsessivos, um comportamento bem parecido com o meu.
Os bull terriers foram geneticamente criados pra brigar com bois. Eles são muito resistentes e brutos, mas nem um pouco bravos. Na verdade, eles não economizam na demonstração de afeto. Eles têm uma característica de ficar girando e pulando ao redor do próprio rabo, tipo um touro de rodeio. É maravilhoso. São extremamente leais e cúmplices. Como todo cachorro, amam mais o dono do que a eles próprios.
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A gente achou uma criadora responsável, que não faz cruzamentos consanguíneos, e escolheu um filhote macho. Eu queria colocar um nome bem estereotipado pra combinar com a fama injusta de agressivo que ele tem. Pensei em Kadafi, Shark, Killer, Massaranduba. A minha ex-mulher discordou. Ela achava que o nome tinha que ser o oposto da imagem que transmitia. Ela era estilista e adorava a marca de sapatos Jimmy Choo. Assim ele virou o Jimmy Choo.
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Durante 5 anos, o Jimmy foi o cachorro da casa.
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Ele não era meu, era do casal. A minha ex passeava com ele de manhã e eu à noite. Ela era mais ligada aos bens materiais, por isso ela não deixava ele subir no sofá, nem na cama. Ele tinha que ficar lá na varanda. A minha relação com ele começou a se estreitar quando o meu casamento acabou, depois de 12 anos de relacionamento.
Comprei a parte da minha ex do apartamento e, na partilha, escolhi ficar com os quadros. São obras sem valor comercial, mas de muito valor emocional. Meu pai pinta e me deu uma réplica maravilhosa da Guernica, do Picasso. É um quadro de 4 metros, incrível. Nessa de escolher telas, ela ficou com os móveis. Quando fez a mudança, só sobrou pra mim no apartamento uma geladeira, uma poltrona... e o Jimmy.
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Eu gosto quando eu entro num imóvel que acabei de alugar ou comprar. Dá uma sensação de começar algo do zero. Mas, no divórcio, não foi isso que eu senti. Eu tinha um apartamento cheio, que de repente ficou vazio. Era um imóvel de quatro quartos, 90 metros quadrados. A sala fazia eco. Para diminuir esse incômodo, eu ia ao supermercado, pegava caixas de papelão e espalhava pela sala.
Para Inspirar
Por que nos damos melhor quando acreditamos ter o controle da situação? Confira entrevista com a professora de Harvard, Ellen Langer
30 de Setembro de 2020
O que diferencia uma ilusão de uma crença? Para a ciência - ou melhor, para uma cientista em especial - “a palavra ilusão significa que as expectativas das pessoas são melhores do que a realidade realmente sugere a eles”. Já a crença, por sua vez, é algo natural, que se manifesta de forma genuína no sujeito.
Essa cientista é a professora de psicologia na Universidade de Harvard, Ellen Langer. A pesquisadora, que participou do evento Plenae em 2018 para falar sobre mindfulness e o poder da possibilidade de retardar o envelheciment o, volta a falar com nosso portal, dessa vez sobre o seu principal objeto de estudo há mais de 40 anos: a ilusão do controle e o seu poder sobre a nossa vida.
Eu acredito, então eu posso
De forma objetiva, a ilusão de controle é a ideia de que o ser humano acredita poder controlar uma série de eventos em sua vida, sejam eles dependente de alguma habilidade específica que pode ser aprimorada - como ir bem em uma prova depois de muito estudar, por exemplo - ou eventos que dependam de sorte, como a loteria.
A supersticiosidade simples de jogar sempre os mesmos números em jogos de azar é uma prova dessa teoria. Você não muda nem um único dígito, pois acredita que suas chances de ganhar serão maiores se manter a sua tradição - ainda que isso não seja realmente uma verdade.
O caso é que, internamente, nós não sabemos se temos mesmo esse controle em mãos, portanto, não estamos iludidos. Mas algo em você acredita ter esse controle, portanto, de alguns anos para cá, Ellen parou de pesquisar a ilusão do controle, e passou a estudar a crença do controle.
Ilusão X Crença
Imagine, novamente, um cenário de um jogo de azar. Há fatores envolvidos que não dependem do jogador, mas sim, da sorte - como jogar os dados. Mas esse jogador realmente acredita que, depois de tantos jogos, ele está aprimorando sua técnica em simplesmente arremessar as duas preciosas peças.
Ele não se ilude, pois não sabe de fato se está melhorando ou não. Mas ele acredita estar e aposta todas as suas fichas nessa crença. “Se você pensa que eu não tenho o controle, e eu penso ter o controle, você pensa que eu tenho uma ilusão, mas o que eu tenho é uma crença” explica a professora.
Eu posso me iludir achando que ganharei no carteado hoje porque os ventos que sopram estão à favor, mesmo internamente não tendo certeza disso. Mas se eu realmente acreditar que ganharei no carteado, eu moverei montanhas para que isso aconteça, praticarei noite adentro e enxergarei formas de atingir isso.
Esse é o grande divisor de águas entre a ilusão e a crença: quando se acredita ter o controle sobre algo, o sujeito se torna mais lúcido, organizado e empenhado. Basicamente, ele se torna mindful , ou seja, presente no momento, atento ativamente a si e aos que o cercam.
“Quando você acredita ter o controle, você faz escolhas, e quando você faz escolhas, você presta atenção a diferentes aspectos das suas alternativas. Você acaba captando mais informação, vê coisas que outras pessoas não veem e acaba ganhando alguma vantagem sobre oportunidades que os outros nem mesmo perceberam. Isso é o mindfulness na prática” diz a pesquisadora.
Os benefícios em acreditar
Para Ellen, acreditar que temos o controle sobre as situações é algo absolutamente positivo. “Quando você acredita ter controle, você está mais propenso a tomar atitudes e fica menos estressado. Você não precisa necessariamente ter o controle, mas o exercício de acreditar faz você se sentir bem” explica.
“Em situações onde você acredita não ter nenhum controle - tendo ou não, de fato - você fica estressado, você passa o seu tempo não tomando nenhuma atitude ou fazendo algo que seja bom para você” diz. E isso foi comprovado em alguns experimentos realizados por Ellen e seu grupo de pesquisadores: as pessoas que acreditavam ter controle, se encontravam em um lugar físico e psicológico melhor ao final.
O mesmo serve para a longevidade. Se o sujeito acreditar que possui algum controle sobre sua capacidade de chegar longe, logo, ele tomará as medidas necessárias para isso. “Se você acredita possuir algum controle sobre o seu próprio mundo, então você realmente toma atitudes por ele, sendo mais seletivo e cuidadoso. Agora se você acredita que não, nenhuma de suas ações fará diferença, então você não estará muito propenso a fazer coisas que irão resultar em uma vida longa” explica.
O mesmo se emprega na pandemia. “Se você ficar sentado três dias seguidos, preocupado em pegar o vírus, você pode imaginar todos os efeitos negativos que irá acarretar em vários aspectos da sua vida. Se no lugar disso, você fizer as coisas certas, como o distanciamento social ou usar máscaras, você presume que não irá ser infectado, e consegue tomar ações efetivas” diz Ellen.
“A verdade é que, nós não sabemos qual dos dois grupos de pessoas realmente irão se infectar. Mas aqueles que tomam alguma atitude, por sentir que possuem algum controle sobre isso, estão vivendo uma vida melhor durante a pandemia” conclui.
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