Nos tempos em que vivemos, em que mindfulness tem estado no topo das pesquisas e conversas científicas, acabamos tendendo a falar dela como uma técnica ou ferramenta desenvolvida para resolver problemas.
24 de Abril de 2018
Nesse painel, Freeman falou sobre mindfulness sob um ponto de vista pouco abordado nos estudos científicos, aproximando-o da religião ocidental. Falando sobre religião e meditação de uma maneira leve e ao mesmo tempo bastante profunda, o monge encerrou seu talk com um exercício coletivo de meditação.
A MEDITAÇÃO NÃO FOI INVENTADA EM HARVARD
Nos tempos em que vivemos, em que mindfulness tem estado no topo das pesquisas e conversas científicas, acabamos tendendo a falar dela como uma técnica ou ferramenta desenvolvida para resolver problemas. Porém, é importante lembrar de sua origem: a meditação nasceu como uma disciplina, uma prática que nos liberta dos medos e desejos de nosso ego (que nada mais é que uma palavra contemporânea para pecado).
Isso mesmo: a meditação não foi inventada em Harvard. Desde que nós, como humanos, tornamo-nos conscientes de nós mesmos e do outro começamos a desenvolver práticas semelhantes à meditação. 40.000 anos atrás já tínhamos nossos jeitos de contemplar o mundo para conviver com os altos e baixos da vida.
A contemplação é algo comum a todas as religiões. Se tem um elo que as une, por trás de tantos nomes, instituições, dogmas e sistemas de crenças separados é este estado pleno, de busca de sabedoria por meio da contemplação. A experiência de silêncio, solidão e simplicidade que reside nesse estado é comum a todas as pessoas.
Ela está no coração psicológico e espiritual de nossa consciência como humanidade.
O estado de contemplação nos traz à meditação e seu poder de transformar o jeito como olhamos para os problemas e nos relacionamos com as situações da vida.
MEDITAÇÃO COMO APRENDIZADO CONTÍNUO
É interessante lembrar que o conceito de mindfulness surgiu dentro de um contexto específico na filosofia budista. Nesse contexto, esse estado é apenas um dentre alguns estados de preparação que acontecem durante a meditação. Mas meditação como um todo não é apenas ficar presente em si mesmo – é transcender a si mesmo.
Quando meditamos, nos conectamos e encontramos dentro de nós uma pessoa com maior compaixão, capaz de escutar, reconciliar e perdoar. É importante não meditarmos com o intuito de reorganizar conceitos e sair do outro lado com soluções. Meditação é mais sobre entrar dentro de uma experiência que nos oferece sabedoria, uma visão mais ampla e contato com a verdade.
Por isso, não devemos praticar a meditação como uma técnica destinada a alcançar algum resultado ou meta, mas sim como um aprendizado contínuo. Nesse sentido, a meditação é parecida com a prática de música ou de esportes: uma atividade prazerosa que nos envolve e na qual estamos constantemente aprendendo e evoluindo.
No cristianismo, meditação é chamada de oração.
E existem diferentes tipos de orações: em palavras, leituras, danças, cantos, ou mesmo os rituais que acontecem dentro das igrejas. O importante, para aprofundar o sentido contemplativo da oração, é ela não virar uma atividade repetitiva – e sim uma jornada, um relacionamento que está sempre acontecendo e que vai evoluindo a cada nova conversa.
Para os cristãos, Jesus deixou ensinamentos bem claros sobre a maneira correta de orar (ou meditar): “vá até seu quarto privado, feche a porta e ore para seu Pai que está naquele lugar secreto. Não faça como os pagãos, que acham que quanto mais falam, mais serão ouvidos”. Também disse que “Deus sabe o que você quer antes de pedir. Não se preocupe com o que vai comer, onde vai dormir e o que vai vestir.
Olhe para a beleza da natureza ao seu redor e como tudo funciona”. Isso tudo é um ensinamento, um convite para a contemplação.
O cristianismo ensina um método simples de oração: uma oração que vem do coração. Teologicamente, na oração cristã devemos encontrar Cristo dentro de nós e fazê-lo emergir.
Nesse caso, é o espírito que deve orar dentro de nós, muito mais profundamente que qualquer palavra ou conceito.
Este movimento em direção ao silêncio, à interioridade e à equanimidade deveriam sempre ser relembrados. Pois a mente de Cristo é esse senso de quietude. Essa quietude da mente é que devemos tentar atingir no meio da vida diária. A quietude, como uma combinação entre contemplação e ações guiadas por ela, deve ser o centro de todas as atividades de nossa vida.
MARTA E MARIA E O QUE ELAS TÊM A NOS ENSINAR EM TEMPOS DE MULTITASKING
No Evangelho de Lucas, uma passagem fala de Marta e Maria, duas irmãs que estão em casa e veem Jesus se aproximando, com seus amigos. Marta os recebe e logo começa a cuidar da casa, distraída por muitas tarefas. Maria, mais contemplativa, fica aos pés de Jesus, ouvindo suas histórias.
Algum tempo depois, Marta, estressada, vai até o quarto onde Cristo está e diz “Mestre, não vê que estou fazendo tudo sozinha? Fale para Maria me ajudar!”. Jesus responde: “Marta, Marta, você está ansiosa e preocupada com tantas coisas, mas só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e isso não será tirado dela”.
Se analisarmos esta história friamente a resposta pode até não parecer justa a um primeiro olhar.
Mas a chave é analisarmos as duas personagens fazendo uma relação com os dois momentos de mente que nós temos dentro de cada um: o ansioso e o contemplativo. Jesus era um professor da contemplação e nos deixou a mensagem de que “ser” vem antes de “fazer”.
Primeiro, devemos ser. Depois, fazer.
Essa é uma história prática que nos ajuda a reavaliar o balanço, harmonia e equilíbrio das nossas vidas, constantemente escolhendo prioridades erradas e sentindo estresse do jeito errado. Há milhares de anos atrás, muito antes do primeiro smartphone ser lançado, Cristo já recomendava que o melhor para viver bem era não nos preocupar tanto com as distrações da vida, mas sim ficar presente no momento e contemplar.
Na terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir, conheça a jornada de luto e autoconhecimento de Veruska Boechat
22 de Novembro de 2020
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
[trilha sonora]
Veruska Boechat: Meu marido foi o meu maior garoto propaganda. Por causa dele, todo mundo acha que eu sou a pessoa mais doce da Terra. Doce… É como ele me chamava. Ele me colocou esse apelido quando a gente se conheceu. Nunca mais parou de me chamar assim. Ainda hoje me param na rua e perguntam: você que é a Doce Veruska? Sou eu. Doce Veruska Boechat.
[trilha sonora]
Geyze Diniz: Não é por acaso que o apelido dela é "doce". Uma mulher que mistura ternura e garra, que possui uma trajetória de força de vontade e resiliência. Compartilhar a história da jornalista Veruska é compartilhar uma história de amor, de discernimento assertivo e sabedoria instintiva. Uma história de conexão entre mente e coração. Lembrar do passado e ressignificar o presente é um pouco do que ela compartilha com a gente. Ouça no final do episódio as reflexões da professora Lúcia Helena Galvão para ajudar você a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
[trilha sonora]
Veruska Boechat: Todas as pessoas próximas da gente, quando viram a notícia da morte do meu marido, o jornalista Ricardo Boechat, achavam que eu também estava naquele helicóptero. Se o acidente tivesse acontecido em outros mil eventos que ele fez, eu certamente estaria junto. Porque eu sempre acompanhava meu marido em compromissos realizados durante o horário de aula das nossas filhas, a Valentina, na época com 12 anos, e a Catarina, que tinha 10. Mas da mesma forma que era pra eu ter perdido meu marido naquele horroroso dia 11 de fevereiro de 2019, não era pra eu estar no helicóptero.
[trilha sonora]
Na véspera, um domingo, ele me disse que teria um compromisso na segunda. Mas nem lembrava direito o que era, pra quem, onde, a que horas iria ou quando voltaria. Era a cara dele não saber nada da agenda. Ele era brilhante, mas muito muito desorganizado e só sabia funcionar daquele jeito confuso. E me confessou: não queria ir.
Ele apresentava o programa na rádio BandNews FM de manhã e o Jornal da Band na TV, à noite. Eu nunca gostei que ele assumisse muitos outros compromissos além desses. Achava que ele se desgastava demais e passava pouco tempo em casa. Mas já que ele aceitava participar desses eventos, dar palestras, esse tipo de coisa, eu ia junto pra ajudar. Porque, se eu não fosse, eu sabia que ele daria atenção pra todo mundo e não almoçaria, por exemplo.
Qualquer um que já foi casado ou é casado sabe que nem todos os dias são maravilhosos. Tem dia que você briga e o outro sai de casa bravo ou triste. E uma das coisas pelas quais eu sou mais grata é que naquela segunda-feira, ele se despediu de mim como se a gente fosse namorado. Eu nem sei, nem quero saber como é sofrer uma perda dessas que eu sofri sem estar bem com a pessoa. Por isso ficou claro pra mim que é preciso viver cada dia sem deixar arestas pra aparar, contas pra acertar, coisas por serem ditas.
[trilha sonora]
Naquele dia, ele beijou a mim e as meninas e foi pra rádio, às sete horas da manhã. Esse carinho da manhã, com elas acordadas, foi uma conquista nossa. Há alguns anos atrás, na hora de renovar o contrato com a Band, ele abriu mão de aumento de salário por meia hora a mais em casa. Começaria o programa às 7h30, em vez de 7 horas. E com esse tempo ele passou a pegar as meninas acordadas e se despedir delas antes de sair pra trabalhar.
O sucesso profissional, ele é uma pegadinha. Muitas vezes você é seduzido por ele e acaba não tendo tempo para outras coisas importantes da vida. A gente sempre teve esse cabo de guerra. Eu dizia: de que que adianta ter tanto reconhecimento, ajudar tanto os outros e não aparecer em casa?
[trilha sonora]
Naquela segunda-feira, eu acordei de manhã, planejei a minha vida como se fosse um dia normal. Eu decidi realizar um sonho da nossa mais velha, a Valentina, que era ir ao show da cantora Ariana Grande.
Depois de comprar os ingressos eu tomei banho e, quando eu saí, eu vi no Instagram da Bandnews FM um post sobre a queda de um helicóptero. Eu liguei a TV, comecei a ligar pra algumas pessoas do evento pra onde meu marido tinha ido, em Campinas. Uma pessoa da produção me disse que tava tentando falar com o piloto… Me deu um frio na espinha.
Eu liguei pra um amigo que tem helicóptero. Eles têm grupos de Whatsapp e eles sempre sabem de quem é o helicóptero e quem tava dentro. Ele ficou de me ligar de volta em 5 minutos. E obviamente não ligou. Telefonei pro Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Band, e ele me disse que tava tentando falar com o Boechat. E tentou me acalmar: “Veruska, a gente sabe que ele não atende mesmo”.
Eu sentei na minha cama e liguei pros dois irmãos do meu marido, que moravam em São Paulo, naquela época. Falei: “Vem aqui agora, pelo amor de Deus”. Ninguém telefonou pra me dar a notícia. Só começou a chegar gente, gente e mais gente na minha casa. Durante uma hora, eu fiquei bem perdida, sem querer acreditar, achando que alguém ia me contar que não era verdade.
Eu estava em negação. Mas, pra quem quiser saber, o pior momento da minha vida, naquele dia horroroso, não foi descobrir sobre a morte do meu marido, esse foi o segundo pior momento. O pior momento foi dar a notícia pras minhas filhas.
[trilha sonora]
Eu mandei buscar as meninas na escola, sem saber como contar que o pai tinha morrido. Mas eu sou uma pessoa privilegiada e eu pude pedir orientação a uma psicóloga. Quando eu falei pra ela por telefone que eu pensava em conversar com as meninas no próprio quarto delas, ela falou: “Não, no quarto não”.
Até passar pelo luto, eu não me dava conta de que a cena do momento em que você recebe uma notícia como essa nunca mais sai da sua cabeça. Ainda mais sendo uma criança. Ainda mais perdendo o pai. Ainda mais de maneira trágica. Então, eu decidi levar as duas pro escritório, que é um lugar que a gente não tem a obrigação de ir toda hora.
Há alguns anos, eu reuni um grupo de amigas e crianças na minha casa pra tomar a vacina da gripe. As pessoas iam uma por uma no escritório, onde uma funcionária da clínica aplicava a vacina. No dia da morte do meu marido, quando as meninas foram tiradas no meio da aula, chegaram em casa, viram aquele monte de gente e foram levadas pro escritório, quando eu sentei pra contar sobre o acidente, uma delas falou: “Já sei, mamãe, é pra tomar vacina, né?”
[trilha sonora]
A comoção nacional causada pela morte do meu marido me surpreendeu. A gente sabia que ele era querido, conhecido e que a opinião dele repercutia muito, pro bem e pro mal. Mas não sabia que ele era tão amado.
[trilha sonora]
Eu tenho certeza que, onde quer que ele esteja, ele ficou muito feliz. Meu marido nunca quis velório, sempre teve pavor. Só fiz porque foi caixão fechado. Mas principalmente, porque ele se realizava na vida fazendo bem para os outros e eu tenho certeza de que merecia todas aquelas homenagens.
A cerimônia foi no Museu da Imagem e do Som, o MIS. As pessoas diziam pra eu ficar numa sala reservada, pra ter privacidade, pra não ficar lá no meio da multidão recebendo abraços de cada um. E eu pensava: pra quê? Era muito melhor eu receber o abraço de uma pessoa que saiu de casa para me dar carinho. E eu descobri que a simples presença é mais importante do que qualquer coisa que se diga. As pessoas ficam aflitas em saber o que falar. Na verdade, quanto menos você falar numa hora dessa, melhor.
[trilha sonora]
Por sorte, aparecem um anjos na vida da gente. Pra mim, um deles foi a minha amiga Rosana Saad. Dois ou três dias depois da morte dele, ela disse que precisava me entregar uma coisa e chegou com uma caixinha de um brinde de carregador de celular da Band. Quando eu abri… quase morri. Dentro estava a aliança do meu marido.
Eu não tinha esperança de recuperá-la. Nas circunstâncias em que as pessoas disseram que aconteceu o acidente, pensei que nem a aliança eu ia conseguir de volta. Eu não enterrei meu marido. Eu não o vi morto. Aquele anel significa muita coisa. Pra mim, era um pedacinho dele.
[trilha sonora]
O luto público, como o que eu vivi, ele tem vantagens. Eu não precisei cancelar uma consulta, uma aula das meninas, nada. Mas também ele tem a desvantagem de falar sobre isso o tempo todo. Quando eu finalmente conseguia levantar, me arrumar e botar o pé pra fora de casa, as pessoas vinham me dizer: “eu era fã dele, eu adorava ele…” Eu sei que é por amor, mas eu estava exausta de chorar e só queria poder falar: “Nossa, tá bonito o dia”.
As primeiras semanas e meses foram de um vazio imenso. O pior horário, por incrível que pareça, não era a hora de dormir, mas o almoço pra mim. Por exigência minha, meu marido almoçava em casa. Era um momento só nosso, porque as meninas comiam na escola.
A cadeira vazia escancarava o buraco que eu sentia por dentro com a ausência dele. No primeiro mês, eu até tinha a companhia da minha mãe, da minha irmã, do meu irmão, da minha sogra. Mas ninguém é ele. Eu passei a comer fora, com amigas ou sozinha mesmo.
Além dessa mudança na rotina, a fé me ajudou demais. Aprendi não só com a minha, mas com a fé dos outros. Tenho várias amigas judias e fiquei encantada com uma tradição chamada Shivá. Nos primeiros sete dias de luto, não é pra uma pessoa resolver nada prático, nem cozinhar, por isso os judeus levam comida pra quem perdeu alguém. O enlutado pode se dedicar a chorar as suas lágrimas e sofrer a sua dor.
Voltar a trabalhar fora, depois de 14 anos afastada da carreira de jornalista, também ajudou a ocupar a cabeça. Quem olha pro enlutado não vê que, além da tristeza, os boletos chegam normalmente. Você perde o seu marido num dia, no outro você tem que ir ao cartório pegar a certidão de óbito. Ninguém me disse isso. Eu tive que aprender na marra.
Eu tinha tantas tarefas burocráticas pra resolver, que eu não conseguia mais dormir direito. Um dia, peguei um desses caderninhos tipo moleskine, de brinde, e comecei a anotar tudo que eu precisava fazer. Assim eu dormia melhor, porque eu sabia que na manhã seguinte eu não teria esquecido o que eu tinha pra fazer. E no dia seguinte, mesmo sem vontade nenhuma, eu escolhia a tarefa mais idiota tipo “trocar a titularidade da conta de luz” e riscava da lista. Resolver uma coisa simples dessa me dava um pouquinho mais de força pra ir em frente.
[trilha sonora]
Eu queria que todo mundo tivesse a oportunidade de ter um amor na vida, como o que eu tive, e que lidasse com a questão da morte de uma forma tão nobre como o meu marido. Como ele era 21 anos mais velho do que eu, ele sempre falou de morrer antes de mim. Claro que ninguém imaginava que seria tão cedo, nem de uma maneira tão trágica, mas ele deixou claro e por escrito, o que ele queria caso alguma coisa acontecesse. Eu tenho na minha cabeça muito nítido tudo o que ele esperava pra mim depois da morte dele. Isso é libertador.
Somos uma sociedade que não fala sobre o luto, porque ninguém quer nem imaginar a possibilidade de morrer. Mas falar sobre a morte ajuda pra quem fica. Então eu digo pras pessoas: conversem sobre isso, digam o que esperam.
[trilha sonora]
Eu ainda me me considero uma pessoa enlutada. Mas eu já consigo respirar sem aparelhos. Dizem que quando faz dois anos da morte da pessoa que a gente ama, a saudade fica maior que a dor. Eu tô esperando essa data. Enquanto isso, eu deixo o tempo fazer a parte dele. Eu aprendi que o luto não é linear: você tá péssima, depois fica média e depois fica boa pra sempre. Não é assim. Um dia você tá bem, no outro você tá mal, no outro você pode ficar bem de novo.
Eu aprendi também que o luto não precisa ser congelante. A minha vida não parou. Às vezes eu posto uma foto com o Boechat e alguém comenta: “Chega, deixa ele descansar, para de falar dele”. Eu nunca vou parar de falar dele. E isso não quer dizer que a minha vida não esteja andando pra frente. Ela está andando, tenho com ele duas filhas que ele amava profundamente, que são a razão da minha vida e que dependem muito de mim. Nosso amor vive nelas.
[trilha sonora]
Lúcia Helena Galvão: Eu não preciso dizer para vocês que a prova que a Veruska viveu é uma das mais fortes e doloridas que o ser humano possa viver. E, no entanto, ela não perdeu a cabeça. Soube trazer os seus sentimentos para essa espécie de centro de tratamento interno, que todos nós temos para serem cuidados e curados com muito carinho. Mas ao mesmo tempo disparou uma série de ações e reflexões perfeitas.
Primeiro, foi capaz de pensar. Era pra ter sido hoje e não era para eu estar lá. Que bom que podemos nos despedir com carinho. Logo depois, ela procura uma psicóloga, orienta-se da melhor maneira possível e dá a notícia às crianças da forma mais apropriada. Tem paciência com a necessidade das pessoas de um velório público e com a forma desajeitada de quererem consolá-la que alguns usam, apesar de sua boa vontade.
Aliás, saber o que dizer nestas horas nunca é fácil. Então, ela escalona os compromissos e necessidades que vão surgindo depois disso, de uma forma que fiquem suportáveis e possíveis de serem cumpridos. Muda a sua rotina para amenizar a dor, alimenta a fé, volta a trabalhar. Chora, quando é necessário chorar, mas se mantém em movimento. E você pode dizer: nossa, mas que rotina perfeita, impecável.
Mas como alguém que está sofrendo tanto pode pensar dessa maneira, com tanta lucidez. Não só pode como deve. Isso é também um ato de amor para com aquela pessoa que a gente perdeu, preservando o seu mundo e para com aqueles que ficaram, preservando os seus sentimentos. E mesmo para com aqueles que ouvem essa história, para que percebam que dá para passar pelas situações mais difíceis sem se desumanizar, perder a cabeça, sem deixar que o mal que ocorreu transborde de suas fronteiras e provoque mais mal ainda.
Mesmo ainda convalescente de tanta dor, a Veruska consola e aconselha. Trata-se de uma excelente e belíssima reflexão, um presente da Veruska para todos nós, um ato de generosidade.
[trilha sonora]
Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
[trilha sonora]
Utilizamos cookies com base em nossos interesses legítimos, para melhorar o desempenho do site,
analisar como você interage com ele, personalizar o conteúdo que você recebe e medir a eficácia de nossos
anúncios. Caso queira saber mais sobre os cookies que utilizamos, por favor acesse nossa
Política de Privacidade.