Pessoas que são lugares

Nascemos e crescemos em um seio familiar específico que pode ou não ser um bom lugar para se estar, mas que ainda assim, será sempre um lugar.

30 de Dezembro de 2024


Nascemos e crescemos em um seio familiar específico que pode ou não ser um bom lugar para se estar, mas que ainda assim, será sempre um lugar. Ao longo da vida, vamos criando outros pequenos lugares, pessoas escolhidas a dedo, seja por afinidade ou pelas circunstâncias, mas que vão se tornando uma espécie de endereço para nós, uma bússola que nos aponta para onde ir.

Ao lado dessas pessoas-lugares, encontramos de tudo um pouco. Risadas para enfrentar os muros que se impõe ou apenas para eternizar uma piada. Um abraço apertado que te puxa para dançar ou para partilhar um silêncio repleto de palavras invisíveis. Uma crítica que te catapulta para uma versão ainda melhor de si mesmo. E sobretudo, nos encontramos constantemente porque, quando nos perdemos de nós mesmos, elas nos guiam de volta.

Essa companhia nos oferece ainda várias mãos disponíveis para erguer sonhos desses que só tijolo e argamassa não dão conta. Que conduzem a lugares mais altos e seguram se a queda for iminente. As ideias coletivas que, quando se somam, possuem a força de uma onda e a sensação impagável de pertencimento e conquista quem só quem cruza a linha de chegada acompanhado é capaz de sentir.

Esses laços valiosos são o que costuram a vida com um fio de ouro quase imperceptível, mas que mantém tudo atado. Entrelaçam, ajustam, apertam, aproximam. Não há tchau capaz de desatá-lo porque, ainda que se perca o contato, já virou parte daquilo que compõe a sua própria história.

Essa crônica, afinal, é sobre as relações e sobre como elas fazem com que a trajetória tenha mais cor e nunca perca o sentido. Esse não é um texto sobre as portas que se fecham, mas sim sobre as janelas que se abrem quando somos fortalecidos pelos que caminham ao nosso lado.

Só é possível acreditar em recomeços quando não se está sozinho e cultivar esse pilar são os votos mais sinceros da equipe do Plenae, que acredita com a força de um mantra no que o poeta cantou: é impossível ser feliz sozinho!

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Para Inspirar

A amizade em tempos de pandemia

Hoje é o dia do amigo! E o distanciamento social nos fez ver na prática o que estudos já concluíram há tempos: é preciso ter amigos, mas na medida certa

20 de Julho de 2021


Dia 20 de julho comemora-se o Dia do Amigo. Amizade é um tema amplamente explorado pela cultura pop. Prova disso é o sucesso de séries como Friends, que celebrou recentemente um episódio extra , 17 anos após o seu fim. Os estúdios Pixar de animação também decidiram trazer o tema à tona com o mais novo longa-metragem, Luca , onde a união entre dois meninos é o tema central do enredo.

Há ainda clássicos como Gilmore Girls , que trata da amizade especial entre uma mãe e uma filha, ou a sitcom premiada The Office , que traz à luz as amizades no ambiente de trabalho e, por fim, há ainda o Método Kominsky , que retrata a amizade na terceira idade. Em livros, o tema também não para por aí. A tetralogia Amiga Genial, da italiana Elena Ferrante, foi uma febre tão grande que se tornou também série .

Os exemplos, é claro, são infinitos. O fato é que o tema do companheirismo, esse elo tão potente que nos une, foi investigado e reinvestigado e filmado e escrito - de tão potente que é para nossas vidas.


O lado bom das amizades

Lembra do estudo mais antigo da história, iniciado em 1937 pela Universidade de Harvard e ainda em curso? Já falamos dele por aqui, mas o que não dissemos é que, para estudar saúde humana - seu tema central - é preciso necessariamente falar de amigos e sua influência em nossas vidas.

Voluntários de diferentes idades e perfis precisam responder ao mesmo questionamento: o que faz uma pessoa ser saudável? Alimentação, rotina e até riqueza são respostas que esperamos, mas o que mais se ouve são “amigos”. Para os avaliados, ter uma vida social e boas aptidões sociais é um dos principais indicadores de bem-estar na vida de um ser humano.

Não por coincidência, é um dos fatores apontados como responsáveis por uma vida longa, nas chamadas blue zones - que também já falamos neste artigo e neste também. Por lá, além de fatores como cidades mais ativas e maior acesso a saúde, há também comunidades muito fortalecidas entre si, que operam prosperando na vida desses moradores.

Ainda segundo pesquisadores da Universidade Duke, pessoas com menos de 4 amigos oferecem o dobro de propensão a terem doenças cardíacas, já que a ocitocina - hormônio ligado ao bem-estar e muito estimulado em interações sociais - age diminuindo a adrenalina e, por sua vez, o estresse e todos os males que com ele vem. Esse processo fisiológico fica ainda mais intenso quando trata-se de um novo amigo, mas sabemos que fazer novas amizades vai se tornando mais difícil com o passar da vida e suas novas responsabilidades.

Tempos pandêmicos

Investigamos por aqui o que esperar dos relacionamentos pós-pandemia . Sabemos que, com o distanciamento social, a solitude e o silêncio se intensificaram, e isso, é claro, reflete em nossa capacidade e disposição para nos relacionar. A notícia boa é que, aos que ficaram ainda unidos, o elo nunca esteve tão fortalecido.

A notícia ruim é que, evidentemente, podemos ter perdido algumas conexões nessa trajetória. “O coronavírus nos forçou a desenhar o mapa de nossas conexões. Neste novo atlas, a noção de amizade resplandece como uma pedra antiga. Sabemos que é muito importante e também sabemos que é um mistério”, poetiza a jornalista Mar Padilla em artigo para o El País.

Um estudo da Universidade de Oxford cravou há quase 20 anos: é impossível administrarmos muitas amizades. Guiada pelo zoólogo, antropólogo e psicólogo, Robin Dunbar, a pesquisa concluiu que há “uma correlação direta entre o número de neurônios neocorticais e o número de relações sociais que podemos administrar”.

E ele vai além: em uma nova e mais recente atualização, ele crava que os humanos só conseguem administrar verdadeiramente 5 amizades próximas. Isso porque criar e manter esse elo dá muito trabalho, tanto no tempo despendido — 40% do nosso tempo social é dedicado somente a eles— como na atuação dos nossos mecanismos cognitivos.

Sendo assim, o vírus de fato elucidou algumas velhas questões, mas não mudou tanto no panorama geral. “Algumas amizades individuais podem desaparecer e novas podem ser criadas, não tanto por causa das bolhas e distâncias sociais, mas por não podermos ver alguém com a frequência que costumávamos ver. As amizades permanecem estáveis enquanto vemos a pessoa com a frequência necessária”, diz ele ao El País.

Se é impossível ser feliz sozinho, segundo Tom Jobim, é igualmente impossível investir em muitas conexões simultaneamente, sobretudo em tempos onde estamos com a energia mais calculada. Afinal, qualidade e não quantidade de amigos é o que verdadeiramente exerce efeito em nosso bem-estar, como contamos aqui .

Esteja atento às conexões de qualidade, e aprenda como manejá-las e não as perdê-las de vista. Mais vale um bom amigo do que dez outros colegas. Você está atento?

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