Para Inspirar
Como esse trabalho invisível e não-remunerado é o responsável por levantar um evento de tamanha magnitude
8 de Dezembro de 2022
O trabalho voluntário é um dos caminhos para se atingir mais propósito na vida e levar à longevidade, como já te contamos. Há diferentes tipos de trabalho e diferentes benefícios para quem o realiza. Ele pode ser feito por meio de empresas, por exemplo, ou uma iniciativa individual de uma pessoa.
Há ainda os trabalhos voluntários com foco na realização de um projeto a nível nacional. Na equipe de transição de um novo governo, como o que os brasileiros estão testemunhando, a grande maioria de quem compõe esse grupo é de pessoas que não recebem nada pelo trabalho se não satisfação pessoal.
E, como estamos na copa, por que não falar dos voluntários que ajudam esse evento de magnitude internacional a acontecer? Entenda mais sobre ele a seguir!
O chamado da Fifa
No dia 22 de março de 2022, ou seja, cerca de 8 meses antes do evento, a FIFA começou a convocação para as inscrições dos voluntários que quisessem ajudar na Copa. O lançamento do Programa de Voluntariado, como contou o jornal Lance, foi marcado por um evento no anfiteatro de Katara, em Doha, cidade que sedia todos os jogos do torneio neste ano.
Cerca de 3.500 candidatos em potencial foram recebidos por convidados especiais, incluindo Sua Excelência Sheikha Hind Bint Hamad Al Thani, Sua Excelência Salah Bin Ghanem Al Ahli, Ministro do Esporte e Juventude, Sua Excelência Hassan Al Thawadi, Secretário Geral do Comitê Supremo para Entrega e Legado, o Presidente da FIFA, Gianni Infantino, e a Secretária Geral da FIFA, Fatma Samoura.
Os interessados deviam se inscrever no site oficial da FIFA montado somente para isso, sem distinção de origens e com qualquer nível de experiência. As inscrições estavam abertas para todos os países, sendo que falar inglês era um requisito eliminatório e algum conhecimento do idioma árabe era considerado um trunfo.
Também era preciso ter no mínimo 18 anos ou mais em 1º de outubro de 2022, sem limite máximo de idade. Ter disponibilidade para compromisso no mínimo de dez dias durante o torneio era também outro pré-requisito, e inscrições em grupo não eram permitidas - somente individuais. Os candidatos pré-selecionados participaram de uma avaliação e de uma entrevista e, quando selecionados, todos receberam treinamento, além de um uniforme adidas de edição limitada, uma refeição durante o turno e acesso gratuito ao transporte público.
O desenrolar do trabalho
O torneio, que teve início em 21 de novembro, contou com a participação de 20 mil voluntários de todas as partes do planeta, trabalhando no centro das operações do evento, fornecendo suporte em 45 áreas funcionais em locais oficiais e não-oficiais como estádios, locais de treinamento, aeroporto, zonas de fãs, hotéis e centros de transporte público.
O aumento no número de voluntários apresenta um crescimento estrondoso, seja porque pareceu mais interessante para muita gente, seja porque essa copa em específico preciso mesmo de mais mão de obra. Para se ter uma ideia, como conta esse artigo, em 2010, a FIFA recebeu 64.500 aplicações para preencher um total de 15 mil voluntários. Na última copa, ocorrida na Rússia em 2018, foram mais de 17 mil voluntários, escolhidos entre 170 mil candidatos.
O programa procurava especialmente “solucionadores de problemas confiáveis com habilidades interpessoais e capacidade de aprender rapidamente'', com habilidades de comunicação, liderança, linguagem e trabalho em equipe. Em troca, os participantes recebem oportunidades, habilidades e ferramentas para apoiar o torneio, além de estarem em contato direto com a cultura local e muitos contatos importantes para o seu futuro.
Isso sem mencionar a satisfação pessoal de participar de um evento dessa magnitude, bem como os benefícios inerentes ao trabalho voluntário, seja ele qual for, mencionados no começo deste artigo. Outros atrativos para os fãs de futebol, por exemplo, é a possibilidade de conhecer de perto grandes ícones mundiais do futebol, além de ter em seu currículo o feito de ter trabalhado nesse evento.
“Participar do programa de voluntários da FIFA significa fazer algo memorável”, explica a Federação Internacional de Futebol em seu site. “Eles vão criar memórias que durarão a vida inteira para fãs, jogadores, mídia, Catar e o mundo — bem como para si mesmos”.
Orgulho verde e amarelo
Um time de cerca de 300 brasileiros vem ajudando a construir o torneio no Catar nas mais diferentes funções e em cargos de liderança, como conta o artigo no jornal Estadão. Alguns vivem por lá desde antes de o emirado ser escolhido como país-sede do Mundial, enquanto outros chegaram recentemente.
O Catar também conta com o suporte de empresas 100% brasileiras. A Arena, que fornece mão de obra especializada nos setores de realização de serviços, como estruturas para a mídia e segurança, por exemplo, e a Pretorian Logística, empresa brasileira que possui uma frota de mil veículos de luxo (carros e vans) para o transporte de clientes durante o Mundial, são bons exemplos.
Nossa seleção, como de praxe, é uma das favoritas para ganhar o mundo. Sempre é bom lembrar que somente o nosso país conta com 5 estrelas na camiseta, mas o que queremos mesmo é a sexta. O hexa vem aí? É o que estamos aguardando!
Para Inspirar
A sétima temporada do Podcast Plenae está no ar! Confira a história do empreendedor Eduardo Foz. Aperte o play e inspire-se!
27 de Fevereiro de 2022
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
[trilha sonora]
Edu Foz: Existe um desenho animado que se chama “O Fantástico Mundo de Bobby”. É sobre um menino com muita imaginação. Eu me identifico com esse personagem e brinco que vivo no “Incrível Mundo de Foz”. Quando eu entro na minha bolha, com meus 100 filhos, a vida lá fora desaparece. No meu universo, não existe diferença entre humanos e outras espécies. Todos os seres são iguais.
[trilha sonora]
Geyze Diniz: O empreendedor Eduardo Foz é apaixonado por bichos desde pequeno, e transformou sua paixão por animais no sonho de criar um mundo melhor para as futuras gerações. Edu vive em São Paulo, cercado por todo tipo de espécie, como cotias, veados, araras, coelhos, furões, rãs e jibóias. Hoje, ele se considera pai de mais de 100 filhos, e tem um propósito que abraça milhares de outros.
Conheça a história de amor e empatia pelos bichos de Edu Foz, criador da ONG Zoo Foz que usa a zooterapia para educar e transformar o mundo em um lugar melhor. Ouça, no final do episódio, as reflexões do especialista em desenvolvimento humano, Marc Kirst, para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e este é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
[trilha sonora]
Edu Foz: A minha memória mais antiga relacionada a animais envolve tartaruguinhas e jabutis. Eles ficam numa espécie de canteiro, na sala do apartamento onde eu morava com meus pais e dois irmãos, em São Paulo. Na mesma sala, tinha um aquário retangular, talvez de uns 50 centímetros de largura por uns 30 de altura.
Eu ainda era bem pequeno, quando a gente se mudou pra casa da avó Zezé. Como toda boa vó, ela deixava eu ter tudo que eu queria. E tudo que eu queria era bicho. Eu dizia: “Vó, posso ter mais um jabuti?”. Pode. “Mais um peixe?”. Pode. “Periquito? Canarinho?”. Pode, pode, pode. Minha mãe ficava louca e falava: “Se entrar mais um animal, eu saio de casa!” Não adiantava nada, coitada. No dia seguinte, chegava mais um.
[trilha sonora]
Eu herdei do meu pai e do meu tio essa alucinação por animais. O quarto do meu tio Cacá devia ter uns 20 aquários. Não sei como cabia. O meu programa preferido na infância era ir a uma loja na Rua dos Pinheiros, aos sábados, comprar um peixe. Eu juntava toda a minha mesada só pra isso.
Da minha mãe, veio a paixão por plantas. Mesmo morando em São Paulo, no meio da cidade, eu buscava cada cantinho da natureza. Na escola, durante o recreio, adorava ficar olhando para o sol, para as árvores, para os pássaros. Eu só gostava de estudar biologia e artes. Aquela tarefa de colocar o feijão em cima do algodão molhado e ver ele brotar, pra mim era o máximo.
[trilha sonora]
Aos 15 anos, pedi um pavão de presente, e ganhei. Só depois eu descobri que, na primavera, o macho berra de madrugada para chamar a fêmea. Lá pelas 4 horas da manhã, ele começava a gritar. Parecia uma buzina de caminhão. Meu pai me dava uma bronca e eu subia no telhado, onde o pavão gostava de dormir, para acalmá-lo. Imagina a cena: um adolescente de shorts, em cima de uma casa, abraçado a um pavão estridente às 4h30 da manhã. Os vizinhos deviam me achar maluco. Infelizmente, não deu para ficar com o pavão, e ele foi para a fazenda de um amigo.
[trilha sonora]
Nunca fui bom de estudar e só prestei vestibular para ganhar um carro. Escolhi psicologia numa faculdade particular que tinha mais vaga do que candidato. Fiz o curso por um ano. Foi bom pra eu entender que não era tão louco, só diferente das outras pessoas.
Depois, decidi mudar para o curso de economia e comecei a ganhar dinheiro promovendo festas. Fui trabalhar numa startup de internet e entrei numa fase de correr atrás de grana. Abri uma corretora de seguros e fiz um bom pé de meia. Nessa etapa da minha vida, eu trocava mais de carro do que de cueca. Bom, tô exagerando, mas eu era bem materialista.
[trilha sonora]
Com o passar dos anos, descobri que a maior riqueza é o tempo, não o dinheiro. Do que adiantava se matar de trabalhar e não poder estar com as pessoas que eu amo? Hoje na minha garagem não tem nenhum carro, graças a Deus.
Enquanto eu trabalhava, ia aumentando o número e a variedade de animais (filhos). Me casei com uma mulher maravilhosa e moramos num apartamento com tucano, arara, calopsitas. Me separei e, para poder ter mais animais, mudei para uma casa no bairro do Morumbi. Ninguém me segurava mais.
[trilha sonora]
Eu passei a ter quati, cachorro (a Bela, minha border collie, que tem 12 anos), cervo, coruja, gavião, cacatua, flamingo, veado, antílope, coelho, ovelha, jacaré, cobra, e outras espécies. Hoje eu tenho mais de 100 filhos. Sim, dentro de uma casa, no meio da cidade. Todos vieram de criadouros homologados pelo Ibama ou foram doados de uma forma legal e não podem ser reintroduzidos na natureza.
[trilha sonora]
Meus amigos dizem que sou um cara excêntrico. Eu discordo. Da mesma forma que tem gente que gosta de filho humano, eu gosto de filho de qualquer espécie. Meus filhos vivem soltos pela casa. Sem brigas, em perfeita harmonia. Tem até namoro interespécie. A Duda, um cervo, namora um grou coroado da África do Sul, que é uma ave de 1 metro e meio. Eu acho que pra eles não importa como cada um é por fora, mas sim por dentro. Morar com esses animais é como viver dentro de uma escola de amor e tolerância. Muitas pessoas acham estranho a convivência com animais silvestres e exóticos, porque consideram os animais perigosos. Eu acredito que perigoso é sempre o ser humano. Nunca tive problema com bicho, só com gente.
[trilha sonora]
A minha casa começou a virar uma atração para os filhos dos meus amigos. Eles pediam para visitar o zoológico do tio Foz. Era a referência que as crianças tinham de um monte de animal num único lugar. Até que uma amiga, a Fabiana Calfat, me deu um toque. Ela disse: “Pô, Fozito, o que você faz para os animais é lindo. Por que não transforma essa sua paixão em algo maior?” Peguei carona na brincadeira das crianças e criei a marca Zoo Foz.
[trilha sonora]
A coisa foi crescendo e o estalo mesmo veio quando a mesma amiga me levou à Fundação Fada, uma ONG dedicada a melhorar a qualidade de vida de pessoas com transtorno do espectro autista. A minha conexão com aquela causa foi forte e imediata. Assim como eu, os autistas vivem no mundinho deles. Muitos também têm mais facilidade de se relacionar com os animais do que com gente. Eu comecei a levar os animais para interagir com as crianças e jovens, e o efeito era surreal. Uma tartaruga transforma a vida de um autista.
[trilha sonora]
Mexido por aqueles encontros, em 2017, eu criei a Fundação Zoo Foz, uma organização sem fins lucrativos que atua nas áreas de educação ambiental e terapia assistida por animais. Por mês, fazemos mais de 400 atendimentos a crianças e adultos com autismo.
[trilha sonora]
Meu propósito se tornou transformar vidas para criar um mundo melhor. O Zoo Foz tem quatro pilares: amor, cuidado, educação e respeito. Com base neles, nós promovemos quatro ações. A primeira é a zooterapia, em que o animal ajuda no desenvolvimento cognitivo e motor das pessoas com deficiência. A segunda é um trabalho de educação ambiental com as crianças, porque eu acredito que educar é preservar. A nossa terceira ação são intervenções sociais, para ajudar comunidades carentes. E a quarta é o combate ao tráfico de animais.
Basicamente, eu invisto o meu tempo em animais e crianças. A criança nasce sem a palavra preconceito e, com os animais, ela aprende a ter respeito e limite. Aprende também o conceito de finitude. É um casamento que não tem como dar errado. A socialização com os animais é mais do que uma atividade de lazer. Ela também tem um forte poder educacional, que melhora o desenvolvimento sensorial, social e psicológico da pessoa. O resultado são seres mais sociáveis e amorosos, tudo que a Terra mais precisa.
[trilha sonora]
Hoje, no Zoo Foz, somos 26 pessoas, entre psicólogos, neuropediatras, advogados, administradores, contadores, biólogos e veterinários. Os estagiários não estão aqui para aprender apenas sobre o comportamento animal, mas, principalmente, sobre os meus pilares. Se os meus filhos conseguem conviver com a diferença, porque os humanos, seres que chamamos de racionais, não conseguem?
[trilha sonora]
Sem amor a gente não faz nada na nossa vida que perpetue. Eu gosto de comparar o que fazemos com as formigas. Formigas não falam. Elas fazem, e não desistem. Todos lutam por um objetivo comum. Para eu lembrar disso o tempo todo, eu tenho na minha casa uma escultura feita por esses insetos que representa minha história de vida. Quando comecei a Fundação Zoo Foz, eu era uma formiga pequenininha carregando uma maçã. Muitas vezes o peso nas minhas costas era maior do que eu conseguia carregar. Várias vezes eu pensei em abandonar o meu sonho. Mas cada vez que eu pensava em desistir, aparecia uma outra formiguinha para me ajudar. Hoje eu sei que eu faço parte de um formigueiro. O meu propósito de vida é deixar um legado. Um dia eu não vou estar mais aqui, mas o Zoo Foz vai continuar pelas mãos de outras formigas.
[trilha sonora]
Marc Kirst: Quantas pessoas você conhece que, na busca por se sentir parte, pra pertencer ou ser socialmente aceito, acabam se esvaziando de si, censurando sua própria essência, seus traços mais únicos, para se tornar mais um na multidão? E quantas dessas pessoas têm a coragem pra desaprender o molde em que se colocou, desconstruir as próprias máscaras pra voltar à origem, àquele chamado mais profundo que dissolve as ilusões e faz tudo ganhar cor?
Essa é a reflexão de propósito que o Edu nos dá de presente. Não apenas pelo discurso, mas pela prática de alguém que se permitiu ser quem sempre se foi: um exemplo de desapego da busca imediatista pelo artificial, para canalizar o amor e o serviço pelo o que é natural e, portanto, eterno. No momento da nossa civilização, em que insistimos como humanidade a nos enxergar como espécie soberana, dominante e, consequentemente, exploradora da vida na Terra, acabamos de ouvir uma história de conexão com a vida ao nosso redor, que nos convida a reconexão com o pulso que vive dentro de cada um de nós. Seres humanos, nada mais do que uma das espécies compartilhando e convivendo neste planeta lar, o legado de uma criança que preservou a própria essência, porque desde cedo sentiu na pele o mais profundo pertencimento. Seja mamífero, ave ou réptil, o milagre de olhar nos olhos da vida e reconhecer-se natureza.
[trilha sonora]
Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
[trilha sonora]
Conteúdos
Vale o mergulho Crônicas Plenae Começe Hoje Plenae Indica Entrevistas Parcerias Drops Aprova EventosGrau Plenae
Para empresas