Para Inspirar

O que é a Síndrome do Impostor e como usá-la a seu favor

Apesar de não ser considerado um diagnóstico oficial, ela já é muito explorada no mercado de trabalho e observada principalmente em mulheres

17 de Novembro de 2020


Você já sentiu como se não merecesse o cargo que possui? Algo como se, de repente, todos fossem descobrir que você é uma farsa e, para isso, é necessário que você trabalhe ainda mais e adquira ainda mais conhecimento? Porém, nem mesmo mergulhando nas especializações e dobrando sua carga de trabalho a sensação vai embora.

Se você já foi acometido por essa grande dúvida sobre si mesmo de forma persistente, você provavelmente faz parte do grupo que sofre da Síndrome do Impostor. Basta dar um Google simples para perceber que o assunto já vem sendo amplamente debatido em diferentes esferas: há artigos em veículos de saúde, mas também em outros focados em mercado de trabalho e carreira.

Isso porque a Síndrome do Impostor afeta sobretudo o seu eu profissional. É claro que ela pode se manifestar em outros âmbitos e atrapalhar a sua vida de maneira 360º, mas ela é observada majoritariamente em ambientes corporativos de alta competitividade.

Como surgiu

O termo não é exatamente novo, e surgiu pela primeira vez escrito pelas pesquisadoras da Universidade Estadual da Georgia, Pauline Clance e Suzanne Ines, em 1978. Nele, elas entrevistaram uma série de pessoas que sentiam esse desconforto para comprovar, ao final, de que ele afetava muito (mas muito!) mais as mulheres do que os homens.

E não pense que isso afeta somente as de cargo inferior. Um artigo publicado na Revista Forbes trouxe relatos de grandes nomes do mercado que contam como elas conseguiram vencer essa batalha travada contra si mesmas. Sabemos que as mulheres muitas vezes enfrentam mais dificuldades para empreender, como contamos nessa matéria .

A própria Zica Assim, personagem do pilar contexto na primeira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir , foi uma exceção à regra que se aplica na maioria dos casos de empreendedorismo feminino no Brasil, que vem crescendo mas ainda enfrenta diversos entraves.

Uma questão de gênero

Uma das explicações para a incidência da síndrome ser maior no público feminino mora justamente na questão da aprovação, critério subjetivo que não depende tanto da pessoa, mas sim do outro. A aprovação, esse termo que permeia tantos outros fatores da vida da mulher, se faz ainda mais presente quando o assunto é carreira.

Para a jornalista e educadora, Antônia Burke, em coluna para o jornal O Globo , “a sociedade de modo geral, principalmente no ambiente familiar, contribui profundamente para a destruição da nossa autoestima”. Ela ainda destaca os pontos mais sensíveis dessa trajetória, como a escolha entre maternidade X carreira que mulheres são submetidas e homens quase nunca.

“Não basta sermos competentes, leais ou estudiosas: os homens precisam “gostar” de nós, o que não parece algo fácil de alcançar. Se somos bem sucedidas, é porque fomos agressivas (...). E, se por alguma razão nos sensibilizamos ou choramos, não servimos mais para aquela função, reduzidas a ‘mulherzinhas’.” diz.

Em 2019, a ex-primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, comentou que muitos homens que não mereciam estão ocupando cargos de liderança . Apesar da declaração polêmica, já existem pesquisas que afirmam: mulheres se candidatam menos à vagas do que homens, por não considerarem que são capazes.

Segundo o Informe de Percepção de Gênero, divulgado pela rede social LinkedIn em 2018, elas se candidatam 20% a menos em vagas do que eles, e sentem que precisam preencher a 100% dos requisitos - enquanto eles, acreditam que preencher somente 60% já é o suficiente.

Algumas áreas sentem ainda mais. Segundo dados apresentados no site da ONG Geledes , e revelados durante o evento Women in Tech em 2017, 74% das meninas demonstram interesse pelas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, mas somente 0,4% delas escolhem estudar ciências da computação.


O outro lado da moeda

Apesar disso, homens também podem ser muito prejudicados pela falta de autoconfiança e sensação de estarem prestes a serem “desmascarados” como o grande fracasso que acreditam ser. Mas é possível usar essa insegurança ao seu favor?

O empresário norte-americano Mike Cannon-Brookes contou, em sua palestra para o TED Talks , como conseguiu reverter esse cenário. Apesar de ter alçado voos altos, fundado uma multinacional e ganhado prêmios, a sensação de insuficiência o perseguia.

“Não é medo de falhar ou de não conseguir realizar algo. É mais como uma sensação de escapar impune, um medo de ser descoberto e de que a qualquer momento alguém irá descobrir [que você é uma farsa]. E que, se alguém porventura descobrir, você irá pensar ‘bom, isso é até que justo’” descreve o CEO.

Mas, ao conversar com outros empresários de tanto ou mais sucesso que ele, percebeu que isso era uma constante: todos se sentiam da mesma maneira, mesmo realizando feitos incríveis. Portanto, além de não descobrir não ser o único, ele também percebeu que talvez esse sentimento não passasse assim de um dia para o outro ou mediante a qualquer forma de sucesso que poderia estar lhe faltando.

“Eu tinha assumido para mim que outras pessoas de sucesso não se sentiam daquela forma, e agora sei que o contrário é muito mais provável de ser verdade” diz. Ele conta então, divertindo a platéia, como conheceu a sua esposa, que no primeiro contato, pensou que ele fosse outra pessoa.

Ao invés de logo revelar sua identidade, ele sustentou a conversa por um tempo, ainda que fingindo ser outra pessoa, e percebeu que conseguia fazer isso, que ele era interessante à sua maneira de modo que, 10 anos depois, eles estão casados e hoje têm 4 filhos juntos.

Acontece que, segundo sua pesquisa, ele descobriu que no âmbito dos relacionamentos, é comprovado que se sentir ligeiramente inferior ao outro pode ser positivo - quando de maneira saudável, e quando os dois se sentem assim. Pois junto a esse sentimento, soma-se a gratidão de ter o outro e a vontade de ser sua melhor versão sempre para esse outro.

Isso pode ser aplicado também em sua carreira. É claro que a Síndrome do Impostor, quando muito intensa, pode ser paralisante, e não só pode como deve ter um acompanhamento profissional de um psicólogo. Mas, em uma medida saudável, ela pode ser a sua mola propulsora, que o faz querer chegar cada dia mais longe.

Como você se sente em relação às suas capacidades? Atente-se ao seu nível de insegurança e perceba se ele te move ou se ele te estagna. É importante estar sempre em movimento, pois as dúvidas fazem parte do jogo. Aprenda a reconhecer o seu valor e saber do que é capaz!

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Desmistificando conceitos: o que é a medicina da floresta?

O conceito que abarca diferentes abordagens, tem ganhado força na atualidade e busca por inclusão das práticas corretas e do reconhecimento dos povos originários

24 de Setembro de 2024


A ciência não está escrita em pedra e a sua renovação é parte cotidiana de sua prática. É até mesmo esperado que, com o passar dos anos e acúmulo de novos conhecimentos, suas práticas sejam revistas. Até porque, não se trata de algo exato e imutável: a ciência é viva e dinâmica, portanto, se flexibiliza e se adapta. 

É o caso da covid-19, exemplo mais recente que não nos deixa esquecer como verdades absolutas adotadas ainda no início da pandemia logo caíram por terra conforme os cientistas foram se tornando mais familiares a esse vírus que chegou de repente e assolou todo o planeta de maneira devastadora. 

Há ainda um outro aspecto muito importante sobre a ciência que a covid nos ensinou: a força da natureza. O mistério que mora no meio ambiente ao nosso redor e que nos condena na mesma medida que nos salva desde que o mundo é mundo - e o tanto de respeito e responsabilidade que a ele devemos. 

A medicina da floresta, tema que falaremos mais a seguir, é uma síntese sobre tudo isso: as ondas científicas que, de tempos em tempos, são revisitadas, a força da natureza, a humildade que devemos ter diante de saberes que transcendem o nosso tempo e muito mais! 

O que é a medicina da floresta?


A medicina da floresta é um termo usado para se referir ao conjunto de práticas terapêuticas, saberes e conhecimentos tradicionais desenvolvidos por povos indígenas, comunidades ribeirinhas e outras populações que vivem em regiões de floresta, especialmente na Amazônia. 

É ainda um conjunto de saberes carregados através dos séculos, principalmente pela oralidade, tema que falamos por aqui recentemente no episódio de Daniel Munduruku, no Podcast Plenae. Essa forma de medicina se baseia no uso de plantas medicinais, ervas, cascas de árvores e outros recursos naturais encontrados na floresta, que são utilizados para tratar diversas doenças e promover o bem-estar.

Elas se concentram, sobretudo, nas abordagens com rapé, ayahuasca, sananga e kambô, medicinas utilizadas há mais de 5 mil anos, segundo esse estudo de Karlene Bianca Oliveira, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mas certamente há tantos outros saberes espalhados por aí e apenas menos catalogados. 

“Pode-se dizer que hoje a medicina mais falada é a ayahuasca, mas para mim não existe medicina melhor ou pior, cada uma vai trabalhar uma necessidade diferente. A cerimônia da ayahuasca é muito feita aqui na Casa Xamânica, mas a gente também abre para a medicina da sananga ou do rapé. Essa última é feita de tabaco e casca de árvore, aplicada nas nossas narinas, sempre dos dois lados para que não tenha nenhum desequilíbrio e seu objetivo é trazer mais foco, concentração, limpeza dos maus pensamentos - ajuda bastante se a pessoa tem depressão, por exemplo”, conta Lucas Reis Bergamo, fundador da Casa Xamânica.

Seu primeiro contato com a medicina da floresta, como ele conta, foi aos 26 anos. Hoje, com 33, ele relembra que a intensidade das primeiras não foi imediata. Foi preciso a terceira consagração da ayahuasca para que ele se sentisse realmente limpo e “na força”, como é chamado o durante o uso do chá. De lá para cá, ele estudou, viajou, fez imersões profundas com povos indígenas, trabalhou em outros locais guiando cerimônias até que tivesse o seu próprio espaço para se dedicar ainda mais a essa área. 

“Cada pessoa trilha o seu caminho. No meu caso, a primeira coisa que eu fiz foi me aproximar dos povos indígenas, que são os detentores da cultura e das rezas que guiam toda essa espiritualidade. É claro que existem outras religiões que trabalham outras vertentes. Mas eu me apaixonei pelos povos indígenas e fui buscar conhecimento na raiz, na fonte”, relembra. 

A partir disso, ele trouxe esses ensinamentos para o contexto urbano. “Ali eu pude entender toda a parte espiritual e cultural dessas medicinas para que, quando eu trouxesse para o contexto urbano, eu tivesse menos prejuízos possíveis enquanto eu estivesse guiando uma cerimônia. Eu sempre tive muita responsabilidade não só espiritual, mas com a parte física mesmo”, diz. 

Segundo Lucas, não há um tempo específico de estudo ou uma formação para isso. O norte é se sentir preparado para estar fazendo esse trabalho pelo outro e mais: para aplicar todos os ensinamentos colhidos durante as cerimônias no seu dia a dia. “Você precisa não só se curar, mas praticar no dia a dia”, diz. 

E isso não quer dizer consagrar medicinas a todo tempo, até porque, é preciso cautela já que muitas dessas substâncias continuam agindo em nosso organismo por um tempo e, a depender das suas sensações durante o uso, é preciso descansar. “Tem pessoas que consagram uma única vez na vida e não sentem necessidade de fazer nunca mais”, explica ele. 

Os aspectos da medicina da floresta


Dentre os principais aspectos da medicina da floresta, destacam-se:

  • Plantas medicinais: espécies de plantas encontradas na floresta e que possuem propriedades curativas, sendo utilizadas de diversas formas, como em chás, unguentos, banhos ou inalações. A ayahuasca, prática que te contamos por aqui em um relato, é uma planta sagrada usada em rituais de cura por algumas comunidades indígenas da Amazônia.

  • Saberes tradicionais: é todo o conhecimento sobre as plantas e seus usos medicinais, transmitido oralmente de geração em geração entre curandeiros, xamãs e outros líderes espirituais. Eles possuem um papel central na manutenção e transmissão desse tanto de informação que poderia se perder pelo caminho, mas é preservada por um grupo específico e especial de pessoas..

  • Espiritualidade: a medicina da floresta muitas vezes está profundamente ligada a crenças espirituais e cosmologias indígenas, por exemplo. A cura é vista como um processo holístico, envolvendo o equilíbrio do corpo, da mente e do espírito, além da relação com a natureza e os seres da floresta.

  • Sustentabilidade: a prática dessa medicina está alinhada sempre com noções básicas de sustentabilidade, respeitando e preservando o ecossistema local por meio de uma colheita cuidadosa das plantas, por exemplo, garantindo sua regeneração e continuidade.

A medicina da floresta atual


Lembra que mencionamos o caráter cíclico que as práticas científicas podem ter ao longo dos séculos? A medicina da floresta não foge a essa regra e, apesar de ser milenar, ela tem atraído novo interesse mundial nos últimos tempos, se tornando “moda” em alguns círculos de pessoas.

Isso se dá especialmente em função das propriedades medicinais de plantas amazônicas, que agora são mais facilmente encontradas, e o potencial que muitas delas têm para a descoberta de novos tratamentos na medicina ocidental - também mais fácil de ser explorado. Até falamos por aqui, em um Tema da Vez, sobre a nova guinada psicodélica que a academia científica tem tomado - e a natureza é parte indissociável desse processo.

O movimento ganhou tanto corpo que há um Centro Medicina da Floresta (CMF), uma organização não-governamental (ONG) que atua na Floresta Nacional do Purus, na Amazônia Brasileira, e que foi criada em 1989 por um grupo de mulheres, crianças e jovens.

Seu objetivo é resgatar o conhecimento tradicional das plantas da região CMF e manter viva a sabedoria popular das comunidades próximas à floresta por meio de medicamentos fitoterápicos,
assuntos que falamos por aqui e também neste outro artigo. A atividade principal dessa entidade é o extrativismo de espécies medicinais, que posteriormente se tornam os Florais da Amazônia. 

Mas há também o lado negativo da coisa toda. “Hoje, infelizmente, muitas pessoas se apropriam de culturas, de etnias, e ficam usando nomes indígenas, sendo que não são, sem realmente ter a capacidade ou o conhecimento para tudo aquilo que ele está carregando. A partir do momento que você faz essa escolha de guiar o outro, não é mais por você. Tem que ter muita responsabilidade, é um trabalho árduo que envolve um preparo de dias antes. Saber como que essa medicina vai chegar até nós, quem foi que fez, como ela está, fazer uma boa ficha de anamnese para entender se aquela pessoa está fisicamente apta para isso”, conta Lucas.

Ele ainda ressalta que, mesmo com tantas informações disponíveis e aumento da procura, o preconceito e a desinformação continuam circulando entre nós quando o assunto é a medicina da floresta. Mas que, apesar disso, a procura só tende a crescer, em sua opinião.

“A tecnologia tem o seu lado negativo, mas vem nos auxiliando muito também. Ela nos ajuda a divulgar e passar uma mensagem, não dizendo para as pessoas que elas devem consagrar, mas passando todo esse conhecimento, toda essa informação. Outro benefício é para os povos indígenas, a visibilidade que eles estão tendo, conseguindo viajar mundo afora para levar sua cultura e trazer o seu ganha pão, conseguir estruturar suas terras para ter uma água de um poço artesiano na aldeia, para ter internet, comida, barco para todos”, pontua.

Por fim, se você está procurando iniciar na medicina da floresta, independente da sua finalidade, busque conhecimento. Isso vale para internet, claro, mas procure conversar com quem já teve contato com alguma das abordagens ou ir até uma casa onde essas cerimônias são realizadas, para entender um pouco mais sobre como será o processo. 

Eu acho que o caminho para todas as medicinas é o caminho do coração, do que a pessoa está sentindo ali. Mas para qualquer tipo de medicina, eu acho que deve ter sim algumas recomendações. Converse com participantes, entenda qual medicina está consagrando e da onde que ela veio, quem preparou isso é muito importante também, porque hoje as pessoas estão fazendo medicina de qualquer jeito e estão colocando coisas dentro da para dar mais efeito que não são a verdadeira matéria prima”, conclui Lucas. 

Não se esqueça ainda de falar com o seu médico se for idoso, gestante ou tiver algum problema prévio, seja ele cardíaco, mental ou de outra ordem. Tenha sempre cautela, não só com as medicinas da floresta, mas com todas as novas abordagens que se propor a conhecer. Não se canse nunca de buscar mais sabedoria e autoconhecimento!

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