Para Inspirar
Conheça a história da chef renomada que, antes de se lançar aos mares da gastronomia, resolveu mergulhar no alimento como ponte para outros mundos.
20 de Outubro de 2024
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Morena Leite: A culinária é uma forma de nos conectar com o mundo e com os outros. Quando eu cozinho, tento escolher ingredientes saudáveis e da estação, porque a comida não nutre só o corpo, ela também nutre o planeta e a nossa alma.
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Geyze Diniz: É através da culinária que a chef Morena Leite se conecta com o mundo e consigo mesma. Desde pequena, observando sua mãe, ela aprendeu a importância dos alimentos para o corpo, para as religiões e culturas. E hoje divide seus conhecimentos através dos seus restaurantes, eventos e do Instituto Capim Santo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
A ideia era criar uma comunidade numa roça, com todo mundo morando junto, inspirado no modelo de um kibutz de Israel. Mas essa proposta não foi pra frente. Meus pais eram muito jovens e não quiseram seguir as regras impostas. Então, eles compraram um terreno e começaram a plantar de tudo que consumiam. Taioba, milho, coco, abóbora, biribiri, jaca, cacau, fruta-pão…
A minha mãe foi tomando gosto por fazer granola e pão integral, e aos poucos o hobby dela virou uma profissão. Ela começou a servir comida em casa, com os legumes cultivados no quintal, os peixes entregues pelos pescadores e os grãos integrais da dieta macrobiótica, que vinham de São Paulo. Todo dia minha mãe fazia um prato, e recebia umas 10 ou 12 pessoas pra comer. Em 1985, meus pais acabaram abrindo um pequeno restaurante, o Capim Santo.
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Eu mudei de ideia sobre a profissão que queria seguir. Voltei pro Brasil, fiz uma imersão na cozinha do Capim Santo e decidi ser cozinheira. Acho que pra muitas pessoas a comida é só um meio de sobrevivência e de satisfação do paladar, mas pra mim é muito mais do que isso. O alimento tem uma relação com a cura. Além de ter aprendido com minha mãe o prazer de cozinhar e alimentar todo mundo. Eu me encontrei na gastronomia também por ser uma atividade mão na massa, literalmente.
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Pra mim, espiritualidade tá muito ligada com a nossa conexão com a natureza. Eu fui criada no meio do mato e entendo que a gente é parte de um planeta que precisa estar em equilíbrio, que nem o corpo humano. Não adianta cuidar do coração e esquecer dos pulmões. A espiritualidade também me trouxe muitos ensinamentos. Com os hindus, aprendi que o corpo é nossa morada e não podemos negligenciar o nosso templo.
Por isso eles fazem rituais de limpeza todos os dias ao acordar, Dinacharya. Limpam a orelha, lavam os olhos, escovam a língua, passam óleo em todo corpo. E cuidar do corpo inclui também cuidar da alma e da mente. A cabala me ensinou um princípio que acho lindo, o de receber pra compartilhar. Ela me fez entender que cada um tem uma missão na Terra, que cada um tem um aprendizado.
O catolicismo, que no período da quaresma temos um cuidado especial com a alimentação, quando alguns alimentos não são consumidos, me mostrou que a disciplina e o autocontrole são ferramentas muito importantes pro nosso crescimento. E finalmente os bahais, que me apresentaram seu tripé do amor, conhecimento e solidariedade, que eu acho fundamental pra gente navegar os dias de hoje.
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Sabe quando você planta uma árvore que dá fruta, e essa fruta dá origem a outra árvore? Aconteceu isso com o Instituto. Cresceu tanto que eu me assusto. São mais de 80 colaboradores e 6 mil pessoas formadas. Ficou tão grande, que eu nem dei conta mais de amamentar esse bebê. É como aquela mãe que fala: “Agora o meu filho cresceu e eu tenho que respirar fundo, porque não é mais sobre mim”. O Instituto deixou de ser um projeto pessoal e hoje atua em parcerias com o governo federal, estadual e municipal.
Por causa da gastronomia, eu rodo o Brasil e o mundo. A minha vida se divide num vai-e-vem entre Trancoso, São Paulo, e Brasília, misturada com temporadas em outros lugares. Eu já morei em Paris, Bali e Londres. Já fiquei um tempo em Alter do Chão, no Pará, na Floresta Amazônica, na Tanzânia e no Quênia, e agora estou morando uma temporada em Nova York. Como meu pai diz, um anjo da guarda não dá conta de me acompanhar. Preciso de uma falange espiritual ao meu lado.
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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
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Para Inspirar
Parece pouco, mas a verdade é que os efeitos de estar sozinho contra a nossa vontade são muitos e afetam o nosso principal órgão, que é o cérebro.
27 de Maio de 2022
Solidão. Quem já se sentiu completamente sem ninguém, ainda que por um breve momento, sabe como a sensação pode ser aterradora. Esse problema, já há algum tempo, é tão sério que deixou de ser algo individualizado e se tornou pauta de saúde pública. Em países como Inglaterra e Japão, existe um ministério para tratar da solidão de seus cidadãos, principalmente os mais velhos. Os ingleses se tornaram os pioneiros nesse combate ao verem 15% de sua população acometida pelo chamado isolamento social involuntário.
Mas o fato de estar sozinho é tão grave assim? Estudos apontam que sim. Ficar sozinho por muito tempo aumenta a liberação do cortisol pelo cérebro, o chamado “hormônio do estresse”. E os efeitos são semelhantes ao de estar estressado: maior probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares, diminuição da imunidade e surgimento de sintomas de depressão e ansiedade.
A solidão atinge o córtex pré-frontal, região responsável pela tomada de decisões. E, portanto, ela também pode prejudicar o sono, a alimentação e gerar maior propensão ao abuso de substâncias. Nessa reportagem da emissora alemã DW, podemos ver que a solidão impacta mais a qualidade e a expectativa de vida do que vilões tradicionais como o alcoolismo e a obesidade.
Ela mostra também um experimento em que pessoas foram submetidas a uma dinâmica semelhante a uma entrevista de emprego. Aquelas que tinham mais suporte de algum grupo, seja de amigos ou familiares, apresentaram menores níveis de cortisol. Quanto menor essa integração, maiores os níveis do hormônio. E eles não decaem ao longo do dia, mantendo uma sensação de estresse.
A história da solidão
O ser humano provavelmente teve sua sobrevivência atrelada à formação de comunidades. Viver em grupo facilitava a caça e a defesa, além da reprodução. Como resquício dessa época, sentir-se sozinho hoje dá uma sensação de desamparo, da ausência de ter alguém com quem contar. Como te contamos neste artigo, ter amigos é essencial, mas é preciso antes de mais nada, valorizar os bons, e não somente a quantidade.
Em seu TED Talk, Ana Paula Carvalho, mestre em psiquiatria pela Unifesp, conta a história da cidade de Roseto, na Pensilvânia, EUA. As pessoas de lá viviam como se fosse uma verdadeira comunidade: diversas gerações de uma família moravam na mesma casa, as portas estavam sempre abertas para a vizinhança, etc. E, surpreendentemente, não havia nenhuma morte por ataque cardíaco na faixa etária de 55 a 65 anos, por mais que o consumo de álcool e tabaco fosse elevado.
Ana Paula pontua também que o advento das redes sociais e aparelhos celulares não diminuiu a solidão. Por mais que tais ferramentas pareçam aproximar as pessoas, estamos ficando muito focados nelas em vez de olhar para as pessoas e coisas reais que acontecem ao nosso redor. Para ela, o que devemos fazer é razoavelmente simples: dar mais atenção aqueles que estão ao nosso redor.
“Uma a cada quatro pessoas não têm com quem contar. Coincidentemente ou não, uma a cada quatro pessoas desenvolve algum transtorno psiquiátrico. Então a mensagem é: se conheçam, olhem nos olhos das pessoas que estão perto de você. Não precisa ser um amigo próximo, pode ser até mesmo o porteiro do prédio”, diz.
Mas qualquer momento solitário pode acarretar em todos esses malefícios? A resposta é não. Existe, cada vez mais, uma divisão maior entre solidão e solitude, como te explicamos aqui, sendo, o segundo, o ato de estar sozinho e bem consigo mesmo. Estar separado do mundo às vezes é bom.
Por mais sociais que sejamos, ainda é possível cansar de tanto interagir com outras pessoas. Ter um momento para si é importante, ajuda a focar no próprio bem-estar e “tirar uma folga” do resto do mundo, até porque, já sabemos que mesmo o silêncio também traz inúmeros benefícios.
O problema em si começa quando há essa sensação de desamparo ou de abandono, tão características da solidão, com efeitos, inclusive, na psique e no cérebro. E isso pode acontecer, inclusive, mesmo ao redor de outras pessoas. O importante é sempre ter alguém com quem contar!
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