Para Inspirar

Geninho Goes e Eduardo Domingos em “Adotar não é um ato de coragem, mas de amor”

Inspire-se com o episódio de Relações da décima oitava temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir!

1 de Dezembro de 2024



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

Geninho:
As pessoas falam que eu tive coragem pra adotar 5 filhos. Eu respondo que coragem eu teria que ter pra pular de paraquedas. Eu não tenho coragem, eu tenho é amor.

[trilha sonora]

Geyze Diniz: Geninho e Eduardo adotaram a Maria Helena quando ela tinha 8 anos. Depois de seis anos, descobriram que ela tinha quatro irmãos que também estavam para adoção e não tiveram dúvidas de que a família iria crescer. De um dia pro outro, eram 5 filhos de idades muito diferentes. Os desafios aumentaram, assim como o amor também. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.

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Geninho: Eu não planejei ser pai. Como poderia ter um filho se eu sou gay e não me relaciono com mulher? Então, a ideia da paternidade simplesmente nem passava pela minha cabeça. Mas esse desejo surgiu num dia específico. O ano era 2014 e eu e o Duda já éramos casados.

Eduardo: Era um dia de sol e a gente desceu pra dar um mergulho na piscina do prédio. Teve um momento em que a gente encostou na beirada da piscina e ficou olhando umas crianças brincando na água. A gente não falou nada, só ficou vendo aquela cena. Um tempinho depois a gente subiu pro apartamento, tomou banho, sentou no sofá e ligou a TV. Estava passando um programa chamado “Histórias de Adoção”. Aí, quando um olhou pro outro, os dois estavam chorando. O Geninho virou pra mim e perguntou: “Você tem certeza disso?”. A gente não tinha falado nada sobre filho, adoção, nada. Eu falei: “Tenho”.

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Geninho: Não foi uma decisão muito racional, porque, se eu parasse pra pensar em todos os desafios envolvidos, não ia querer adotar uma criança. Foi uma coisa que veio da alma. Eu faço terapia e na psicanálise a gente fala muito sobre o desejo. A gente só sabe que um desejo existe quando ele se efetiva. O desejo existia, porque se não existisse a gente não seria pai. Mas eu não tinha consciência dele.

Na análise, eu entendi que eu cresci com a síndrome da família da margarina, achando que família era formada por pai, mãe e filhos. Como meus pais eram separados, a minha sensação era de que eu vinha de uma estrutura meio capenga. E a ideia de ter crianças em casa me trazia uma sensação de plenitude.

Eduardo: Um dia depois que a gente viu o programa de TV, foi no fórum da cidade atrás de informações. Santa Catarina é um estado que tem uma fama de ser preconceituoso, mas a verdade é que a gente não sentiu nenhum tipo de preconceito ou constrangimento. Nem perante o juiz, perante o promotor ou perante a assistente social. O tratamento sempre foi muito respeitoso.

Dois anos antes, o STF tinha reconhecido a união estável entre homossexuais. E vários casais homoafetivos começaram a fazer pedidos de adoção. Quando a gente entrou na fila, decidiu que queria duas crianças de no máximo 7 anos de idade. Foi um processo demorado, que durou dois anos e meio, até que um dia num encontro de adoção que a gente participou uma assistente social falou assim: “Ah, que pena, porque lá onde eu moro tem uma menina, mas ela está com 8 anos”. Aí ela mostrou a foto da Maria Helena. Na mesma hora a gente começou a chorar. Sentimos que aquela era a nossa filha.

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Geninho: A gente se candidatou pra adotar a Maria, mas essa assistente social ligou pra gente dias depois e explicou que já tinham dois casais na nossa frente. Um mês se passou e a gente soube que uma das famílias tinha desistido da adoção. O outro casal até fez uma aproximação, mas devolveu a Maria.

Era a nossa vez. A gente foi no abrigo que ela morava fazia 3 anos. Tinham 18 crianças. Todas se jogavam no nosso colo, perguntando se a gente ia ser o pai delas. Mas a Maria não chegava nem perto. Ela estava traumatizada da experiência anterior. Nós voltamos nesse abrigo seis vezes. Toda vez que a gente convidava a Maria pra passear, ela recusava. Eu falei pra assistente social: “Acho que é bom a gente desistir, porque ela não gosta da gente”. Daí ela falou: “Geninho, ela não gosta de ninguém”.

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Eduardo: Com muita insistência, quase um mês depois a gente finalmente conseguiu levar a Maria pra passar um fim de semana num hotel. A minha cunhada foi junto e também os nossos cachorros pra descontrair o clima. Seis semanas depois, no dia 14 de novembro de 2006, a gente foi buscar a Maria pra passar o período de adaptação com a gente em casa. Dezesseis dias depois, voltamos e o juiz perguntou se ela aceitava a gente como pais e ela disse sim.

Com mais ou menos um mês, ela já chamava a gente de pai. Ela tinha um desejo grande de ter uma família. Mas, ao mesmo tempo, ela ficava testando o nosso amor. No primeiro aniversário da Maria, que foi em dezembro, ela não deixou nem a gente dar um abraço. Teve um dia que ela subiu na nossa cama, teve um ataque de raiva e jogou tudo no chão. No começo, ela gritava dentro de casa: “Socorro, eu sou uma prisioneira!”.

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Geninho: Quem adota tem que abrir mão da expectativa de que o filho vai chegar e falar ou demonstrar que ama. Isso é raro. Toda adoção tem uma história de violência, abandono por trás. E quando você adota uma criança com mais idade, ela vai testar o seu amor. Ela vai fazer de tudo pra você mostrar que não aguenta mais. A gente oferece o melhor, mas a criança oferece o que ela tem de pior, porque assim ela vai ter certeza de que você gosta dela ou não.

Hoje, eu não julgo quem devolve uma criança na fase de adaptação, porque nem todo mundo tem estrutura emocional pra lidar com estes testes. Você vai se sentir desprezado, abandonado e rejeitado, vai mexer com a sua história. Durante anos, a Maria ficava perguntando: “Vocês vão me devolver?”. Isso era constante. Não faz muito tempo que ela chegou em casa com um cachorrinho que ela pegou na rua. Eu não deixei o cachorro ficar, dei uma bronca nela e depois ela falou assim: “Pai, me desculpa, é uma coisa que eu não consigo controlar. Eu vivo querendo te testar pra saber o quanto você me ama”. A gente aprende que limite também é uma forma de amor.

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Eduardo: Durante 6 anos, nós fomos uma família de 3 pessoas. Nesse processo, eu e o Geninho também fomos amadurecendo. Eu acho que o nosso maior trunfo é ser um casal unido. A Maria tentava jogar um contra o outro para ter um aliado, mas a gente conversava, não na frente dela, e ninguém tomava nenhuma decisão sem o aval do outro. A gente ficou ainda mais conectado do que antes

Até que, em 2022, o Geninho recebeu uma ligação de uma assistente social. Eu não estava com nenhuma expectativa, porque às vezes eles ligavam pra gente dar uma entrevista ou pra falar com uma família que queria adotar também. Só que dessa vez o assunto era os irmãos da Maria.

Geninho: A Maria sabia da existência de uma irmã, com quem ela conviveu até os 3 anos de idade. E sabia de um irmão que ela não conhecia. Ela chorava de soluçar querendo esses irmãos. No início a gente até tentou adotar as crianças, porque elas também foram pra um abrigo. Mas nós ficamos sabendo que elas foram devolvidas pra família de origem. E se uma família se regenerou e tem condições de ficar com filho, esse é o melhor lugar da criança.

Mas a assistente social contou que a Maria não tinha dois irmãos, e sim quatro, sendo um bebê. E daí ela falou assim: “Os três mais velhos já estão destituídos, então a gente queria saber se vocês conhecem alguém no grupo de adoção aí na cidade de vocês que possa adotar os dois meninos e a menina separadamente, pra eles ficarem perto da Maria”. Um olhou pro outro e, de novo, a gente não teve dúvida: “Nós sabemos. Somos nós”. Ela perguntou: “Vocês vão adotar os três?”. Eu respondi: “Os quatro”.

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Enquanto a assistente social foi falando, já passava um monte de coisas na minha cabeça. Tipo assim: imagina a Maria daqui a alguns anos descobrir que os irmãos foram pra adoção, que a gente sabia e não fez nada? Por tudo que a gente já passou com a Maria, se esses são os irmãos dela e ela é nossa filha, eles são nossos filhos também.

Eduardo:
Eu pensava que não tinha como dizer não para uma situação dessas. Eu sou muito empático, então eu não ia conseguir ter paz de espírito pensando nessas crianças. A bebê no outro dia já teria uma família. Os dois meninos eram mais novos, então também iam achar um lar. Mas a Ellen estava com 9 anos. Talvez ela ficasse no abrigo. Como é que a gente ia separar esses irmãos.

Geninho: Em nenhum momento, eu pensei: “O que nós vamos fazer?”. A gente só decidiu. Uns dias depois dessa conversa com a assistente social, foi Dia dos Pais e eu visitei meu pai, que tem 88 anos. Quando eu compartilhei a novidade, ele começou a chorar e falou: “Meu filho, faça isso. Seja o pai que eu não fui”. A gente só contou pra Maria na véspera do encontro com os irmãos.

Eduardo: A Rayane estava com 1 ano, o Allysson com 4, o Wellington com 7, a Ellen com 9 e a Maria com 13. O nosso primeiro encontro foi com os três mais velhos, porque a bebê ainda não tinha sido destituída da família. Foi um momento emocionante. A Maria se lembrava de ter carregado a Ellen no colo, mas ela ainda não conhecia o Wellington e nem sabia da existência do Allysson.

Nesse mesmo dia, a Ellen perguntou pra gente: “Quando é que a gente pode chamar vocês de pai?”. Eu falei: “Olha, nós somos os pais da Maria. Se você é irmã dela, nós somos seus pais também”. Os três estavam sedentos por uma família, sedentos por amor e proteção. Eles não queriam mais aquela vida de abrigo. A gente viajou dois finais de semana seguidos para encontrar os três. No fim de cada encontro, a gente saía destruído de deixar eles pra trás. Na terceira viagem, eles vieram embora com a gente em definitivo.

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Geninho
: Até então, eles não sabiam que tinham mais uma irmãzinha. A Rayane chegou no mesmo abrigo que eles moravam com 20 dias de vida, só que o pessoal não contou pras crianças, porque eles achavam que cada irmão ia pra um lado, então eles não queriam causar mais sofrimento. Nós entramos com um processo pra adotar a Rayane e então foi possível conseguiu reunir os cinco.

Eduardo: A adaptação deles foi muito mais fácil do que a da Maria. Sem saber, a Maria foi uma professora. Ela já tinha testado a gente de todas as maneiras possíveis. Então, a gente já sabia como lidar quando uma criança fazia prova de amor. O mais difícil era e ainda é atender demandas de tantas idades diferentes. Até hoje são desafios da fralda ao absorvente. Fora a logística da agenda de cinco crianças com várias atividades durante o dia. A nossa vida virou uma correria.

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Geninho: No começo, a gente compartilhava o dia a dia nas nossas redes sociais fechadas, pros amigos. Só que as pessoas começaram a perguntar um monte de coisa. “Como é a sua rotina?”, “como que é adoção?”. Até que eu pensei: “A gente tem uma história que pode inspirar muita gente. Tem muita criança em abrigo e muitas crianças órfãs de pais presentes e ao mesmo tempo muito, muito adulto com medo de ser feliz”. Do mesmo jeito que um programa de TV nos inspirou, a gente poderia inspirar outras pessoas com a nossa história.

Eduardo: A gente queria passar uma mensagem inspiracional, mas ao mesmo tempo sem romantizar a experiência. E aí veio a ideia do nome pro perfil: “Paiciência na prática”. No primeiro mês já foi um boom, só de crescimento orgânico. A gente mostra a vida como ela é. É claro que a gente não vai expor as crianças brigando ou chorando, mas a gente fala sobre os conflitos que a gente vive e a maneira como lida com eles.

Geninho: Virou um serviço de utilidade pública. Busquei conhecimento, me formei como educador parental, estou fazendo uma pós em educação para entender cada vez mais esse universo. Tem gente que fala assim: “Vocês são meus terapeutas”. Nem todo mundo tem dinheiro pra pagar um psicólogo. Uma mãe escreveu pra gente pedindo ajuda pra aceitar a filha que é homossexual. Daí a gente falou assim: “Tudo que a sua filha precisa é do seu amor, é da sua aceitação”. Depois ela mandou mensagem agradecendo a nossa resposta.

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O que mais me motiva é inspirar as pessoas a construírem suas famílias, independentemente de qual seja o formato. Pode até ser uma pessoa com seu pet. O importante é que tenha respeito e amor. Um dos maiores desejos de todo ser humano é o de pertencimento. O meu grande aprendizado com a paternidade é de que o filho vai ser o que ele veio pra ser.

Os pais criam expectativas e projetam suas ideias sobre os filhos, os biológicos e os não biológicos. Hoje, eu estou em processo de aceitar que cada um vai fazer as suas escolhas. E por qualquer caminho que eles sigam, eu vou dar o meu amor. O que me deixa tranquilo é saber que eu estou entregando o meu máximo.

Se a gente conseguir mostrar pras pessoas que elas podem evoluir fazendo com os filhos melhor do que fizeram com elas, a gente já tá no caminho certo. E eu posso te dizer que o amor cura, mas não o amor que você espera receber do outro, desse você não tem nem controle, o que cura, é o amor que você consegue oferecer ao outro. E ser pai é esta grande, grande possibilidade de cura.

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Geyze Diniz
: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.

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Para Inspirar

O que você diria ao seu eu de 20 anos de idade?

Conheça o que a autora Arianna Huffington descobriu aos 70 anos olhando seu diário de juventude – e inspire-se a pensar em sua própria jornada

30 de Agosto de 2020


Envelhecer é termo que causa arrepios em muitas pessoas. Ver o bonde da vida passar, se olhar no espelho e perceber um novo eu, aprender com seus erros e até rir deles - tudo isso faz parte dessa etapa inevitável da vida, que não deveria ter esse peso negativo que hoje conhecemos.

O que você acha que aprendeu ao longo da sua trajetória e que poderia ensinar ao seu eu de 20 anos de idade? A autora e influenciadora Arianna Huffington, ao completar 70 anos de idade, revisitou seu diário escrito aos "20 e poucos", e dividiu suas impressões em um lindo relato.

Fundadora e idealizadora do portal Huffpost e da Plataforma Thrive - que tem um objetivo semelhante ao Plenae, ou seja, gerar mudança de hábito para uma vida mais equilibrada e saudável - revelou que sua principal esperança é a de que "passemos a ver o envelhecimento não como algo a ser evitado, mas como algo a ser adotado e abraçado."

Além disso, para ela "a vida é uma dança entre fazê-la acontecer e deixá-la acontecer, e nunca esquecendo de que ela é moldada de dentro para fora." Por ter crescido em uma cultura onde o envelhecimento é visto sob a ótica positiva e sábia, hoje ela sente que seu posicionamento diante dos 70 anos é leve e recheado de pontos positivos, como por exemplo, saber que envelhecer não é sobre o fim da vida, mas sobre libertação, aprendizagem e fazer as pazes consigo mesma. 

Confira o texto traduzido na íntegra a seguir:

Pensamentos sobre fazer 70 anos

"Todos nós sabemos o que é importante na vida - então por que esperamos para agir sobre isso?

Na semana que vem, em 15 de julho, faço 70 anos, após quatro meses de isolamento e mais - muito mais - tempo do que o normal para reflexão.

Minhas filhas, minha irmã e eu passamos esse tempo na casa de nossa família em Los Angeles , e enquanto limpava a garagem, eu me deparei com dezenas de velhos diários e cadernos cheios de páginas e páginas de meus pensamentos e objetivos e preocupações e sonhos dos meus 20 anos!

E enquanto eu lia meio século de notas, fiquei impressionada com quatro coisas. Primeiro, por quão cedo eu sabia o que realmente importava na vida. Em segundo lugar, como eu era ruim em agir com base nesse conhecimento. Terceiro, como eu drenava e exaurira todas as minhas preocupações e medos. E quarto, quão pouco essas preocupações e medos acabaram por importar.

Agora, com quase 70 durante o lockdown [bloqueio gerado pela pandemia], vejo como é mais fácil aos 70 do que aos 30 viver a vida que sempre quis viver. E isso, para mim, é o verdadeiro presente do envelhecimento. Quando você não pensa na morte como o fim - e eu nunca pensei - envelhecer é uma questão de libertação.

É sobre as coisas não-essenciais caírem, sobre não olhar por cima do ombro em busca de aprovação e sobre não inventar fantasias assustadoras sobre o futuro. Porque finalmente aprendi, como Montaigne disse, que “houve muitas coisas terríveis em minha vida, mas a maioria delas nunca aconteceu”.

Eu fui uma daquelas crianças que já nasceu velha. Eu nunca entendi a atitude que prevalece em grande parte do mundo ocidental, onde o envelhecimento é tratado como uma doença a ser evitada - como uma festa para a qual estamos todos desesperados para ser convidados, mas alarmados no minuto em que entramos pela porta.

Como meus cadernos de décadas atrás me lembraram, eu sempre ansiava pela sabedoria da velhice. Foi mais fácil para mim, pois venho de uma cultura, afinal, que reverencia a velhice. Sempre adorei, por exemplo, como nos mosteiros gregos o abade e a abadessa são chamados de geronda e gerondissa - “velho” e “velha” - embora muitas vezes tenham apenas 40 ou 50 anos. “Velho” e “velha” são títulos concedidos a eles não por causa de sua idade, mas por causa de sua sabedoria e proximidade com Deus. Na verdade, o envelhecimento está associado à sabedoria em quase todas as tradições espirituais e filosóficas.

"Não tema o envelhecimento do corpo", escreveu Lao Tzu, "pois é a maneira do corpo buscar a raiz." Em “Os analectos”, Confúcio retrata o ciclo da vida como uma jornada que nos leva para mais perto do divino e de nossos próprios corações. “Aos 15 anos, decidi aprender”, escreve ele. “Aos 30 anos assumi minha posição. Aos 40 anos vim ficar livre de dúvidas. Aos 50 anos entendi o decreto do céu. Aos 60, meu ouvido estava sintonizado. Aos 70, segui o desejo do meu coração sem ultrapassar os limites. ”

Em Jó, é-nos dito que "a sabedoria pertence aos velhos e a compreensão aos sábios". E lembre-se de que Moisés tinha 80 anos quando conduziu os israelitas para fora do Egito! No hinduísmo, a vida, assim como as estações, é dividida em quatro. O primeiro é o de um estudante. A segunda é sobre como criar uma família. O terceiro é o início do retiro e o quarto é o desapego completo das coisas mundanas. O paradoxo da vida boa é como se desapegar das coisas mundanas e ao mesmo tempo estar totalmente engajado no mundo.

Na verdade, isso é o que mais adoro ao completar 70 anos: estar totalmente engajada em construir uma empresa em torno de um dos desafios mais legais que enfrentamos - mudar o comportamento humano para que possamos levar vidas mais saudáveis, produtivas e empáticas - ao lado de pessoas incríveis, muitas das que têm menos da metade da minha idade. E fazer isso com mais alegria, menos estresse, menos suor nas pequenas coisas e sem ficar freneticamente obcecado com cada resultado de hora em hora.

O que resume tudo isso é passar da luta à graça - finalmente reconhecer que a vida é uma dança entre fazer acontecer e deixar acontecer, e nunca esquecer que não importa o quão presos estejamos no mundo, a vida é moldada de dentro para fora.

E, claro, existem as tradições antigas do meu próprio país. Para os gregos, a filosofia não era um exercício acadêmico - era um manual para a vida diária. “Pratique a morte diariamente”, disse Sócrates. E os romanos esculpiram “MM”, memento mori - “lembre-se da morte” - em estátuas e árvores, não por morbidez, mas porque a morte é o que dá propósito à vida.

O problema de pensar no envelhecimento como apenas uma perda progressiva é que perdemos de vista tudo o que ganhamos. E se tivermos sorte e permanecermos saudáveis, não há razão para não podermos continuar a construir e criar. Eu fundei o The Huffington Post aos 55 e a Thrive Global 11 anos depois, aos 66. E nunca estive mais ansiosa para continuar aprendendo - e desaprendendo!

Em seu 89º aniversário, Nelson Mandela anunciou a formação de The Elders , um grupo formado por líderes de negócios, política e organizações sem fins lucrativos reunidos para resolver problemas globais urgentes. “Este grupo obtém sua força”, disse Mandela em seu discurso de lançamento, “não do poder político, econômico ou militar, mas da independência e integridade daqueles que estão aqui. Eles não têm carreiras para construir, eleições para ganhar, eleitores para agradar. Eles podem falar com quem quiserem e são livres para seguir os caminhos que considerarem corretos. ”

Esse tipo de independência e sabedoria estão, obviamente, disponíveis para nós em qualquer idade. Mas eles são muito mais fáceis de alcançar quando estamos livres de nossos medos de fracasso e desaprovação. “Coragem”, disse Platão, “é saber o que não deve ser temido”.

E é isso que adoro quando chego aos 70: saber o que não deve ser temido me faz sentir mais eu mesma do que em qualquer outro momento da minha vida. Talvez porque haja muito menos tempo à minha frente do que atrás de mim, eu não o desperdiço em coisas que não importam, vivendo em águas rasas e deixando o mistério da vida passar por mim.

Enquanto folheava meus velhos cadernos, queria gritar conselhos para mim mesma ao longo dos anos - dizendo aos mais jovens para não se preocuparem ou duvidarem tanto, ou apenas ir em frente e correr esse risco. Minha esperança é a de que, coletivamente, passemos a ver o envelhecimento não como algo a ser evitado, mas como algo a ser abraçado.

E em vez de olhar para aqueles anciãos destemidos e sábios entre nós e pensar: "Eu quero ser assim quando for velho", explorando o que há de mais sábio, mais ousado e mais autêntico dentro de nós e vivendo cada dia daquele lugar, no entanto podemos ser jovens ou velhos.”

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