Para Inspirar
Na décima segunda temporada do Podcast Plenae, mergulhe na história emocionante de maternidade de Fernanda Fabris.
4 de Julho de 2023
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
[trilha sonora]
Fernanda Fabris: Eu acreditava que a criança tinha um papel ativo em fazer uma adoção dar certo. Se ela tivesse uma personalidade fácil, então rolava. Se ela fosse difícil, não rolava. Hoje, eu vejo que é o contrário. Quem tem que fazer dar certo é o pai e a mãe, não o filho.
[trilha sonora]
Geyze Diniz: Fernanda e seu marido, Maurício, tentaram engravidar por 11 anos. Depois de muita frustração e expectativas, Fernanda retomou seu desejo antigo de adotar. Hoje, o casal tem 5 filhos. Conheça essa história de amor, persistência e destino da família Fabris. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
[trilha sonora]
Fernanda Fabris: A ideia da adoção nasceu no meu coração quando eu tinha 13 anos. A minha tia paterna levava crianças e adolescentes que moravam em abrigos pra passar as festas de fim de ano com a gente. Teve uma garota específica que me marcou muito. Eu não lembro o nome dela, mas a gente tinha mais ou menos a mesma idade. Eu me recordo que olhei pra ela e pensei: “Por que eu tenho uma família e ela não?”
Eu me casei cedo pros padrões atuais, aos 18 anos. Quando meu marido me pediu em casamento, eu perguntei se ele toparia adotar uma criança. Eu esperava uma resposta negativa, mas ele aceitou. Então, a gente combinou que primeiro eu ficaria grávida. Quando o nosso filho tivesse uns 12 anos, nós adotaríamos um adolescente ou pré-adolescente. Eu nunca tive vontade de adotar um bebê.
[trilha sonora]
Foram 11 anos sem usar nenhum método contraceptivo. Nesse período, eu tive três depressões. Eu estava quase entrando na quarta quando eu fiz um tratamento não-invasivo para estimular a ovulação. E aí o ginecologista me falou: “Olha, eu acho que você deveria fazer uma fertilização in vitro”. Ouvir essa frase foi uma libertação, porque tirou das minhas costas a obrigação de engravidar naturalmente.
[trilha sonora]
Um dia, eu estava no trabalho e joguei no Google: “documentos para adotar”. No topo da página, apareceu um site chamado “Adote um Boa Noite”, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Tinha um monte de fotos de crianças. E eu fui vendo as imagens, até parar na penúltima delas. No mesmo instante, eu disse: “Meus filhos!”. Uma colega que estava do meu lado falou: “Você tá louca?” E eu respondi: “Não, vem ver meus filhos”. Tirei um 'print' da tela e mandei pro meu esposo. Ele ficou muito bravo. Quem quer adotar quatro crianças de uma vez?
Eu confesso que eu também achei loucura. Mas, os quatro não saíam da minha cabeça. Eu pus aquela foto de fundo de tela do meu celular e comecei a sonhar. Eu só sabia o nome e a idade deles: Flávio, de 11 anos, Flávia, de 9, Fabrício, de 6, e Artur, de 3 anos. Se eu ia numa loja, falava: “O Flávio vai ficar bonito com essa roupa; a Flávia vai ficar uma graça com essa”. O meu marido me podava: “Pode parar, não vem que não tem. Nós vamos adotar até duas crianças”. Eu fingi que aceitei a condição dele e a gente entrou no processo de habilitação.
[trilha sonora]
A Flávia, de 9, repreendeu o irmão: “Não chama ela de mãe. Ela não é sua mãe”. O Flávio, de 11 anos, ficou o tempo todo muito tímido, nem interagiu direito. Ele tinha medo de ser rejeitado, ele achava que eu ia preferir os irmãos menores e mais fofinhos. Eu imaginava que iria amá-los imediatamente.
Mas, quando o sonho se tornou realidade, eu fiquei meio sem entender o que estava acontecendo. Por um lado, eu estava encantada. Achei lindo ser chamada de mãe. Por outro, me bateu um pouco de medo, uma dúvida de: “será que eu vou dar conta?”.
[trilha sonora]
Naquele mesmo dia, o meu marido foi demitido. Nós perdemos 70% da nossa renda. Eu nunca tinha ficado sem convênio médico. E agora, ficaria sem convênio e com quatro crianças. A gente passou bastante perrengue, mas não cogitou desistir da adoção.
[trilha sonora]
[trilha sonora]
Um dia, o Maurício parou na minha frente e falou bem baixinho: “E se a gente adotasse a Naty?”. Todo mundo adorou a ideia, inclusive ela. Quando nós fomos buscá-la, eu falei: “Oi, filha”. Aí ela respondeu: “Oi, mãe”. Foi natural desse jeito.
Todos os dias, eu vejo famílias que entram no processo adotivo com a intenção de fazer uma caridade. O problema é que, com essa mentalidade, esses adultos vão esperar um senso de gratidão em troca. E a criança e o adolescente não tem nem maturidade cerebral para ser grato. É um erro pensar que as crianças precisam ser salvas. Elas só precisam ter pais e mães. Elas precisam de amor.
[trilha sonora]
Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
[trilha sonora]
Para Inspirar
Como praticar sua fé e sua espiritualidade podem ser benéficos no processo de cura e manutenção de um trauma interno
25 de Março de 2022
Encerramos a sétima temporada do Podcast Plenae com um relato pra lá de emocionante: a história de Deborah Telesio, que mergulhava enquanto um dos piores desastres naturais da história do planeta ocorria. Em viagem à Tailândia no fatídico ano de 2004, a administradora viu o tsunami ocorrer mais de perto do que gostaria.
Para além desse acontecimento que, por si só, já possui a força necessária para guiar uma narrativa, Deborah ainda traz as nuances de um mesmo acontecimento e, claro, o seu trauma posterior. Representando o pilar Espírito, ela ganha esse espaço justamente pela presença da religião em seu relato.
Praticante do judaísmo, ela pôde contar com a ajuda de árabes que a auxiliaram em seus momentos mais críticos, oferecendo transporte, roupas e acolhimento. Além disso, ela ainda relata ter tido visões e sensações sobrenaturais durante o ocorrido, e garante que foram elas que salvaram sua vida.
O estresse pós-traumático
Se no relato de Deborah, a religião é presente durante o seu período trágico, para muitas outras pessoas, ela surge depois. Isso porque a religião pode ser uma forte aliada no combate ao Transtorno do Estresse Pós-Traumático, também conhecido como TEPT. E o que é ele, afinal?
“O transtorno do estresse pós-traumático faz parte dos distúrbios de ansiedade e é caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais que acontecem em decorrência do portador ter vivenciado uma situação muito traumática ou violenta, que apresentaram uma ameaça para a vida dele”, explica a psiquiatra Maria Fernanda Caliani, em vídeo para seu canal Neurologia e Psiquiatria.
Esse tipo específico de estresse também pode acontecer caso essa pessoa tenha sido testemunha de uma situação traumática ou violenta, sem necessariamente ter participado ativamente dela. A questão toda é ter sido exposta a algo que ofereceu risco de vida e, apesar de superado, deixou marcas.
“Quando a pessoa se recorda do fato ocorrido, ela revive essa situação como se estivesse acontecendo naquele mesmo momento. Então ele tem a mesma sensação de dor, o mesmo sofrimento. Essa recordação a gente chama de revivescência, e ela desencadeia alterações tanto neurofisiológicas quanto mentais”, continua Maria.
Mas isso não quer dizer que todas as pessoas que vivenciaram uma situação extrema irão sofrer desse transtorno: acredita-se que de 15 a 20% irão desencadear o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. “Mas a parte triste é: a grande maioria só vai procurar ajuda cerca de 2 anos depois e é aí que está o problema. Porque o que os estudos têm mostrado é que, no caso do transtorno, quanto antes se procurar ajuda profissional e especializada, melhor a recuperação e o prognóstico do paciente a longo prazo”, explica a especialista.
Essas pessoas traumatizadas, que podem pertencer a qualquer faixa etária, podem levar meses ou anos para manifestar esses sintomas. Elas ainda estão divididas em três grupos diferentes a partir de suas sequelas:
1- Reexperiência traumática: quando a pessoa começa a ter pensamentos recorrentes e intrusivos - ou seja, ela não quer ter aquele pensamento, mas eles invadem a cabeça dela mesmo sem ela querer. “Ela pode acordar no meio da noite assustada, tendo flashbacks ou pesadelos em que ela relembra tudo que viveu”, diz.
2- Grupo da esquiva e do isolamento social: por medo de relembrar a situação, o indivíduo começa a fugir de situações, contatos ou atividades que possam reavivar as lembranças dolorosas do trauma. “A pessoa deixa de sair, começa a evitar quem estavam junto com ela, deixa de fazer atividades habituais por medo de voltar a sentir tudo que sentiu no dia do trauma”, pontua Maria.
3- Hiperexcitabilidade psíquica e psicomotora: são sintomas autonômicos, ou seja, sintomas físicos decorrentes da descarga de adrenalina. “A pessoa começa a ter taquicardia, começa a suar frio, tonturas, dores de cabeça frequentes, dificuldade para dormir, distúrbios de concentração, começa a ficar mais irritado e hipervigilante”, enumera a psiquiatra.
O diagnóstico só é feito quando os especialistas reconhecem e identificam a existência de um ambiente estressor. Algo como “se não tivesse acontecido aquilo, a pessoa não teria desenvolvido o sintoma”. O tratamento vai envolver o uso de medicações e uma terapia cognitiva-comportamental associada.
Religião X Trauma
Sabemos que o trauma afeta de múltiplas formas o nosso cérebro, e te contamos um pouco mais sobre esse assunto neste artigo. Excesso de estresse, medo, amargura, ansiedade: tudo isso reflete não só no trabalho das pequenas conexões que compõem esse órgão, como despejam uma alta carga de hormônios que estimulam a adrenalina, por exemplo.
Uma pesquisa desenvolvida pela UNIFESP comprovou que pacientes vítimas de estresse pós-traumático apresentam redução de até 10% no córtex pré-frontal (a região responsável pela tomada de decisões, por exemplo) e também do hipocampo, como as crianças. E também sabemos que situações vivenciadas na primeira infância podem reverberar por anos na pessoa.
Sendo assim, os seus sintomas seriam os mesmos que dos pequenos: alteração na memória, concentração e processamento de emoções. Um outro estudo também aponta para uma piora até mesmo do sistema imunológico do indivíduo, além de uma perda de memória recente.
Nessa busca pela cura, a espiritualidade não só pode como deve ser uma das ferramentas utilizadas. Já te contamos aqui no Plenae, inclusive, como a religião pode ser um caminho importante para o autoconhecimento. E quer mais autoconhecimento do que conseguir superar um trauma?
Isso porque o ato de rezar é também uma forma de meditar, e a meditação é tão potente que pode até mesmo alterar o formato do nosso cérebro, como explicamos neste artigo. Mais do que isso, ela possui benefícios amplamente reconhecidos pela ciência no que diz respeito à saúde mental.
Já se sabe que, quando uma pessoa está em plena atividade espiritual, o seu cérebro ativa a região de recompensa - a mesma área ativada quando estamos apaixonados, quando um sujeito usa droga, escuta música ou até quando recebemos um like nas redes sociais.
Tudo que é ligado ao prazer ativa esse mesmo circuito, que por sua vez, libera uma cadeia de hormônios em nossa corrente sanguínea, todos relacionados ao nosso bem-estar - como a dopamina e a serotonina. Isso tudo pode auxiliar não só no prazer momentâneo, mas na cura a longo prazo de um trauma.
A religião, por fim, além de desencadear processos cerebrais tão importantes ainda te ajuda na busca por um propósito de vida. E encontrar a sua missão seria o “lado bom” do trauma, como explicamos neste artigo. É comum em pesquisas com pacientes que sofreram de estresse pós-traumático se depararem com essa segunda fase, onde eles buscam mais sentido para a vida.
E a espiritualidade é uma importante aliada nessa busca, afinal, a fé nos proporciona um encontro direto com nossos valores e ideais. Por essas e outras que a religião - seja ela qual for - deve ser um dos seus pilares principais na jornada do equilíbrio, superação e autoconhecimento.
Conteúdos
Vale o mergulho Crônicas Plenae Começe Hoje Plenae Indica Entrevistas Parcerias Drops Aprova EventosGrau Plenae
Para empresas