Para Inspirar

Evento Plenae: O poder do inconsciente e o desafio da mudança de hábito

Mudança de hábito é sempre um desafio – muitas vezes dos mais difíceis. Vários fatores interferem no exercício de uma nova rotina ou na tentativa de trocar o estilo de vida.

22 de Junho de 2018


Mudança de hábito é sempre um desafio – muitas vezes dos mais difíceis. Vários fatores interferem no exercício de uma nova rotina ou na tentativa de trocar o estilo de vida. “Nem sempre percebemos os fatores inconscientes que podem sabotar nossas tomadas de decisão”, observa o físico norte-americano Leonard Mlodinow, 64 anos, autor do livro Subliminar, como o inconsciente influencia nossas vidas, publicado pela Zahar. O físico esteve em São Paulo para o lançamento da plataforma Plenae, em maio, onde deu a palestra intitulada “O poder do inconsciente e o desafio da mudança de hábito”. Nela, abordou a importância de compreender a mente para que se possa tomar o verdadeiro controle sobre as próprias ações. “É importante diferenciar esse conceito do freudiano. Na neurociência moderna, o inconsciente é explicado pela própria arquitetura do cérebro”, afirmou Mlodinow. Ele tem a responsabilidade de processar a informação automaticamente. Por exemplo, controla os movimentos involuntários, como os batimentos cardíacos. “Você não precisa pensar para o coração bater.” “O inconsciente também é responsável pelos pensamentos analíticos, pelas percepções e pela maneira que construímos nossa realidade”, explicou Mlodinow. “Como resultado, as pessoas pensam, sentem e agem de maneiras, muitas vezes, não planejadas, reagindo aos estímulos que não tinham percebido.” “Mesmo que você honestamente acredite poder deixar seus preconceitos de lado, você não pode”, afirmou o palestrante. “O cérebro recebe o mundo filtrado pelas crenças, desejos e circunstâncias em que o evento acontece. As expectativas influenciam o que vemos. A percepção do mundo físico, as visões, sons e cheiros, como tudo ao redor e até as memórias são uma ilusão”, diz Mlodinow. “É um ato de criatividade realizado pela mente e em grande parte pelo inconsciente.”
Como exemplo, ele explica que nossa visão periférica não é completa. Apenas parte está, realmente, em foco. O cérebro preenche o resto da imagem como uma espécie de "Photoshop natural", pois consegue extrapolar o que deve estar ao redor. Realidade virtual. Se nem nossa visão é real, os julgamentos também são influenciados por fatores que não percebemos. Uma olhadela rápida no rosto de dois candidatos, um décimo de segundo, é muitas vezes suficiente para determinar o ganhador de uma eleição. É o que provou um estudo realizado pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. “Somos mais superficiais do que gostaríamos de admitir”, disse o físico. A influência da aparência. No estudo por ele relatado, foram exibidas fotos ao grupo que deveria indicar apenas pela aparência quem seria mais competente para ocupar um cargo no Senado. Os participantes não tinham nenhuma informação a mais sobre as pessoas retratadas. Portanto, não puderam ser influenciados por valores, afiliações partidárias ou mesmo discursos. Na verdade, muitas das fotos eram de políticos. Depois das eleições, os pesquisadores perceberam que os que foram apontados como competentes pelo grupo ocuparam 70% das cadeiras do Senado. O contato físico. Assim como chimpanzés caçam piolhos nos companheiros, o homem também valoriza o toque mais do que percebe. “Não estou falando de abraços ou toques românticos”, diz Mlodinow, “mas daqueles pequenos contatos físicos de meio segundo que fazem parte da interação cotidiana”. Ele citou uma experiência realizada na França, onde um jovem passou uma tarde em uma esquina, abordando mulheres desconhecidas. Ele pedia o número do telefone delas com um discurso-padrão. O jovem tocou discretamente no ombro de metade das mulheres com quem falou – o que fez aumentar a margem dele de sucesso de 10% para 20%. Garçons ou garçonetes que tocam os clientes recebem 30% a mais de gorjetas. Compreender essas influências pode nos ajudar a exercer mais autonomia na vida cotidiana, segundo o palestrante. Dica. Segundo Carl Jung, “esses aspectos subliminares de tudo o que acontece parece ter papel pequeno nas nossas vidas cotidianas, mas são as quase invisíveis raízes dos pensamentos conscientes”. Segundo Mlodinow, ter consciência desse processo ajuda a tomar decisões mais livres de preconceitos e distorções promovidas pelo inconsciente – e assim ter mais controle sobre a vida. Veja a palestra na íntegra aqui.

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O cérebro plástico: o que é a neuroplasticidade?

A capacidade de absorver mais informações e se modificar conforme suas experiências é uma das muitas habilidades incríveis que o cérebro humano possui.

2 de Dezembro de 2022


No penúltimo episódio da décima temporada do Podcast Plenae, conhecemos a história do Mochileiro pela Educação, Tiago Silva, que mudou a sua própria realidade com a ajuda dos livros e, hoje, busca fazer o mesmo por outras crianças, oferecendo o mesmo caminho. 

A idade que o público alvo de Tiago possui é justamente a melhor para se desempenhar esse trabalho. Como te contamos aqui neste artigo, a leitura é uma ferramenta potente, sobretudo quando iniciada na infância. O mergulho em diferentes mundos, culturas e tempos - ainda que imaginários ou imaginados - propostos pela literatura facilitam uma maior percepção do outro e dos sentimentos. Ajuda a entender melhor o que é a empatia, bem como ter uma maior proximidade com seu lado emocional.

Mas, além disso, há um outro ganho não explicitado e que iremos tratar aqui hoje: a neuroplasticidade, que é “a capacidade que o cérebro tem de aprender e se reprogramar”. Se tratando de um cérebro ainda jovem, a neuroplasticidade é ainda maior e mais pulsante. E é por isso que dedicamos um tema da vez inteirinho sobre o assunto. Mas calma, nós vamos te explicar melhor a seguir!

A neuroplasticidade

Imagine o complexo e completo órgão que é o nosso cérebro. Ao fecharmos os olhos, imediatamente pensamos em uma palavra: os neurônios. Eles nada mais são do que células presentes no sistema nervoso central, responsáveis por estabelecer conexões entre eles. Mas para que essa conexão aconteça, são necessários os estímulos externos ou do próprio organismo - e leia-se: sem essas conexões, basicamente não existimos, pois elas são responsáveis por tudo o que somos e que fazemos.

Quando esses neurônios são devidamente estimulados, eles juntos geram impulsos elétricos e liberam substâncias químicas nos espaços vazios entre um neurônio ou outro - um vão chamado sinapse. Essas sinapses são justamente a ligação, a conexão que tanto buscamos e queremos que esses neurônios desempenhem. A cada estímulo realizado, toda a sua rede de neurônios se reorganiza para te proporcionar diferentes caminhos de resposta. É aí que entra a plasticidade neuronal, essa habilidade incrível, quase mágica, que nosso cérebro consegue realizar, formando milhares de novas conexões a cada momento. Enquanto você lê esse artigo, novas sinapses estão acontecendo. É também graças a esse poder regenerativo que conseguimos nos recuperar de lesões graves, sobretudo se elas foram sofridas ainda na infância. Quedas que possam ter afetado a capacidade motora ou a fala e a audição, por exemplo, podem ser recuperadas - a depender do nível do estrago, é claro - porque há toda uma vida pela frente e milhões de novas reconexões para esses neurônios realizarem. “Hoje sabemos que o sistema nervoso humano e de outros mamíferos é extremamente flexível e plástico. Há cerca de 20 ou 30 anos, a ideia era que fosse bastante estático, não só quando em condições normais de funcionamento, mas também quando alterado por alguma lesão”, explica o médico neurocientista pela UNIFESP, Cláudio Guimarães dos Santos, ao portal Drauzio Varella.
Graças ao avanço das pesquisas nesse campo, não só aprendemos mais sobre como o sistema nervoso opera normalmente, mas também como ele é capaz de se modificar e de se transformar. “Evidentemente, sabíamos que as pessoas mudavam ao longo do tempo, mas não tínhamos ideia de como a estrutura nervosa, neuronal, respondia a essas modificações”, conta Cláudio. Hoje, pesquisas na área de reabilitação evoluíram muito, justamente por saber que um dano no sistema nervoso tem como não ser eterno, pode ser modificado. Isso se deu também graças às novas técnicas de neuroimagem funcional, que permitiram o estudo da substância encefálica durante a realização das tarefas cognitivas, como explicou o especialista.

A neuroplasticidade em crianças

Agora que você já entendeu como o cérebro é plástico e capaz de se readaptar, se reinventar e te oferecer múltiplos caminhos em menos de um segundo, vamos partir para a etapa seguinte, que é entender como isso se dá em crianças. A cognição, que é o termo que designa a inteligência humana, é o que nos diferencia de tantas outras espécies, quase que o que nos “colocou” no topo da cadeia alimentar. É graças a ela que conseguimos criar, aprender, memorizar, fazer contas, nos apaixonar e até infelizmente cometer maldades. É graças à neuroplasticidade que esse processo dinâmico de construção, aquisição e interação de novas competências se dá durante todo o desenvolvimento infantil, como explica a neuropediatra Paula Girotto em seu blog.
Como te explicamos, essa plasticidade ocorre por toda a vida e deve ser sempre estimulada, inclusive em idosos. Mas é na infância que ela está a todo vapor. Por isso que crianças aprendem línguas estrangeiras mais rápido, por exemplo. E isso se dá porque é justamente na infância o período onde mais precisamos adquirir conhecimento sobre o funcionamento da vida como um todo.  Além disso, como prossegue a Paula, plasticidade cerebral pode ser dividida em dois tipos: a funcional, que é essa capacidade do cérebro mover as funções de uma área danificada para outras que não estejam comprometidas; e a estrutural, que é quando o cérebro consegue mudar sua estrutura física como consequência do seu aprendizado. O segundo tipo é o que iremos tratar aqui, na infância. Para que esse processo ocorra de forma homogênea e eficaz, o estímulo fará toda a diferença. Por isso que bons exemplos se fazem tão necessários nessa fase, onde aquele pequeno indivíduo está observando tudo e absorvendo tudo também. As imitações, tão comuns e “engraçadinhas” das crianças, é reflexo desse aprendizado adquirido pela observação, é o cérebro plástico em ação. Conforme essa criança vai crescendo, as sinapses formadas vão se fortalecendo, deixando menos espaço para novos aprendizados e novas possibilidades de conexão. Isso não é um diagnóstico terminal, é claro, e não quer dizer que não aprendemos nada quando ficamos adultos.  Mas é preciso mais empenho e mais estímulo, e vale lembrar que, com o passar da vida, somos mais expostos ao estresse, substâncias psicoativas, privação de sono e outros fatores que podem dificultar a aprendizagem. Te trouxemos neste artigo caminhos possíveis para melhorá-la, mas a dica de ouro para isso é treinar cada vez mais o seu cérebro.  Os livros, motivo pelo qual iniciamos esse artigo, é um aliado potente nessa trajetória. Em qualquer momento da vida, eles chegam para agregar, mas quando dados na infância, como faz o Thiago Silva, os ganhos cerebrais são imensos e ainda há um plus: a possibilidade ainda maior de fomentar o hábito da leitura desde cedo, formando um leitor para a vida.

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