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Desmistificando conceitos: o que é o sharenting

Conhecido como a prática excessiva de compartilhar imagens de seu filho, o “shareting” é mais uma herança questionável que a modernidade nos deixa.

29 de Novembro de 2021


Seu filho chorou o dia inteiro. Fez manha, não quis comer, armou um bico e não o desfez tão cedo. Mas, subitamente, ele abre um sorriso daqueles bem cativantes. Clique. É tirada uma foto, que como todo retrato, é apenas um recorte da realidade, um fragmento ínfimo de um dos muitos momentos domésticos possíveis. 


É daí que nasceu o termo sharenting, uma junção das palavras em inglês share (compartilhar) com parenting (parentalidade), termo cunhado em 2012 por um jornalista de tecnologia do jornal americano The Wall Street Journal. Se na pós-modernidade, tudo é passível de ser fotografado e dividido com milhares de pessoas em segundos, as crianças não ficariam de fora. 


O problema da prática são vários. Mais do que a possibilidade de constranger a criança no futuro, o sharenting também vende essa ilusão da parentalidade perfeita, afinal, os momentos mais desafiadores da educação não são registrados, e aquele clique perfeito e super colorido, com potencial para centenas de curtidas, mostra apenas um pedaço do que é real. 


Isso pode contribuir para o sentimento de inferioridade que acomete muitas mães. Essa culpa materna, que afeta tanto as crianças como já contamos aqui e é tão comum em tantas mulheres. Até mesmo um sentimento de FOMO, o “fear of missing out” que também já te explicamos aqui no Plenae, pode se manifestar. 


Segurança das crianças


Tudo isso indica um problema mais no âmbito social e emocional das pessoas, é claro. Mas o sharenting ainda traz um problema muito maior e mais sério: a segurança das crianças que, quando expostas em uma rede social, ficam ainda mais vulneráveis do que já são. 


“Essa superexposição é resultado dos novos meios de comunicação que instigam as pessoas a compartilhar informações pessoais para se sentirem pertencentes a determinado grupo social. Mas, devemos lembrar que existem pessoas má intencionadas que utilizam essas informações de forma negativa, para alimentar sites de pornografia infantil, aplicação de golpes e crimes como sequestro, estelionato etc” diz a advogada Ana Carolina Migliori, especialista em proteção de dados, em artigo para um site da área.


Apesar de as redes sociais serem um ambiente de descontração, é preciso muita cautela. Para Ana Carolina, há alguns passos importantes a serem seguidos, comentados em mesmo artigo: 


  • Não fotografar os menores em locais de fácil reconhecimento como escolas;

  • Não postar os menores em momentos particulares, sem ou pouca roupa como banho, praia, piscina; 

  • Não colocar dados pessoais do menor como nome e números que o identifiquem; 

  • Não compartilhar localização física.


Para além de estar protegendo o seu filho seguindo esses passos, você também estará se protegendo legalmente. Isso porque, segundo esse trabalho de monografia publicado por alunos de Direito, o sharenting pode ferir uma série de direitos da criança como o direito da criança à intimidade, o direito da criança à privacidade e o direito da criança à imagem. Todos eles são previstos em lei aqui no Brasil e garantidos e defendidos constitucionalmente pelo ECA, o Estatuto da Criança e do Adolescente. 


Quando pais dividem informações sobre seus filhos na internet, eles o fazem sem o consentimento da criança, como pontuou Stacey Steinberg, advogada americana da Universidade da Flórida em artigo.de 2016. “Esses pais agem assim como guardiões/protetores da história pessoal da criança e, ao mesmo tempo, como narradores/divulgadores da vida dela. Esse papel duplo na definição da identidade digital do filho deixa a criança desprotegida”, escreve a advogada.


Crianças na internet


Uma pesquisa feita pelo Kaspersky Lab, empresa de segurança na internet, revelou que no Brasil, 96% dos usuários colocam na rede algum tipo de conteúdo pessoal. E ainda, 66% dessas pessoas disseram compartilhar fotos de seus filhos na rede. Prova disso é que, segundo o Jornal Nexo, uma busca rápida pela hashtag #meubebe no Instagram devolve mais de 520 mil imagens de crianças nos mais variados contextos. 


Uma reportagem da Revista Crescer revelou dados de uma pesquisa realizada pela AVG, empresa fabricante de softwares de segurança. Uma das informações mais relevantes é a de que 81% dos bebês com menos de 2 anos já possuem algum tipo de perfil na rede com imagens disponíveis.


Se a segurança, a privacidade e até a autoestima da criança e das outras mães podem ser afetadas pelo sharenting, há quem esteja navegando na onda e ganhando dinheiro fazendo de seus filhos famosos. Por lei, a prática não é proibida, mas há algumas restrições - principalmente no que diz respeito à publicidade. 


O instituto Criança e Consumo, fundado por Ana Lucia Villela - participante da quinta temporada do Podcast Plenae - tem todos os seus olhos atentos a essa movimentação. Em artigo para o site da instituição, alguns dados reveladores também são expostos: segundo a UNICEF, um terço dos usuários da internet são crianças. 


Quando elas se tornam protagonistas desse ramo, os chamados “influenciadores mirins”, há dificuldades de entendimento de seus direitos, tanto pela nebulosidade das leis quanto pelo próprio entendimento da criança e até de sua família. Também há exigências contratuais relevantes que podem dificultar seu dia a dia escolar e até uma alta exposição que, no futuro, ela pode se arrepender. 


Internet e criança são dois assuntos que, quando juntos, torna-se bastante complexo. Por ser também bastante recente, estamos aprendendo na prática os ganhos e perdas dessa interação. Mas, para você, como mãe, vale a máxima: você gostaria que aquele determinado conteúdo estivesse exposto no elevador do seu prédio ou em uma praça? Se a resposta for não, repense antes de compartilhar, afinal, as redes sociais operam como praças públicas. 

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O que a ciência tem a dizer sobre a gratidão

Mais do que um simples sentimento, a gratidão é objeto de estudo para cientistas que buscam desvendar os seus múltiplos benefícios.

11 de Novembro de 2022


Nessa semana, embarcamos no relato do empresário Felipe Dib, que diante das adversidades que o acometeram, entendeu que a gratidão era o segredo do sucesso. Mas gratidão é mais do que um sentimento, segundo ele, e sim, um ato. É preciso colocá-la em prática, e não só dizê-la por aí. 

A ciência concorda. Sonja Lyubomirsky, professora de psicologia da Universidade da Califórnia e autora do livro The How of Happiness (“O Como da felicidade”, sem tradução para o português), explica que a expressão é uma estratégia para alcançar a felicidade, como te contamos e que pessoas gratas mostram maiores níveis de felicidade, energia, esperança e otimismo, declarando sentir mais emoções positivas do que negativas. 

Essas mesmas pessoas costumam ser mais empáticas, altruístas, espiritualizadas e religiosas, perdoam com mais facilidade e são menos materialistas. É também menos provável que essa pessoa mais agradecida se sinta deprimida ou ansiosa.

O cérebro grato

Para Fabiano Moulin, neurologista que dedica sua carreira ao estudo do envelhecimento do cérebro, em entrevista ao Plenae, “gratidão é, na verdade, a sensação de agradecer oralmente, independente se esse agradecimento tem destino pessoal ou religioso. É simplesmente a percepção e a capacidade de conseguir direcionar sua felicidade a um objeto presente, seja ele fisicamente, ou um pensamento futuro ou uma lembrança”.

Segundo ele, há uma clara relação entre nutrir esse sentimento e o bom envelhecimento. Isso porque, dentre as várias atuações da gratidão no nosso corpo, uma delas é reduzir os níveis de cortisol, o já conhecido hormônio do estresse. E, simultaneamente, atua aumentando a liberação de hormônios relacionados ao bem-estar. Isso, a longo prazo, é ótimo para nossa cognição e até para a saúde cardíaca.

“Nossa saúde mental atinge diretamente nossa saúde vascular, então cuidar dela é também ter um envelhecimento com qualidade de vida maior, ter menos problemas cardíacos, mais proatividade”, explica ele. É preciso buscar a reorganização de dentro para fora, e agradecer pelo que está posto, e não se lançar em buscas incessantes e estressantes pelo que não está garantido.

Estudos comprovam que a área do córtex pré-frontal medial, uma área relacionada a comportamentos sociais e a empatia, é ativada e potencializa a formação de laços afetivos - o que pode ser ótimo para suas relações. Essa área também está ligada a sentimentos de calma e tranquilidade e a regulação emocional.

Aliado a essa estrutura, outro local no cérebro que é ativado durante experiências de gratidão é o hipotálamo - relacionado a regulação de processos biológicos básicos, como a saciedade, a temperatura corporal, a frequência cardíaca, as emoções e o sono. 

Outros benefícios

E falando em relações, a gratidão pode ser uma forte aliada no seu relacionamento. Um estudo entre casais mostrou que a expressão da gratitude a dois traz inúmeros benefícios, alterando de forma positiva a percepção da qualidade da relação tanto em quem a expressa como em quem a recebe, colocando a relação em um círculo virtuoso. 

Ao expressá-la, a pessoa toma consciência e acolhe a gentileza do outro, confirmando a si mesmo que está em uma troca mútua, onde um se importa com o outro e aprecia seus atos. Para quem recebe, mostra que sua ação foi apropriada, desejada e apreciada, motivando que volte a agir de forma afetuosa.

A gratidão ainda pode atuar na sua memória, ajudando a retê-las e/ou recuperá-las. Isso irá ajudar a diminuir sentimentos como a inveja, o materialismo, o narcisismo e a comparação social. Mas, para colher esses benefícios, é preciso ensinar o cérebro a reconhecer pequenos momentos como fatos a serem apreciados, utilizando da gratidão intencional.

Em outro estudo, pacientes que sofrem de uma série de doenças neuromusculares foram estimulados a escrever cinco coisas pelas quais eram gratos todos os dias, durante três semanas. Aqueles que contaram suas bênçãos relataram significativamente menos dor, bem como um sono melhor do que o grupo de controle.

 

"Você pode pensar na gratidão como algo contínuo. Há momentos específicos em que nos sentimos gratos, mas com o tempo, podemos desenvolver uma mentalidade mais disposta à gratidão", diz a pesquisadora Fuschia Sirois, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra. Ou seja, ao praticar gratidão, você pode 

desenvolver uma perspectiva mais fixa de maior gratidão diante da vida.

Ela ainda pontua, em artigo, que ser grato pode beneficiar o seu sono, já que isso nos coloca em um estado mais positivo, e também no nosso sistema imunológico. “Regular nossa resposta ao estresse também tem um impacto positivo em nosso corpo - um deles sendo a inflamação, que é um marcador importante para o risco de desenvolvimento de uma série de doenças crônicas."

Por fim, a gratidão pode te levar a manter hábitos mais saudáveis. Estudos mostram que as áreas do cérebro que são ativadas quando as pessoas experimentam gratidão são as mesmas que controlam nossa capacidade de pensar sobre o resultado de nossas ações, ou seja, se planejar e, assim, conseguir desenvolver novos hábitos. "Descobrimos que a ligação entre ser grato e ter melhores práticas de comportamentos de saúde foi explicada em parte por esse maior pensamento sobre o futuro.” 

Já te contamos aqui que a gratidão melhora a sua qualidade de vida e te ensinamos a fazer um diário com base no método proposto pelo livro Milagre da Gratidão, no Plenae Aprova, que pode ser um bom começo para quem busca ser mais ativo. Segundo o monge e estudioso ecumênico David Steindl-Rast, em seu Ted Talks que exibimos aqui, ela é o caminho claro para ser feliz. 

O segredo é observar mesmo os momentos mais difíceis com o olhar clínico das oportunidades: o que é possível de ser aprendido aqui, nessa situação? Como posso lutar e manter o meu posicionamento? Fazer uma visualização negativa, como os estóicos nos ensinam, também ajuda a colocar as coisas em perspectiva e te faz perceber que nem tudo é tão ruim quanto parece.

Busque sentir gratidão mas, mais do que isso, busque colocá-la em prática e propagá-la por aí não só com palavras, mas com ações. Isso fará toda a diferença pra você e para o mundo.

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