Para Inspirar

Desmistificando conceitos: o que é o câncer de próstata?

Novembro chegou e, com ele, a campanha do novembro azul. Fique de olho nos seus exames e entenda mais sobre o câncer de próstata, muito comum em homens.

1 de Novembro de 2022


Em outubro, mudamos todo nosso site para a cor rosa e te explicamos o que é o câncer de mama, tema da campanha de conscientização do Outubro Rosa. Agora, o mês de novembro chegou, e com ele, a campanha do novembro azul. Seu objetivo é trazer conscientização também, mas dessa vez, o câncer de próstata é o foco. 

Esse é um dos males que mais afetam os homens, dentre outros presentes na saúde masculina. No Brasil, estimam-se 65.840 casos novos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens, segundo o INCA

“A estimativa é que 17% dos homens têm ou terão essa doença, 1 em cada 6 homens mais ou menos, diz Fernando Korkes, médico urologista do Hospital Israelita Albert Einstein e chefe do grupo de uru-oncologia da faculdade de medicina do ABC. Mas afinal, do que se trata esse câncer? Quais são suas especificidades? Entenda melhor ao longo deste artigo.

O bê à bá 

Antes de entender o de próstata, vamos retomar conceitos ainda mais primordiais. O câncer é um termo que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas que têm em comum o crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos adjacentes ou órgãos à distância.

“A próstata é uma glândula que tem um papel importante na fertilidade do homem. O câncer ali representa o surgimento de células anormais nessa glândula, que podem levar a disseminação local ou em outros órgãos”, diz Fernando. Além do fato de ser localizado ali, há outras características que são específicas desse tipo de tumor, como o fato de ser uma doença que surge quase que exclusivamente com o passar da idade. “É raríssimo ver um homem muito jovem com alguma doença na próstata, elas começam a surgir a partir dos 40 anos e fica mais frequente a partir dos 60”, diz.

Sintomas e riscos

O câncer de próstata no início não apresenta nenhum sintoma, portanto, é preciso estar com os exames de rotina em dia. “O maior alerta é uma alteração no exame digital da próstata ou no exame de PSA (que é o exame de sangue que dosa essa proteína)”, diz. “Quando já tem sintomas como alterações urinárias ou dificuldade para urinar, estamos falando de uma doença que está aí já faz algum tempo”.

Além desses alertas, é importante levar em consideração o histórico familiar: pessoas que têm muitos antecedentes de câncer, não só o de próstata, correm mais risco, sobretudo familiares de primeiro grau. Para quem tem adenocarcinomas (um tipo de câncer que afeta as glândulas e o tecido epitelial dos órgãos excretores, como mama, intestino, pâncreas), o risco também é aumentado. 

Por fim, pessoas com pele negra também apresentam mais risco. “Isso é um dado epidemiológico, os tumores tendem a ser maiores e mais agressivos, com mais chances de sair da próstata, por condição genética. É uma constatação epidemiológica, não existe uma explicação”, revela o urologista.

Exames

Há uma polêmica em torno do exame de toque, já que a maior parte dos homens não gostam de realizá-lo. Porém, Korkes assegura: ele faz parte da rotina direta. “No exame do PSA, conseguimos detectar ⅔ do resultado. Já no exame de toque, mais ¼. Então é melhor que eles sejam feitos sempre em conjunto”. 

A frequência do exame vai variar de acordo com a idade e chances de risco. As diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia mantém a recomendação de que homens a partir de 50 anos e mesmo sem apresentar sintomas devem procurar um profissional especializado para avaliação individualizada.

Os homens que integrarem o grupo de risco (raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata) devem começar seus exames mais precocemente, a partir dos 45 anos. Após os 75 anos, somente homens com perspectiva de vida maior do que 10 anos poderão fazer essa avaliação, segundo informações do Portal da Urologia

“De qualquer maneira, acho que faz sentido a partir dos 40 anos fazer uma avaliação de qual é o risco, se tem histórico familiar e fazer o exame de sangue de PSA basal. Indivíduos que têm alguma alteração passam a ter que fazer o exame anualmente. Para quem não tem nenhum risco, a partir dos 45 anos ou 50. Em linhas gerais, a partir dos 40 vale uma avaliação inicial”, comenta o especialista.

Tratamento 

A partir do momento em que o tumor foi detectado, começa então o tratamento. Ele vai depender, é claro, do seu tamanho e intensidade. Nessa etapa, o médico irá levar em consideração também a idade do paciente versus a sua expectativa de vida. Se for um tumor pequeno e de crescimento lento em um paciente com 85 anos, por exemplo, a intervenção pode ser até mais prejudicial do que a chamada vigilância ativa, que são exames periódicos para acompanhar o crescimento desse tumor.

"Isso é uma coisa que tem sido cada vez mais feita na última década. É importante ressaltar que isso é um tipo de tratamento, não é um abandono ou negligência, e só acontece quando a gente entende que os riscos de uma intervenção são maiores do que o próprio câncer”, pontua Fernando.

Há ainda outros tipos de cenário. No caso de o tumor estar localizado só na próstata, mas com risco de causar problemas para aquele paciente. Para isso, existem dois tipos de tratamentos com intenção curativa. O primeiro é a prostatectomia, que consiste em remover a próstata e pode ser feita tanto por meio de uma cirurgia convencional, com corte e cicatrizações.

Essa cirurgia ainda pode ser feita por laparoscopia e com auxílio robótico, que é uma técnica cirúrgica minimamente invasiva, na qual pequenas incisões são feitas na região abdominal para introdução do laparoscópio, equipamento com uma micro câmera integrada que permite a visualização direta da cavidade peritoneal, e dos outros instrumentos cirúrgicos, como pinças, tesouras e grampeadores, visando a manipulação do órgão/tecido alvo.

O segundo tratamento possível nessa situação é a radioterapia, que geralmente vem combinada com uso da hormonioterapia. “O uso da hormonioterapia otimiza a radioterapia, aumenta em mais ou menos 10% a eficácia. Trata-se de um medicamento que o paciente recebe para diminuir ou praticamente zerar o nível de testosterona no sangue, a fim de dar uma murchada na próstata”, explica.

Há ainda um terceiro caso, o mais grave, que é quando esse câncer já apresenta metástase, ou seja, migrou para outros órgãos. Nesse tipo de tumor, as metástases mais comuns são nos gânglios, ossos e pulmão. “Se for esse o caso, há algumas dezenas de opções de tratamento, a cada ano surgem novas opções e medicamentos, além de combinações de 2, 3 medicamentos. Pode ser hormonoterapias, imunoterapia, quimioterapia, radioisótopos e eventualmente pode entrar na radioterapia também”, revela.

Riscos

Os riscos da doença em si são semelhantes a todo tipo de câncer, ou seja, progredir localmente ou à distância (a metástase). Se a progressão for local, pode causar obstrução do canal e os problemas provenientes disso, como dores e insuficiência renal. 

Se ele for para os ossos, pode causar dor e problemas na coluna, e no caso do pulmão, insuficiência cardíaca. Há ainda os pequenos riscos envolvidos no tratamento. “No caso da hormonioterapia, os sintomas são risco cardiovasculares, sobretudo se já havia problemas pré-existentes, e sintomas parecidos com os da menopausa, como fogacho, alteração na disposição e no sono”, diz Korkes.

Em toda radioterapia e cirurgia, sempre há previsão de alguns riscos também. Fernando explica que no caso desses tratamentos, os médicos têm um objetivo chamado de trifecta, E o que é isso, afinal? É, em primeiro lugar curar esse câncer, em segundo lugar minimizar os riscos que esses tratamentos trazem e que mais prejudicam a qualidade de vida, sobretudo preservando a continência urinária. Por fim, preservar também a potência sexual.

A próstata, como sabemos, está associada à fertilidade, mas ela está muito perto de outras estruturas, como o esfíncter urinário que tem a função de controlar a urina. Portanto, esses tratamentos podem interferir no controle da urina. Outra estrutura que está perto são nervos que provocam a ereção, que também pode ser afetada.

A radiação da radioterapia pode queimar não só o tumor, como outros órgãos como a bexiga, o reto e o intestino, a pele, e podem vir alguns sintomas disso. Mas o urologista garante: hoje os tratamentos têm ficado cada vez melhores, então esses riscos têm diminuído bastante. 

“Essas campanhas durante o mês de novembro são extremamente importantes, porque como essa é uma doença curável na maior parte dos casos, Infelizmente, os homens têm pouco o hábito de procurarem exames de rotina e é extremamente importante pegar essa doença no começo. A campanha também conscientiza quem está ao lado deles, um parceiro ou parceira. Existe um dado de que um homem casado vive mais do que um solteiro, e uma das explicações é que tem alguém do lado dele pra levar ele no médico”, conclui Fernando. 

Se você leu esse artigo até o final, é hora de se cuidar - ou lembrar alguém de se cuidar também. Faça seus exames de rotina anualmente e esteja atento aos sinais: o seu corpo fala. 

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Para Inspirar

Kanynary em "A cultura indígena ainda é desconhecida no Brasil"

O segundo episódio da décima terceira temporada do Podcast Plenae é com Kanynary, representando o pilar Contexto!

24 de Setembro de 2023



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

[trilha sonora]

Kanynary:
Um dia desses, me falaram: “Você é indígena? Nossa, mas você fala bem o português! E desde quando índio usa celular?”. E eu respondi: “Você é brasileiro? Então por que tu se sentes no direito de usar o celular e eu não posso?”. “Ah, porque você indígena.” Eu falei: “Se fosse por esse raciocínio, então nenhum brasileiro usaria o telefone, até porque a gente não participou da criação nem do protótipo do celular”. E o cara ficou sem resposta.

[trilha sonora]

Geyze Diniz:
Ao criar a Nativos, primeira equipe de e-Sports totalmente indígena do país, o ativista Kanynary prova na prática que não há contradição entre ser indígena e usar tecnologia. Principalmente quando este movimento busca lutar contra o bullying e o preconceito entre os jovens. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.

[trilha sonora]

Kanynary:
O Rio Purus nasce no Peru, atravessa o Acre e cruza o estado do Amazonas, até desaguar no rio Solimões. Na beira do Purus vivem mais de 17 povos indígenas. O meu povo, Apurinã, é um deles. Existem hoje mais de 15 mil Apurinã nas aldeias. Contando com os que tão na cidade, eu acredito que esse número ultrapasse os 35 mil. O nosso tronco linguístico é o Aruak-Maipure. Nas comunidades mais isoladas, que foram descobertas recentemente, as pessoas só falam o idioma tradicional, da criança ao adulto.

Eu não falo 100% do meu idioma, porque eu fui criado em Manaus. A minha mãe saiu da aldeia um pouco antes de eu nascer, junto com os meus avós, por causa das complicações na gravidez. O nosso pajé me deu o nome de Kanynary, que significa “o pajé que saiu do fogo” ou “o pajé que venceu o fogo”. Só que, quando a minha mãe foi ao cartório me registrar, disseram que era um nome impróprio. No documento, eu sou John Brendon. Mas eu prefiro Kanynary.

[trilha sonora]


Eu sofri muito preconceito na cidade por causa da minha origem. A discriminação começou na vizinhança, porque a minha avó fazia questão de mostrar quem ela era. Ela usava colares indígenas e falava português com bastante dificuldade. Quando eu fui pra escola, o negócio piorou. Eu sofria agressões verbais e até físicas. Ainda bem que eu praticava capoeira e sabia me defender.

Mais tarde eu fui saber que o meu caso não era isolado. São muitos relatos de jovens que saem das aldeias para estudar na cidade e sofrem bullying. É pior ainda praqueles que falam português com dificuldade. Eu cresci escutando as histórias da minha avó. O orgulho que ela tinha de ser indígena me deu forças pra seguir em frente. 

Ela contava que tinha as noites certas para caçar, as noites mais escuras, quando os animais não conseguiam ver a gente. Ela contava que saía para pescar de madrugada com meu avô, usando só uma lamparina pequena. Eram muitas histórias. E eu sentia a emoção dela ao relembrar o passado.


Ela nunca se adaptou a Manaus. Quando eu tinha uns 9 anos, ela adoeceu e faleceu. Ela queria voltar pra aldeia, mas eu acredito que ela tinha medo de levar as doenças da cidade para as pessoas de lá. O nosso sistema imunológico é diferente. Eu mesmo não tenho resistência pra gripe. Sou forte pra um monte de doenças, mas pra gripe, não, eu fico de cama.

Os relatos da minha avó me fizeram sonhar com a vida em uma comunidade indígena. Imagina um lugar onde o mercado é a floresta e a drogaria são as raízes que as pessoas colhem na mata?

[trilha sonora]

A minha primeira experiência com o meu povo aconteceu quando eu tinha 17 pra 18 anos. O meu tio-avô, que se chama Adriano Batista, era tuxaua de uma aldeia que fica no município de Tapauá. Enquanto o cacique é o líder de uma comunidade, o tuxaua ganha esse título quando outros povos reconhecem a liderança dele.

O meu tio-avô era tuxaua não só dos Apurinã, mas também dos Paumari, dos Jamamadi e de outros povos. Ele me convidou pra uma festa tradicional que durava três dias e três noites. Foram três dias e três noites dançando, a gente só parava pra comer.


A comida era muito boa. Pela conservação do alimento, a carne é assada ou moqueada. Moquear é um processo de defumação tradicional. A gente comia peixe e caça, tipo porco do mato, javali, anta e paca. Esquece o arroz e macarrão. O carboidrato vem do biju, que é uma farinha de macaxeira feita na hora com uma textura bem diferente.

Tinha frutas também. Maracujá, cacau e outras que a gente não tem na cidade. A bebida era o caiçuma, à base de macaxeira cozida e batida com água. Quando a pessoa sabe preparar, o caiçuma fica meio doce. Agora, quem não sabe, deixa um sabor meio amargo.

[trilha sonora]

Depois de três dias e três noites, eu não me senti cansado. Pelo contrário, eu tava 100% renovado, como se a minha energia tivesse passado por uma limpeza. Quando terminou a festa, o meu tio me convidou pra vigiar a praia do Tauá Mirim, um rio onde acontece a desova de vários animais de casco, como tartarugas, iaçá, jabuti...

Eu vi bem de pertinho tanto as tartarugas quanto os seus predadores naturais, tipo a onça pintada, o gavião, o jacaré… Meus parentes achavam que eu não ia me adaptar naquela vida. Só que depois que eu entrei na floresta, eu não queria mais sair. Eu decidi conhecer a comunidade de origem da minha avó, no município de Pauini. Na época tinham 16 aldeias naquela região, a maioria Apurinã.

Pra chegar em Pauini saindo de Manaus, precisa fazer uma viagem de barco que demora seis dias. Eu fui recebido pelos meus familiares e participei de uma reunião. Nessa conversa, eu soube que o pessoal não estava conseguindo encontrar um professor para as crianças. Era difícil porque a aldeia fica a dois dias e meio de barco, a partir de Pauini. Ela é tão inacessível, que o registro dela na Funai é “maloca escondida”.  

Daí eu pedi a palavra e falei: “Se vocês quiserem, eu posso dar essa força pra vocês. Eu posso ensinar as crianças”. E o cacique Valdecir, que inclusive é meu tio, me disse: “Meu filho, se tu tiver apto pra nos ajudar, é contigo”. No dia seguinte, eu fui na prefeitura pra assinar os papéis e, três dias depois, já estava indo pra comunidade.

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Eu morei três anos na aldeia e foi uma experiência maravilhosa. Eu tinha 27 alunos, da alfabetização à quinta série, todos numa sala só. Aprendi a dar aula na prática mesmo e tenho muito orgulho dessa experiência.

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Quatro desses estudantes já estão indo pra faculdade, apesar de todas as dificuldades. Pra prosseguir os estudos, as crianças precisam deixar a aldeia e ir pra cidade mais próxima. Só que os pais não têm dinheiro pra mandar pros filhos. Imagina uma criança de 12, 13, 14 anos longe da família, sem ter o que comer? Elas chegam a passar fome mesmo. Pior. Algumas acabam indo pro caminho errado, caminho da prostituição, do crime.

Eu vi isso de perto, quando saí da aldeia eu ajudei uma gerência de estudantes indígenas, chamado GEIP – Gerência de Estudantes Indígenas do Município de Pauini, na época o coordenador era o Eurico Apurinã, um amigo de luta até hoje. A gente gerenciou mais de 350 estudantes e eu comecei a observar que, além da solidão e da fome, eles tinham que enfrentar um problema que eu conhecia: o bullying.

Eu cheguei a procurar um diretor de escola pra conversar e ouvi do diretor que os comentários eram brincadeira de criança. A gente promovia reuniões com os estudantes e eu notava que eles chegavam tristes. Depois da conversa, eles se animavam um pouco e, na saída, se reuniam em pequenos grupos, pra jogar joguinho de celular, ou ficar olhando o coleguinha jogar.

Os jovens indígenas têm dificuldade de praticar esportes tradicionais, tipo o futebol, por causa do preconceito das outras pessoas. Eu vi que o jogo de celular era o lazer deles. No município de Pauini não tem fibra óptica. O sinal é só via satélite, e é muito ruim. Os meninos baixavam o jogo na casa de algum parente ou na sede da Funai e iam pra rua brincar. Isso me deu um estalo: e se eu criasse uma equipe indígena de jogos eletrônicos?

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Eu comecei a me inteirar sobre e-sports e eu vi que esse tema estava se desenvolvendo no Brasil e no mundo. E assim nasceu a Nativos E-sportsA ideia não era só fazer com que esses meninos tivessem uma distração, mas também que eles ganhassem autoestima. Eles poderiam conquistar um reconhecimento que, na escola, não tinham.

Era uma forma também de unir jovens de diferentes povos e gerar uma sensação de pertencimento. Eu publiquei um vídeo no Instagram em busca de jogadores e apareceram mais de 60 interessados. Veio o povo Xukuru, povo Kariri Xocó, povo
Fulni-ô. A nossa iniciativa trouxe esperança para os jovens não só do estado do Amazonas, mas também para outras regiões do Brasil também.

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Nós chegamos a participar de uma edição da Taça das Favelas, um torneio voltado para as comunidades da periferia. O Taça das Favelas começou com futebol, mas se expandiu também para os games. Nós formamos uma equipe de 7 jogadores, sendo quatro titulares, e nós chegamos na semifinal do Campeonato Estadual, jogando Free Fire. Os meninos se dedicaram muito.

A gente só não foi pra final, porque a nossa conexão estava horrível e os nossos celulares travaram pra caramba. Quando a gente foi eliminado, eu pensei que a galera ia ficar triste. Mas não. Os meninos ficaram felizes, consideraram o resultado uma vitória. Eles nunca nem tinham participado de um evento daqueles.

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Não existe nenhuma contradição entre ser indígena e usar a tecnologia. Pelo contrário. A tecnologia e os povos indígenas andam juntos, e não é de hoje. Muitos remédios que a gente conhece vieram da sabedoria ancestral. Um cientista não sai pegando um capim aleatoriamente e testando. Ele se inspira no conhecimento de alguém e esse alguém são os povos indígenas.

Eu n
ão vou deixar de ser indígena porque eu tenho um celular ou um computador. Se eu puder fazer com que um jovem sinta orgulho da origem dele através do mundo tecnológico, eu considero a minha missão cumprida. 


A inclusão dos povos indígenas no e-sport e na tecnologia é necessária. Mas ela só vai acontecer de fato quando todos nos aceitar. A inclusão não pode ser uma palavra só do livro, ela tem que ser uma ação prática. E isso se faz através do conhecimento. A cultura indígena ainda é muito desconhecida na sociedade brasileira.

Olha, eu acho que as pessoas deveriam fazer uma visita de três dias…  uma semana… a uma aldeia, pra sentir na pele o que um indígena passa. A gente ainda tá trilhando o caminho da inclusão. A gente cai, mas levanta e segue em frente. Eu sei que um dia toda a sociedade vai segurar na nossa mão e a gente vai estar de pé, firme e forte.

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Geyze Diniz:
Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.

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