Para Inspirar
Conhecido como o “amor mais forte do mundo”, a ciência explica como não é preciso gerar para que esse sentimento seja aflorado
7 de Julho de 2023
Chegamos ao final da décima segunda temporada e ela não poderia fechar de forma mais emocionante: com o relato de maternidade de Fabiana Fabris. Ela, que adotou 5 filhos - sendo 4 irmãos -, narra em seu episódio um pouco de como foram as suas tentativas de gestar e como ela entendeu que, para ser mãe, havia algo muito maior e mais profundo do que conseguir engravidar.
Foi quando Fabris retomou um sonho antigo, que era o de adotar crianças com idade até mais avançada. O que ela não sabia é que essa jornada seria repleta de aprendizados, sendo que o principal deles foi a chave do sucesso: entender que o amor materno é, na realidade, uma construção. E é sobre isso que falaremos hoje!
Toda mãe é um pouco cientista, como já disse o ditado. Mas, em abril, às vésperas do Dia das Mães, fomos entender um pouco mais sobre essa relação entre ciência e maternidade. Chegamos a algumas curiosidades sobre o tema. São elas:
O simples toque de uma mãe, onde há um investimento de libido - essa energia que habita em todos nós - é capaz de acelerar processos de cura, diminuir dores, entre outros benefícios comprovados para a saúde.
A saliva materna também é capaz de curar e, até mesmo uma chupeta limpada pela boca de uma mãe já oferece esse benefício
A mãe é a porta de entrada para a linguagem, se tratando de bebês muito pequenos.
A figura materna é tão onipresente que há indícios de que os homens da caverna já possuíam sua própria forma de chamar pelas suas.
Mães que continuam trabalhando apresentam menos chance de ter depressão, mais energia e mais mobilidade.
Para as mães que gestam, o processo da gravidez envolve, dentre outras coisas, transmitir nutrientes e células pela placenta.
Além dessas curiosidades, sabemos também que há um processo hormonal complexo e muito benéfico que está intimamente ligado à maternidade. Estamos falando da liberação da ocitocina que, como te contamos aqui, é um dos hormônios ligados ao bem-estar.
Produzido pela glândula da hipófise, também localizada no cérebro, sua principal função é promover a saída de leite das glândulas mamárias, ou seja, muito importante para as mães que estão amamentando. Porém, no cérebro ela também tem apresenta funções que estão relacionadas ao cuidado, a sensação de amor fraternal, materno, paterno.
Estudos comprovam, aliás, que animais com mais ocitocina tendem a ter mais cuidado com filhotes e são mais sociáveis. Um “atalho” para liberar mais ocitocina é, por exemplo, segurar um bebê, ter um animal de estimação ou até mesmo ter uma planta - esse em menor grau. Tudo que estimule a sensação de cuidado trará junto a sensação de felicidade, aquela que sentimos quando estamos perto de um filhote.
Esses foram alguns dos muitos exemplos possíveis do que a ciência já estudou em relação ao amor materno, que é uma das manifestações mais antigas, potentes e analisadas do mundo. Mas, é importante lembrar que o amor materno é uma construção. Não é imediato e nem inerente a nenhum processo automático.
Todos os dias, mães se sentem confusas e pressionadas a sentirem esse mergulho intenso e prometido quando, na verdade, ainda não o sentem. E essa culpa materna, como te contamos aqui, vai se acumulando e se tornando nociva para as duas partes desse relacionamento: mãe e filhos.
Esse assunto é tão importante que dedicamos um Tema da Vez inteiro só para pensarmos na maternidade de forma mais ampla e livre de tabus ou preconceitos. A começar pelo famigerado instinto materno, refutado por diversos estudos que vão da psicanálise à antropologia, da sociobiologia à etologia.
Esse desejo pela maternidade, que muitas vezes é legítimo, outras vezes é influenciado em grande medida pela nossa cultura, estruturas políticas e econômicas. As mulheres têm filhos por várias razões, incluindo o desejo de satisfazer pais, maridos e amigos, pelo medo da solidão e até mesmo como investimento na velhice, o que está longe de ser um impulso de procriar.
Atrelar a maternidade a um suposto instinto biológico contribui para a construção da imagem da mãe que dá conta de tudo, pois seria “natural para ela”. Essa idealização gera uma enorme pressão, e é por isso que mulheres buscam quebrar o silêncio na busca de “desmascarar a maternidade”. É o caso de Katherine Wintsch em seu Ted Talk, onde ela revela que em um estudo com mais de 5 mil mães de mais de 17 países, todas, sem exceção, sofrem por não atingirem esse ideal.
Agora que desmistificamos essa ideia de que o instinto materno é real e que uma mãe nunca cansa e sempre ama o seu filho é lenda, podemos pensar também nas mães adotivas, que têm frequentemente o seu amor pelos filhos colocados em xeque por não terem gerado suas crias. Parece absurdo, afinal, adotar exige ainda mais intencionalidade do que engravidar, portanto, parte-se do princípio que essa mãe que adotou quis muito ser mãe.
Podemos começar por ela novamente: a ciência. Um estudo comprovou que o estímulo do cuidado de uma mãe adotiva libera a ocitocina que explicamos anteriormente tanto quanto a maternidade biológica. Essa ocitocina vai educando e explicando para o cérebro dessa mãe que ela agora é responsável por aquela vida, portanto, o senso de obrigação é o mesmo.
Essa modificação cerebral e esse hormônio se dão por meio de sorrisos, afetos positivos, elogios, palavras positivas e encorajamento ativo. Os testes demonstraram que, nos primeiros meses da adoção, a empatia dessa mãe está relacionada à uma imagem de crianças em geral.
Mas, com o decorrer do tempo, a produção de ocitocina é maior quando essa mesma mãe é exposta a imagens específicas do seu filho, o que demonstra como esse vínculo foi fortalecido ainda mais. O cérebro dessa mulher passa a se comportar de maneira bem próxima ao de uma mãe que gerou.
Para que a ciência seja colocada em prática, é preciso, claro, convivência. Por isso mesmo, a lei brasileira garante que pais que adotaram têm direito à licença parental, justamente porque entende-se que o trabalho é o mesmo ou até maior, pois exige essa conexão com o universo prévio dessa criança, que precisa se sentir segura e parte dessa família. Incluí-la em atividades, como demonstra essa pesquisa, é um caminho eficaz para isso, tipo jantares ou encontro com outros familiares.
Para Fernanda Fabris, personagem do nosso Podcast, o caminho encontrado foi entender primeiramente que essas crianças não precisam ser salvas e que você não está fazendo nenhum favor ao adotá-las, mas sim, que elas precisam ser amadas.
Em segundo lugar, entender que essa adaptação não tem que vir só da parte dessa criança, que ela precisa ser “fácil” para as coisas darem certo. Até mesmo porque, muitas vezes, essa criança foi machucada e naturalmente possui menos mecanismos para lidar com seus sentimentos do que um adulto. Quem faz dar certo, como diz Fernanda, é a mãe e o pai, não o filho.
Em seus estudos, Fernanda se aprofundou no comportamento de cada idade, nos estudos de neurologia e na psicologia. “Eu aprendi que a criança que sofreu acolhimento tem a região da amígdala cerebral mais estimulada. A amígdala é a estrutura ligada às emoções. Por outro lado, o córtex cerebral delas, que é o sistema que representa a razão, é menor. Toda vez que essas crianças se veem numa situação de perigo, elas reagem. E não adianta bater de frente. Não adianta gritar, que é justamente o que nós, pais, fazemos. A ciência mostra que, quando a gente vai construindo o vínculo afetivo, a pessoa passa por um processo de neuroplasticidade. Ela começa a pensar e agir de forma consciente”, conta ela.
Com a psicologia, ela entendeu que a rejeição era um mecanismo de defesa inconsciente das crianças, que pensam “Se eu gostar dela e ela me levar de volta para o abrigo, eu vou sofrer. Então, eu rejeito ela, assim ela não gosta de mim, eu também não gosto dela e eu não sofro”.
Foi preciso ainda que ela mergulhasse dentro de si, em um processo de autoconhecimento profundo, para entender que alguns de seus desconfortos diziam respeito a padrões dela mesmo, e de mais ninguém. De dores da sua própria infância, projetadas ali, na infância de seus filhos.
Por fim, Fernanda aprendeu ainda a respeitar e valorizar o passado prévio dessa criança, a importância da sua família biológica e ensiná-los a continuar escrevendo a sua história a partir dali. “A adoção não vem com uma borracha mágica. A gente tem que ter muito respeito por essa família, para que os nossos filhos se aceitem e se livrem da culpa que eles carregam. Quando a gente respeita os pais biológicos, a gente ensina as crianças que elas têm que se respeitar, que elas são dignas de amor e de afeto”, conta.
“Todos os dias eu vejo famílias que entram no processo adotivo com a intenção de fazer uma caridade. O problema é que, com essa mentalidade, esses adultos vão esperar um senso de gratidão em troca. E a criança e o adolescente não tem nem maturidade cerebral para ser grato. É um erro pensar que as crianças precisam ser salvas. Elas só precisam ter pais e mães. Elas precisam de amor”, conclui.
Histórias de amor familiares são escritas à várias mãos. Liberte-se da ideia de que elas se dão de maneira automática e comece a construir a sua própria, da maneira como ela funciona para você.
Para Inspirar
A força poderosa que distingue o ser humano das demais espécie exerce grande efeito em nosso sistema nervoso
18 de Junho de 2021
Você já deve ter ouvido falar no livro “Sapiens”. Escrito pelo historiador contemporâneo, Yuval Noah Harari, o best-seller traz revelações e reflexões sobre a evolução da nossa espécie. Em um dos capítulos, Harari discorre sobre a fé e seu papel social.
Para ele - e outros pesquisadores - ela é um fator importante na história da nossa evolução. Graças a capacidade de crermos, conseguimos cooperar mutuamente em nome de um mesmo objetivo. Era por acreditarmos que a ilha do outro lado do oceano abrigava propriedades mágicas, que cooperávamos mutuamente para chegar até lá, em um exemplo mais simples.
E assim a fé nos trouxe longe e se mantém ainda como um importante pilar para o equilíbrio de nossas vidas. Em seu episódio na quinta temporada do Podcast Plenae, Fafá de Belém relata como essa espiritualidade a acompanha de forma tão intrínseca, que teve início ainda antes do seu nascimento.
Quando vivencia manifestações sagradas, seja em missas, celebrações ou meras visitas a templos, a cantora relata uma sensação de “flutuar”, como se estivesse se afastando do chão e elevando-se à um estado de consciência maior e diferente. E essa sensação pode ter uma explicação científica.
Apesar de serem tidas como antônimas ao longo dos séculos, a ciência parece ter alimentado um interesse genuíno nas manifestações espirituais. Uma das conclusões mais conhecidas e exploradas acerca da sensação que a cantora Fafá de Belém relata são as experiências extracorpóreas.
Dois pesquisadores da Universidade de Ottawa decidiram examinar o cérebro de uma mulher que dizia sentir essa sensação de estar “fora do corpo” enquanto ela acontecia. Os resultados,
publicados na revista Frontiers of Human Neuroscience
, foram surpreendentes: o scanner cerebral utilizado para essa análise apontou uma desativação intensa do córtex visual, em contrapartida a um aumento significativo do lado esquerdo associado à imagens cinestésicas.
Vale lembrar que a cinestesia é “o sentido da percepção de movimento, peso, resistência e posição do corpo, provocado por estímulos do próprio organismo" segundo definição do dicionário Oxford. É ela quem permite que a gente se sinta exatamente onde nosso corpo está em relação ao resto do mundo.
O que isso tudo significa, afinal? Que o cérebro não está mentindo, e que a percepção neurológica daquela pessoa é de realmente estar “fora” de si. Mas não há confirmações científicas de que essa sensação tenha algo a ver com alma ou outras explicações astrais.
É quase como se fosse uma alucinação, desencadeada por algum mecanismo neurológico ainda não esclarecido totalmente. Os pesquisadores desse mesmo estudo ainda reforçam que experiências fora do corpo podem ser induzidas “por traumas cerebrais, privação sensorial, experiências de quase-morte, drogas psicodélicas e dissociativas, desidratação, sono e estimulação elétrica do cérebro”, e que, em algumas pessoas, isso pode ser induzido a acontecer.
Além da experiência extracorpórea mencionada, a fé ainda gera outras movimentações cerebrais. Já se sabe que, quando uma pessoa está em plena atividade espiritual, o seu cérebro ativa a região de recompensa - a mesma área ativada quando estamos apaixonados , quando um sujeito usa droga, escuta música ou até quando recebemos um like nas redes sociais.
Tudo que é ligado ao prazer ativa esse mesmo circuito, que por sua vez, libera uma cadeia de hormônios em nossa corrente sanguínea, todos relacionados ao nosso bem-estar - como a dopamina e a serotonina.
Um outro estudo, esse comandado pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos, revelou que "poderosos sentimentos espirituais estão claramente associados à ativação do núcleo accumbens, uma região do cérebro que tem papel fundamental no sistema de recompensas, cuja função é receber e propagar pelo organismo os estímulos de prazer".
Raul Marino Júnior, o neurocirurgião autor do livro “A religião do cérebro: as novas descobertas da neurociência a respeito da fé humana”, trouxe ainda mais dados em entrevista ao G1 . “Quando o homem começa a se dar conta que ele não é só matéria, que ele deve ter algo por trás, um sopro qualquer que dá a vida pra ele - ele não sabe como surgiu - não adianta você querer explicar as coisas só pela ciência”, diz ele.
Marino explica que a fé é controlada por uma rede de neurônios, “que são células cerebrais que dão ao homem uma coisa que os animais não têm: a capacidade de pensar abstratamente, criar uma metafísica, criar um sistema filosófico, espiritualizado de religião.”
Junto ao fisiologista e psicólogo, Michael Persinger, Raul concluiu um experimento que pesquisava de que maneira o cérebro responde a estímulos eletromagnéticos. A dupla percebeu que, durante um estado de contemplação, muito comum quando estamos rezando, por exemplo, algumas áreas cerebrais são ativadas, como o lobo pré-frontal e frontal, responsáveis pelo controle das emoções. Eles ainda cravaram a existência de um quarto estado de consciência, que seria o estado de meditação.
Um terceiro especialista no assunto, o psicobiólogo Marcello Árias, explica que o homem não tem necessidade de religião, mas sim, de uma espiritualidade que pode dar sentido à vida. Ele diz que neurocientistas começaram a identificar pequenos comportamentos neurobiológicos que podem fazer com que algumas pessoas tenham uma tendência maior a vivenciar uma experiência mística, enquanto outras, por mais que tentem, não vão chegar lá.
Para a coordenadora do Museu de Anatomia da USP, Maria Inês Nogueira, ainda na mesma entrevista, quando a pessoa acredita em algo, o cérebro reage de outra maneira. “Ele reage produzindo substâncias que ajudam você a caminhar de forma melhor ou identificar aquilo que você acredita que seja mais adequado para realizar o seu objetivo”, diz.
Tudo isso nos leva a crer que perder a fé é extremamente prejudicial ao cérebro, como contamos nessa matéria , já que ele é tão impactado positivamente por ela e, em sua ausência, pode ser prejudicado. Independentemente do efeito exato que a falta de crença tem em nossa atividade neurológica e processos de pensamento resultantes, muitas evidências sugerem que “ter algum tipo de crença espiritual está associado a ser mais psicologicamente ajustado e ser fisicamente mais saudável”, segundo Anthony Jack, do Laboratório de Cérebro, Mente e Consciência da Universidade Case Western Reserve.
Você tem trabalhado a sua espiritualidade? Mantenha suas crenças - quaisquer que sejam elas - em dia! Isso mantém o seu cérebro saudável e o seu pilar espírito em ação, rumo a uma vida ainda mais equilibrada.
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