Para Inspirar

Como chegar ao sim

É cada vez maior o número de negociações que precisamos fazer. Uma revolução da negociação está acontecendo em todos os países do mundo.

24 de Abril de 2018


Em uma conversa interativa, descontraída e inspiradora, William Ury compartilhou as lições aprendidas em 40 anos como negociador. Ury até arriscou um pouco de português para agradecer de forma muito bonita o tesouro de sua amizade com Abilio Diniz.

COMO TRANSFORMAR CONFRONTAÇÃO EM COOPERAÇÃO?

É cada vez maior o número de negociações que precisamos fazer. Uma revolução da negociação está acontecendo em todos os países do mundo. Para que consigamos viver em sociedade, nós como indivíduos, organizações, comunidades, países nos vemos a cada vez mais diante da necessidade de chegar a uma solução por meio de negociações.

Essa revolução tem um profundo impacto em nossas vidas, especialmente em nossas relações e na segurança de nosso mundo. E nem sempre temos alcançado os melhores resultados. Basta olhar em volta para notar o quão polarizado está o mundo hoje. Em grandes negociações que abalaram a política mundial em 2016 e 17 como as eleições no Brasil, nos Estados Unidos e nos referendos da Europa, os resultados atingidos vieram graças a decisões tomadas com base no medo.

Medo de ser prejudicado, de “sair perdendo”. Entender a importância de se negociar de maneira agradável vai além do cenário político: está no nosso dia a dia. De manhã à noite, negociamos o tempo todo com família, filhos, amigos, cônjuges, colegas de trabalho, chefes, clientes e com nós mesmos.


Para uma vida mais tranquila e um mundo melhor, como é que nós, humanos, vamos lidar com nossas mais profundas diferenças? Como aprenderemos a negociar? William Ury define negociação de uma maneira simples e bonita como uma comunicação entre dois interlocutores que buscam concordar, geralmente com base em um interesse em comum (a paz, a manutenção do relacionamento, por exemplo) e interesses particulares (a intenção de cada um).

Para chegar até o sim, imagine que você tem que entrar em três cômodos, cada um aberto por três diferentes chaves:

1- VÁ ATÉ A VARANDA E ENCONTRE SEU PROPÓSITO.

William elegeu a varanda como metáfora para essa etapa porque ela é um lugar de perspectiva, de onde podemos enxergar melhor as coisas e notar o que realmente está acontecendo. Uma vez lá em cima, encontramos nosso maior oponente em qualquer negociação: nós mesmos. O que acontece é que para conseguir um sim com o outro, primeiro precisamos chegar a um sim dentro de nós. Isso não é nada fácil.

Afinal, geralmente estamos transitando entre dois estados – ou estamos com medo e ansiosos ou estamos distraídos e alheios. Nesta primeira etapa da negociação, devemos encontrar o ponto de equilíbrio entre esses dois extremos, o que a psicologia chama de janela da tolerância, o ponto ideal em que podemos pensar e sentir ao mesmo tempo, tendo empatia pelos outros e onde conseguimos determinar limites apropriados, sem agir por impulso ou movidos por alguma motivação errada.

Para nos transformar em nossos maiores aliados, precisamos encontrar o fundamento de uma negociação bem-sucedida, que nada mais é que nosso propósito com ela, em primeiro lugar. Devemos nos perguntar: “no final dessa negociação qual será realmente o meu prêmio”? “O que é realmente importante aqui”? Esse propósito-chave é individual e geralmente é aquele que conseguimos resumir em uma só palavra que vem do coração – e não em uma porção de metas concretas que nosso consciente apresenta como respostas óbvias.

2- VÁ ATÉ O QUARTO DO OUTRO E OUÇA O QUE ELE TEM A DIZER.

A segunda etapa está diretamente ligada à nossa habilidade de ouvir. De ir até a pessoa com quem estamos negociando e entender o que ela está pensando e sentindo nessa negociação. Se em uma negociação, geralmente estamos querendo fazer outra pessoa mudar de ideia, como podemos fazer isso se não conhecermos realmente as ideias dela?

Ouvir é a melhor maneira de demonstrar respeito por alguém – e respeito é a concessão mais barata que podemos fazer numa negociação. A escuta ideal não se trata apenas de ouvir as palavras, mas sim de ouvir as entrelinhas, o que existe por trás do que o outro fala. Por trás de uma frase, o que ele está sentindo? O que ele não está dizendo? O que ele está pensando?

É claro que só conseguimos estar com a mente tranquila para chegar até esse cômodo a partir do momento em que desbloqueamos o sim no passo anterior e clarificamos nossos próprios pensamentos e objetivos na negociação em questão. Muitas vezes, nesta etapa, você pode até mesmo descobrir que o propósito-chave dessa pessoa é o mesmo que o seu, o que aumenta a empatia no processo e pode facilitar as decisões.

3- VÁ ATÉ A SALA ONDE RESIDE A NEGOCIAÇÃO COMO UM TODO. REFORMULE-A POR COMPLETO.

Por fim, após escutar a si mesmo e ao outro é necessário voltar para a negociação, para o problema que você e a outra parte estão enfrentando. É, então, hora de exercitar o maior poder da negociação: o de reformular. Não reformular as ideias do outro, mas sim o jeito como enxergamos a situação e escolhemos nossas opções dentro dela. Infelizmente, temos a tendência de sintetizar uma negociação como um jogo em que temos apenas duas escolhas: ganhar ou perder.

Mas temos mais opções e poder de escolha dentro de nossas próprias vidas do que acreditamos. Uma negociação vencedora é aquela na qual mudamos nosso mindset para explorar e analisar inúmeras possibilidades. A vida é muito curta para viver em constante conflito, muitos deles impostos por nós mesmos, sem questionamentos.

Quando mudamos nosso mindset e percebemos que toda negociação não se trata apenas de quem ganha ou quem perde, mas que ela traz dentro de si muito mais do que fomos treinados a enxergar, conseguiremos sempre chegar a um sim, juntos. E um sim muito melhor do que o de antes, para todos os envolvidos – principalmente nosso eu mais profundo.

 Se todos nós enxergarmos o universo como um lugar hostil, também vamos nos tornar hostis – e acabaremos por transformar o universo em um lugar hostil, de fato. Porém, se decidirmos pelo contrário, a mesma lógica se aplica. A escolha de enxergar o universo como um lugar amigável, alegre, pleno de possibilidades e compreensão está dentro de nós. Vamos tentar, juntos.

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Para Inspirar

Desmistificando conceitos: o que é a fibromialgia?

A dor crônica e autoimune ainda instiga os cientistas, mas algumas explicações de causa e tratamento já existem e podem melhorar a vida de quem sofre com isso

24 de Agosto de 2023


Nosso cérebro, esse órgão exaustivamente abordado em artigos aqui no Plenae, é capaz de produzir maravilhas. Ele, aliás, é o que nos difere de todas as outras espécies da natureza: se um dia ele já ofereceu desvantagem evolutiva por ser pesado e não nos permitir correr tão rápido, com o tempo e seu devido uso, ele nos colocou no topo da cadeia alimentar.

Mas, nem só de graças cognitivas nós vivemos e usufruímos. O cérebro, em toda sua complexidade, também nos engana e cria situações e até doenças cujo teor não era físico antes, mas logo se torna. Afinal, como já sabemos, é impossível separar o corpo da mente e, se um adoece, o outro adoece junto. 

Um desses adoecimentos que vem intrigando os cientistas cada dia mais é a fibromialgia, cujos primeiros relatos clínicos mais sérios datam de 1970 - praticamente ontem, se tratando da história da ciência. A seguir, vamos desmistificar mais um conceito e mergulhar nesse mistério já não tão misterioso assim!

Onde dói? Tudo!

Presente na Classificação Internacional de Doenças, o CID, a Síndrome da Fibromialgia, ou somente fibromialgia, vem sendo estudado há pelo menos quatro décadas de maneira intensa e muito séria pelos cientistas. Isso porque ela não era considerada uma entidade clinicamente bem definida até a década de 1970, quando foram publicados os primeiros relatos sobre os distúrbios do sono, como conta esse artigo de revisão

Foi em 1977 que foram descritos os primeiros sintomas nos portadores da moléstia, como locais específicos do corpo com exagerada sensibilidade dolorosa (chamados de tender points), distúrbios do sono (mesmo quando induzidos experimentalmente) e o caráter crônico, ou seja, persistente e aparentemente sem cura. 

A questão principal sobre a fibromialgia é a dificuldade em diagnosticá-la, já que não há um exame específico que a rastreie. O veredito dado pelo médico vem da anamnese, que é a conversa que o médico tem com o paciente para analisar o histórico clínico, além de alguns parâmetros de dor específicos como:

  • Presença na história clínica de dor generalizada, afetando o esqueleto axial e periférico (ossos da cabeça, do pescoço e do tronco), ou seja, acima e abaixo da cintura, com duração superior a três meses; 

  • Exame físico com dor à palpação com força em pelo menos 11 dos 18 tender points estabelecidos; 

  • Sensibilidade generalizada dos músculos, áreas ao redor de tendões e tecidos moles adjacentes; 

  • Rigidez muscular;

  • Fadiga; 

Outros sintomas ainda como dor após esforço físico, confusão mental, transtorno do sono e depressão costumam estar associados ao problema, seja como causa ou consequência. As dores com duração superior a de 3 meses podem sumir e voltar de acordo com alguns gatilhos, como o estresse, o desenvolvimento de doenças ou o acontecimento de eventos traumáticos, segundo artigo do hospital Albert Einstein

Portanto, não há um teste que comprove ou descarte a fibromialgia. Os pacientes apresentam provas de atividade inflamatória e exames de imagem normais. Ela é diagnosticada a partir da análise desses sintomas mencionados e da exclusão de outras possíveis doenças. Alguns exames podem ser solicitados justamente para a exclusão dessas outras possibilidades, como: 

  • Hemograma completo

  • Testes de tireóide

  • Dosagem de vitamina D

  • Dosagem de anticorpos para a doença celíaca, entre outros.

O público alvo da fibromialgia

A fibromialgia, infelizmente, é bastante comum, sobretudo no público feminino. Estudos apontam que ela ocorre 7 vezes mais em mulheres, geralmente jovens ou de meia-idade, do que em homens, crianças ou adolescentes. Um outro estudo, realizado pelo Colégio Americano de Reumatologia, encontrou uma prevalência de 3,4% para as mulheres e 0,5% para os homens e de 2% para ambos os sexos. 

Um estudo brasileiro determinou a prevalência de 2,5% na população, sendo a maioria do sexo feminino, das quais 40,8% entre 35 e 44 anos de idade. Ela é o segundo distúrbio reumatológico mais encontrado, superada apenas pela osteoartrite, e frequentemente ocorre em pacientes com outras doenças reumáticas sistêmicas que não estão relacionadas, mas que podem dificultar o diagnóstico.

O mecanismo que ocasiona a fibromialgia ainda não é muito claro para os estudiosos. A hipótese mais aceita é a de que se trata de uma alteração em algum mecanismo central de controle da dor, resultado de uma disfunção de neurotransmissores, como deficiência serotonina, encefalina, norepinefrina e outros ou uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios. 

Pode ser que seja ambos os casos, e pode ser ainda que essa condição seja geneticamente predeterminada e desencadeada por algum estresse não específico. Isso varia desde uma infecção viral, estresse psicológico ou até trauma físico. A questão é que a vulnerabilidade ao desenvolvimento da fibromialgia parece ser influenciada por fatores ambientais, hormonais e genéticos.

Junto das dores generalizadas e extrema sensibilidade à elas, pode vir ainda outros sintomas, como: 



  • Sintomas de depressão e ansiedade

  • Uma deficiência de memória junto de uma desatenção

  • Dores de cabeça tensional ou enxaquecas mais intensas

  • Tontura, vertigens e formigamentos

  • Distúrbios intestinais como a síndrome do intestino irritável 

  • A síndrome das pernas inquietas

  • E distúrbios do sono como dificuldade na indução, excessivos despertares durante a noite e sensação de sono não restaurador. Esses distúrbios acarretam ainda em outras consequências, como déficits cognitivos, cansaço matinal e a propensão para distúrbios psiquiátricos

Mas afinal, qual o perfil psicológico dos pacientes fibromiálgicos? Muitos estudos apontam para um perfil associado ao perfeccionismo, à autocrítica severa e à busca obsessiva do detalhe, como explica o artigo do Einstein. Mas há um destaque especial: a elevada prevalência de depressão nesses pacientes.

Isso leva os estudiosos a crerem que há uma relação mais forte do que se imagina entre os dois diagnósticos. As características dessa depressão, como a fadiga, os sentimentos de culpa, a baixa autoestima e a vitimização, pioram ainda mais os sintomas da fibromialgia e prejudicam o tratamento. Trata-se então de uma doença psicossomática, que te explicamos por aqui neste artigo

O tratamento

O tratamento da fibromialgia deve ser multidisciplinar, individualizado e contar com a participação ativa do paciente. O médico especialista deve, primeiramente, oferecer todas as informações possíveis sobre o diagnóstico, para que o paciente entenda e empodere-se do tratamento e entenda como é feito o controle da dor. 

Depois disso, os caminhos combinarão as modalidades não-farmacológicas e farmacológicas, devendo ser elaborado de acordo com a intensidade e características dos sintomas. É importante considerar ainda as questões psicossociais envolvidas no contexto do adoecimento, ou seja, qual foi o fator estressante que pode ter desencadeado tudo aquilo? 

As medicações utilizadas nesse caso buscam controlar a dor, induzir um sono de melhor qualidade e tratar os sintomas associados como, por exemplo, a depressão. Medicamentos como antidepressivos, analgésicos e anticonvulsivantes podem ser utilizados, além de terapias integrativas não-medicamentosas, que ajudam a reduzir a dor e o estresse. 

A fisioterapia, a terapia ocupacional e a psicoterapia - que melhora a relação do paciente consigo mesmo e atua reduzindo as questões emocionais - podem entrar nessa jogada. E se o estresse pode ser um grande gatilho para que as crises ocorram, então, um estilo de vida saudável é uma ótima maneira de combater a sua incidência. 

Os exercícios físicos, sobretudo, parecem um atalho muito importante para a diminuição das dores, já que ele ajuda na liberação da endorfina, uma espécie de morfina natural, como te explicamos aqui. Aqui no Plenae, nossa missão é justamente trazer dicas para atingir essa tão sonhada qualidade de vida. Esteja atento ao equilíbrio de seus pilares Corpo, Mente, Espírito, Relações, Contexto e Propósito para, assim, evitar males como a fibromialgia.

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