Para Inspirar
Na décima segunda temporada do Podcast Plenae, se empodere por meio da história de resiliência do surfista Carlos Burle.
4 de Junho de 2023
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Carlos Burle: Não passa nada na minha cabeça enquanto eu tô pegando uma onda gigante. Eu adoro. É um momento de foco total, um estado de flow, de estar totalmente presente. E, quando termina, vem uma sensação de êxtase. É muito empoderador você poder dominar os teus sentimentos, o medo, o receio e a adrenalina.
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Geyze Diniz: Foi no mar que o surfista Carlos Burle se encontrou. Mas, era fora da água que ele vivenciava suas batalhas, tanto para se preparar para garantir a melhor forma física e mental para competir, quanto para ir contra as pessoas que não acreditavam na potência do esporte. Conheça a história de autoconhecimento, dedicação e aprendizado de Carlos Burle. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
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Carlos Burle: Até os dois anos de idade, o meu sono era muito agitado. Eu trocava o dia pela noite e não deixava mais ninguém ao redor dormir. A minha mãe me levou ao médico da família pra saber qual era o meu problema. A receita dele pra eu me acalmar foi um banho de mar. Dizem que, na primeira experiência, eu dormi a noite inteira. A partir desse dia, o mar se tornou a minha segunda casa. A primeira era uma granja, onde o meu pai criava galinhas, a meia hora de Recife, Pernambuco.
Eu descobri o surfe aos 12 anos, na praia de Boa Viagem. Naquela época, não tinha tubarão ali. Eu pegava jacaré no mar e vivia com a barriga assada por causa de uma prancha de isopor. Um dia, meu primo me ofereceu uma prancha de verdade para surfar. O Henrique, meu amigo, entrou na água comigo, mandou eu deitar e ficou segurando a prancha. Quando a onda veio, ele me empurrou e gritou: “Sobe!”. Eu consegui ficar de pé por uns metros, até a onda acabar. Eu me senti eufórico.
No meu aniversário de 13 anos, meu pai me deu de presente uma prancha usada. Eu dedicava todo meu tempo livre a esse novo hobby. No primeiro campeonato que eu participei, fiquei em sexto lugar e ganhei um troféu de revelação. Eu me apaixonei tanto pelo surfe que eu decidi que era isso que eu queria fazer da vida. Quando eu contei pro meu pai, ele me disse: “Olha, se você quiser ser surfista profissional, você vai terminar sua vida empurrando carroça e catando lixo”.
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Nos anos 80, o surfe tinha uma imagem bem marginalizada no Brasil. Era considerado um esporte de vagabundo, de usuário de drogas. Eu me lembro de meu pai me cobrando constantemente: “Me dá uma referência de uma pessoa que tem família, que paga as contas com isso”. Naquela época, os meios de comunicação eram bem mais lentos. Filme de surfe saía um por ano. Revista era de dois em dois meses que eu comprava na banca de jornal do aeroporto. Eu não tinha muito argumento pra dar pro meu pai. O surfe ainda era muito imaturo, não tinha uma grande referência nacional.
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Eu entrei nesse esporte porque eu sou apaixonado pela natureza, pelos bichos e porque eu era rebelde, como todo adolescente. Eu me lembro de um dia estar passeando no calçadão de Boa Viagem e ver quatro surfistas. Eles estavam sem camisa, bronzeados, com as pranchas coloridas, vestindo boardshort. Aquela cena era o retrato da liberdade, que pra mim é o valor mais importante que existe.
Olhando para trás assim, eu agradeço por essas dificuldades. Se tivesse sido fácil demais, talvez eu não tivesse encontrado tanta motivação pra buscar ser um atleta melhor. Eu sou grato a tudo isso, porque pra mim desafio é oportunidade de crescimento. Não tem viagem perdida na mente do aprendiz.
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Desde muito jovem, eu fui entendendo que a minha maior luta era fora da água. Eu precisava me preparar e me capacitar para ser a transformação que eu queria pro esporte. Com a ajuda de um amigo mais velho, eu escrevi uma carta datilografada para buscar patrocínio. Nesse texto, eu deixo bem claro que o meu grande objetivo não era ser campeão mundial. A minha meta era mudar a imagem do esporte. Na carta, eu escrevo também que eu precisava ter, abre aspas, “uma boa condição psicológica que influencie positivamente na minha capacidade técnica”, fecha aspas.
Eu meço 1,72 metro e peso 67 quilos. Com 14 anos, obviamente, eu era mais franzino ainda. Eu precisava desenvolver a minha mente, porque se eu dependesse só da minha força física, ia ter uma desvantagem em relação aos outros surfistas. Numa dessas revistas de surfe importadas, eu descobri que o Tom Curren, um ídolo meu, fazia yoga. Botei na cabeça que ia fazer também. Pouca gente em Recife sabia o que era yoga. Eu comecei a frequentar as aulas de Amelinha e era o único adolescente no meio de um monte de senhorinhas.
Foi pela yoga que eu descobri os pranayamas, que são os exercícios de respiração. Comecei a me interessar por dieta macrobiótica e virei vegetariano. Eu botava arroz integral na mesa e meu pai falava: “Isso é comida de passarinho”. Quanto mais ele me criticava, mais eu queria provar que ele estava errado. Aos 19 anos, eu deixei o conforto de Recife e me mudei pro Rio de Janeiro, onde eu descobri a meditação transcendental, que era moda na época.
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Eu voltei pra minha base, ancorei e passei uns 6 anos em busca de curar as coceiras e a diarreia. O universo começou a conspirar e eu fui me destacando nas ondas grandes. Os resultados foram aparecendo e eu me empoderei. Eu sempre gostei de extremos, sempre gostei de desafios. Para mim, a vida é um laboratório que tem que ser experienciado e aproveitado da melhor forma possível.
Aos 31 anos, pela primeira vez, eu tinha um certo conforto financeiro. Na mesma época, eu me curei e ganhei o Campeonato Mundial de Ondas Grandes na remada, disputado em Todos os Santos, no México. A temporada de 1998 foi um divisor de águas na minha vida. O meu nome ganhou a mídia e eu parecia tá vivendo uma lua de mel.
Eu comecei a praticar tow-in, uma técnica em que o surfista é rebocado por um jet-ski. Os atletas ganharam uma vantagem enorme, porque é muito difícil alcançar uma onda grande só na braçada. E foi assim que eu surfei a maior onda da minha vida, um paredão de 22,6 metros em Mavericks, na Califórnia. Meu nome foi parar até no Guinness Book, o livro dos recordes.
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Na minha intenção de mudar a imagem do surfe, eu fiz fono pra quebrar o preconceito de que surfista não sabe falar. Passei a dar palestras em escolas e em empresas. Eu continuava tendo bons resultados no esporte aos 40 anos. Até que o meu patrocinador chegou para mim e falou assim: “Você topa fazer parte de um projeto inédito? A primeira dupla mista de tow-in no mundo?”.
Eles queriam que eu treinasse uma menina de 19 anos que estava se destacando nas ondas grandes. Eu sempre fui muito bom de avaliar o potencial das pessoas. Eu conhecia a Maya Gabeira superficialmente e sabia do talento dela. Por outro lado, era uma responsabilidade gigante ter uma adolescente sob os meus cuidados. Só que, se desse certo, seria genial do ponto de vista profissional. O marketing seria enorme.
A nossa parceria durou nove anos e o episódio mais famoso dela aconteceu em 2013. A essa altura, eu tinha mais dois pupilos: o Pedro Scooby e o Felipe Cesarano. Nós quatro fomos a Nazaré, Portugal, um lugar famoso pelas ondas gigantes. Naquele dia, o Felipe foi o primeiro a surfar. Acelerei o jet-ski e coloquei ele na ondulação. Ele mandou super bem e ficou em êxtase. Na sequência, puxei a Maya. Ela entrou na onda, só que ela perdeu o controle, caiu e foi engolida pela avalanche de água. Eu resgatei ela do mar e a cena rodou o mundo inteiro.
Eu me ancorei nas rezas, nas meditações, nas respirações, nos mantras, nas visualizações, na yoga. Eu imagino eu e a Maya lá em cima assinando o contrato, antes de nascer. Imagino a gente dizendo: “Nós vamos encarnar para aprender um com o outro”. Eu aprendi muita coisa com ela. Todas as pessoas que estão na minha vida me oferecem uma oportunidade incrível de aprendizado. Por isso, eu honro a vida dessas pessoas e sinto gratidão por elas.
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A minha parceria com a Maya acabou em 2016. Meses depois, eu tive a honra de carregar a tocha olímpica que estava rodando o Brasil inteiro. Em vez de correr no asfalto, eu sugeri surfar com a pira na mão, na praia de Maracaípe, no litoral sul de Pernambuco. Foi lá onde tudo começou pra mim. Em 2017, o surfe foi incluído como esporte olímpico. Eu fico muito feliz por cumprir a missão que eu escrevi naquela carta, aos 14 anos, de lutar pra mudar a imagem do esporte.
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O problema é que, pra fazer isso, eu precisava ficar trancado num estúdio. E eu nunca vou ser feliz preso. Eu preciso de liberdade. Eu voltei pro meu time e falei assim: “Eu não vou produzir conteúdo. Eu vou levar a minha essência pra praia”. Nós abrimos um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e essa operação é o meu espelho. Nesse quiosque tem stand up paddle, canoagem, natação, beach tennis e surfe, é claro. Mas, tem também sustentabilidade, projetos sociais, meditação, yoga e respiração.
Eu acredito que no esporte e na vida a mente é até mais importante que o físico, porque ela produz a nossa realidade. Quando a gente consegue controlar a mente, a gente desenvolve a capacidade de lidar com situações adversas e de surfar em qualquer mar.
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Algumas pessoas acham que eu sou corajoso por surfar ondas grandes. Eu não acho. Pra mim, coragem é assumir a responsabilidade pela sua vida. Eu, por exemplo, olho para trás e vejo que tudo que eu colho, eu plantei. Quando eu assumo o protagonismo da minha vida, eu não posso mais botar culpa na situação, nas pessoas, no ambiente, na política. Eu sou o que eu sou porque eu sou fruto das minhas escolhas.
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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
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Para Inspirar
Mais do que benefícios financeiros, há um movimento cada dia mais sólido de empresas que buscam recompensar seus funcionários de outras formas
26 de Maio de 2021
Que atire a primeira pedra quem não gosta de receber um aumento de cargo e, consequentemente, no salário também. Faz parte do crescimento vivenciar essas etapas para alcançar metas, objetivos e propósitos profissionais, e não há nada de errado em querê-los.
Mas, será que só isso basta para manter muitos engajados em seus empregos? A opinião dos especialistas é unânime: não. E, para isso, existe o salário emocional. “Ele é o aspecto não financeiro e intangível do que é o salário, e tem mais a ver com autonomia, enriquecimento de cargo, horários flexíveis, bom relacionamento entre a equipe - fatores mais do contexto macro do que coisas pontuais que acontecem” explica Beatriz Cançado, especialista em Gestão de Pessoas e mestre em psicologia organizacional pela Universidade de Columbia.
“Existe um certo tanto de salário financeiro que é o mínimo para a pessoa não ficar insatisfeita e isso é um fato que precisa ser seguido. Porém, depois que essas condições são atingidas, não vale a pena eu ficar investindo só nisso. Posso pagar o que for e o colaborador ainda não estará insatisfeito com as condições. Daí pra cima é preciso investir nesses benefícios emocionais”, continua Beatriz.
Marcio Ogliara, professor de educação executiva da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da Faculdade Getúlio Vargas e da Fundação Instituto de Administração (FIA), concorda com a afirmação anterior. “Tenho mais de 30 anos de vivência com RH e há muito tempo já percebemos que não é só o dinheiro. Tem gente que troca de empresa pra ganhar menos, mas porque existem outras compensações onde a pessoa começa ter mais estímulos”, explica.
E quais seriam esses estímulos? “Acho que a primeira coisa é oportunidade de crescimento e desenvolvimento profissional. Muita gente procura empresas que às vezes têm uma carga de trabalho pesada, mas existe uma oportunidade de aprendizado muito grande”, continua Marcio.
“Ter sensibilidade com relação ao momento do colaborador, que ele tenha espaço para a convivência familiar, espaço de crescimento pessoal, viajar, fazer cursos que interessam a ele pessoalmente: isso tudo é uma dimensão importante que precisa ser trabalhada”, diz.
O professor ainda lembra que esse esforço precisa ser não só da empresa, mas principalmente do gestor, que é quem estará diretamente conectado com esse trabalhador e saberá qual “recompensa” não-financeira. Afinal, o que funciona como salário emocional para um, pode não ser tão interessante para o outro.
“A organização entra nessa relação de uma forma mais macro, tendo uma cultura boa, valores, metas, uma coisa mais estrutural. Já o chefe é que vai conhecer seus subordinados e entender o que aquela pessoa quer: é uma oportunidade de desenvolvimento? Mais autonomia e mais convívio com a família? Horários flexíveis? Ou o transporte é uma questão para ela e o teletrabalho vai ser bom?”, pondera.
É importante lembrar que o trabalho deve ser a junção desses fatores. Para manter um empregado feliz e engajado, é preciso que haja um perfeito equilíbrio entre salário financeiro e o emocional. “Pagar muito abaixo e dar um monte de benefícios funcionou para uma geração de pessoas que se contentavam com isso. Mas elas cresceram, começaram a casar e ter filhos, e viram que é preciso ter dinheiro”, diz Beatriz.
Para isso acontecer de forma honesta e realmente eficaz, é preciso que a relação de todos os envolvidos seja transparente e que a empresa esteja aberta a conversas francas - inclusive sobre dinheiro, um velho tabu do mercado. “Dentro das organizações, uma das coisas mais complicadas é gerir as comparações. O ideal é que sua oferta salarial seja sempre equiparável com as organizações de fora, e que dentro as posições tenham salário equivalente”, explica Marcio.
“O que acontece é que muitas organizações não têm esse equilíbrio interno para fazer essa divulgação. Hoje em dia já existem algumas iniciativas para isso, startups e empresas novas estão se arriscando mais, sem medo dos problemas que a transparência pode trazer. Mas isso, definitivamente, ainda não é um assunto ainda bem resolvido”, conclui.
Para a mexicana Marisa Elizundia, especialista em recursos humanos, em entrevista à BBC , para saber o seu salário emocional, é preciso “identificar quais são os fatores do salário emocional que são mais importantes para você e avaliar se eles coincidem com coisas que sua empresa valoriza” e, em seguida, “avaliar como sua empresa os coloca — ou não — em prática.”
Para entender o que pagaria o seu salário financeiro, você tem que conhecer a fundo suas contas e suas necessidades. Mas, para entender o seu salário emocional, você precisa ser verdadeiro com o seu
propósito
e suas motivações. Você saberia metrificar a sua felicidade? Traçar essa meta pode ser importante para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Mergulhe em suas vontades!
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