Para Inspirar
Conheça a história dos caminhos que precedem um atleta olímpico e o levam até o pódio.
10 de Novembro de 2024
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
Caio Bonfim: Eu sou o tipo de pessoa que se alimenta da pressão. Quando eu jogava futebol já era assim. Quanto mais eu apanhava, quanto mais a torcida me xingava, melhor era o meu desempenho. É da minha personalidade. No segundo ano do Ensino Médio, eu escolhi trocar o futebol pela marcha atlética e aguentar os xingamentos na rua durante os treinos.
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Geyze Diniz: Os problemas de saúde na infância não impediram Caio Bonfim de se dedicar ao esporte. Filho de pai treinador e mãe atleta, Caio seguiu os passos da família e trouxe a medalha de prata para casa, uma conquista de todos e que deu luz a marcha atlética, esporte pouco conhecido no Brasil. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
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A minha mãe foi super bem, e meu pai incentivou ela a continuar na marcha. Ela começou a treinar, se dedicar e foi oito vezes campeã brasileira, campeã ibero-americana e campeã sul-americana. A primeira brasileira a ganhar uma medalha internacional na marcha atlética feminina.
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Eu não sei qual foi o dia em que eu aprendi a marchar. Aconteceu naturalmente. A nossa casa respirava o atletismo e marcha atlética. Eu cresci acompanhando a rotina de treinos da minha mãe e as viagens dela. Só que se dependesse da minha saúde na infância, eu não teria sido atleta. Com apenas 7 meses de vida, eu tive uma meningite. Meus pais nem sabiam se eu sairia vivo do hospital.
Com 1 ano e 2 meses, eu comecei a andar e em poucas semanas as minhas pernas entortaram. Os médicos não sabiam o porquê, mas as minhas pernas ficaram bem arqueadas pra fora, como se fosse um alicate. Eu fui operado e fiquei dois meses de gesso, a ideia era corrigir o problema daquele momento, mas os médicos alertaram que elas entortariam novamente à medida que eu crescesse. Só que, em mais um mistério que a medicina não explica, as minhas pernas nunca mais deram problema.
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Nada disso impediu que eu praticasse o esporte. Em casa, o que não faltava era incentivo. Eu lembro que uma vez meu pai chegou em casa num sábado e encontrou eu e meu irmão dormindo. Era tipo meio-dia e ele ficou indignado. Tirou a gente da cama e levou pro estádio onde ele dava treino de atletismo. Com 8 anos de idade, eu já corria de 6 a 8 quilômetros com meu pai.
Um mês depois, eu fui campeão brasileiro. Faz pouco tempo que eu perguntei pro meu pai porque que ele me incentivou a marchar e não a correr. E ele falou: “Quem é a criança que sabe fazer marcha atlética? Ninguém sabe, mas você e seu irmão sabiam. Então, se juntasse o preparo físico e a técnica de vocês com a bagagem que tinham, vocês largariam na frente”. Durante toda a infância, meu pai inscreveu eu e meu irmão em provas de marcha atlética. Mesmo sem treinar, a gente conhecia a técnica. Os resultados foram tão bons, que eu resolvi dar uma chance e trocar o esporte mais popular do país pro menos popular.
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Uma delas é ver que a marcha atlética é pouco reconhecida dentro do atletismo. Aquilo me incomodava. A cada medalha que eu ganhava, eu queria mostrar que o meu trabalho também tinha valor. Essas coisas foram me alimentando, criando a minha identidade e aumentando a minha vontade de fazer parte da marcha atlética.
Mas a pior parte era aguentar os xingamentos na rua. Toda vez que eu treinava na rua, passava um carro, buzinava e gritava alguma coisa. Já era difícil ser adolescente e lidar com a transformação do corpo e da cabeça. Era difícil sustentar a escolha de ser atleta, enquanto os meus amigos começavam a sair, curtir a vida. Mas aqueles xingamentos eram uma escala de agressão que eu não estava preparado.
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A marcha atlética, ela é uma competição de quem caminha mais rápido. Pra diferenciar da corrida, criaram duas regras. Uma é que o atleta não pode tirar os dois pés ao mesmo tempo do chão. A outra é que a perna precisa tá esticada no primeiro contato com o solo. Por causa disso, a marcha tem como característica um rebolado. Pra mim nunca foi estranho, porque era a profissão da minha mãe. Mas pra quem não tá acostumado, é esquisito.
Eu encontrava conforto nas pessoas que me apoiavam. Tinha gente que passava de carro e falava: “'Vamo' lá!”, “Bom treino!”. Mas acima de tudo eu tinha apoio em casa. Eu acho que, pra tudo na vida, o mais importante é ter suporte da família. Meus pais acreditavam em mim. Eles me davam confiança. Eu sempre fui elogiado como atleta pela minha parte mental. Mas na verdade a base dessa força eram os dois pilares que apanhavam junto comigo e absorviam algumas porradas que eu levava. Por causa da minha família, a caminhada não foi tão difícil.
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Nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, o negócio ficou mais sério. Eu terminei em quarto lugar. É uma colocação ingrata, porque você quaaase chega no pódio. Mas foi um resultado que me fez acreditar no meu trabalho. Os meus pais eram meus treinadores e muita gente acreditava que essa relação não daria certo. Ninguém me pressionava, mas eu fazia questão de continuar desse jeito, porque eu confiava muito no trabalho do meu pai.
Meu pai revelou cinco atletas olímpicos, e todos trocaram de treinador quando ficaram grandes. Eu não queria fazer a mesma coisa. E aquele quarto lugar no Rio mostrou que a nossa parceria era boa. E depois daquela Olimpíada eu brinco que o som da buzina mudou. Era sempre um “pã” e um xingamento, e hoje, é um “pan-pan”, 'vamo' lá campeão.”
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Em 2021, nas Olimpíadas de Tóquio, eu fiquei em 13º lugar. Esse resultado eu considerei um fracasso. A pandemia me interferiu muito, e eu percebi que algumas decisões erradas atrapalharam o meu rendimento. Mas foi ali que eu tive um papo comigo mesmo e decidi fazer algumas mudanças pras próximas Olimpíadas. Eu já sabia que eu era muito bom. Já treinava bem. Mas ainda tinha alguns pequenos detalhes que podiam fazer a diferença.
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A minha teoria é que todo mundo é uma estrelinha no céu. Existem alguns cometas Halleys brilhantes, que brilham mais do que tudo, tipo o Usain Bolt, Michael Phelps. A minha estrelinha tá lá brilhando e ela ia brilhar mesmo se eu não tivesse subido no pódio em Paris. Talvez o meu maior legado nem seja a medalha em si. O nosso projeto em Sobradinho, o Caso, hoje tem 35 marchadores. É uma garotada que pode marchar em paz na rua, sem sofrer a violência simplesmente por se dedicar à sua paixão.
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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
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Para Inspirar
Como entender o que está se passando com a outra pessoa pode ser benéfico para a convivência e sociedade como um todo? Leia mais!
4 de Abril de 2022
Quantas vezes você já sentiu uma emoção muito forte tomando conta de todo o seu ser e, ainda assim, parecia não saber comunicar toda essa sensação para as outras pessoas? Se nem nós mesmos conseguimos identificá-las bem, é fácil presumir que ler os sentimentos do outro é ainda mais difícil.
Porém, nas diversas relações sociais do mundo moderno, essa pode ser uma importante habilidade para uma melhor convivência. Um exemplo que demos aqui no Plenae foi o artigo sobre as cinco linguagens do amor, definidas pelo escritor Gary Chapman. Saber qual é a sua e qual é a do seu parceiro pode evitar - e muito! - os ruídos do dia a dia a dois. Como, então, ler as emoções alheias?
O enigma do outro
Na série de ficção científica Jornada Nas Estrelas, os Vulcanos, raça a qual pertence o famoso personagem Spock, possuem um poder peculiar chamado fusão mental: eles podem tocar a cabeça de outros seres e, então, experimentar os pensamentos, sentimentos, sensações… tudo que aquele cérebro captar, pensar ou sentir, o Vulcano sentirá também.
Nós, humanos, feliz ou infelizmente, não temos como fazer algo parecido. O que fazemos é usar os sentidos para entender melhor o que se passa na cabeça e no coração de outrem. Existe, aí, a importância da empatia, que como explicamos aqui, é diferente da simpatia e é capaz de ser praticada e expandida. Se alguém está demonstrando altos níveis de medo, por exemplo, colocar-se no lugar pode ser uma ótima forma de descobrir o porquê daquilo, de onde vem e qual o motivo.
Há de se tomar cuidado, no entanto, para não medir o mundo pela nossa própria régua. Por mais que as emoções sejam semelhantes, a maneira como as sentimos ou como elas se manifestam varia de pessoa para pessoa, porque tudo que aquele indivíduo vivenciou até hoje vai refletir em como ele expõe o que sente. Subestimar o sentimento alheio só porque ele te parece ínfimo não é uma boa leitura e nem algo pertinente a uma boa convivência.
“As percepções visuais podem diferir entre as pessoas dependendo das crenças e conceitos únicos que cada um tem”, explica Jonathan Freeman, professor e autor de um artigo publicado na revista científica Nature Human Behaviour, buscando desvendar como reconhecemos as expressões faciais das emoções.
O estudo concluiu que nossas próprias vivências pessoais podem afetar a percepção que temos da emoção do outro, e isso pode se tornar um problema, afinal, o que parece grosseria para você, pode ser apenas a forma de se expressar do outro segundo sua própria criação.
A mesma espécie
Mas sentimos nós, enquanto seres humanos, as mesmas coisas? De acordo com o mais famoso evolucionista da história, Charles Darwin, sim. Em seu livro “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”, tanto as nossas sensações como as expressões faciais que fazemos são traços evolutivos.
Tais expressões, e a linguagem corporal como um todo, também são uma boa maneira de ler as emoções alheias. Por exemplo, uma pessoa boquiaberta e com os olhos arregalados muito provavelmente está demonstrando surpresa. Sabendo disso, o psicólogo norte americano Paul Ekman expandiu ainda mais o trabalho de Darwin para o que ele chamou de microexpressões: contrações involuntárias feitas pelos músculos faciais quando sentimos alguma determinada emoção.
O psicólogo ganhou notoriedade quando seu trabalho serviu de base para a série Lie To Me (no Brasil, Engana-me Se Puder) de 2009. Nela, o Dr. Cal Lightman é um especialista em microexpressões que usa o seu “poder” para resolver crimes e situações perigosas. Ekman serviu de consultor do seriado.
Por mais que tivesse uma base científica, ainda era, como o poder dos Vulcanos de Jornada nas Estrelas, algo da ficção. De acordo com o psicólogo, até existem pessoas capazes de naturalmente identificar essas contrações (feitas em frações de segundos), mas é uma habilidade muito rara. Para a maioria de nós, o que resta para entender quem nos cerca é a empatia, uma maior atenção e o fortalecimento da nossa própria inteligência emocional.
Mas esse tipo de estudo se tornou popular de tal maneira que até mesmo vídeos no Youtube e uma legião de fãs começaram a chegar. Como é o caso de Vitor Santos, perito certificado em FACS pelo PEG-USA, único instituto no mundo autorizado à certificação científica em Codificação Facial pelo sistema FACS.
Dono do canal Metaforando, que já conta com mais de 5 milhões de inscritos, ele analisa desde expressões faciais de criminosos até vídeos mais populares, baseados em acontecimentos recentes da sociedade. Ele faz parte da ínfima parcela da sociedade que consegue não só identificar microexpressões com uma rapidez impressionante, mas também interpretá-las de forma aprofundada.
Inteligência emocional
Uma maior inteligência emocional constrói um alicerce mais sólido para identificar e entender as nossas próprias emoções e, por consequência, as de quem nos cerca. Saber o que se está sentindo e a maneira de lidar com isso diminui muito os supracitados momentos de “estou assim mas não sei comunicar o que é”.
Na animação da Pixar Divertidamente (2015), que também teve consulta de Ekman, as emoções mais básicas (alegria, tristeza, medo, raiva e nojo) são personificadas por pequenas entidades que ficam em nosso cérebro. Dependendo da situação, uma ou outra entidade assume o comando. A inteligência emocional ajuda muito a entendermos isso, qual das emoções que tomou as rédeas do nosso comportamento naquele determinado momento.
Em entrevista para o Plenae, a psicóloga Beatriz Cançado mencionou a roda de emoções, e como é um desperdício o fato de reduzirmos os nossos sentimentos a poucos nomes, quando existem uma infinidade deles, e nomeá-los corretamente pode ser um caminho importante para o autoconhecimento e para a almejada inteligência emocional.
Assim, saber ler a emoção do outro é algo tão importante que é tratado, muitas vezes, como um poder em diversas formas de mídia. Saber o que a pessoa ao seu lado, seja numa relação romântica, de trabalho ou de família, está passando é importante para uma melhor comunicação e convivência.
Há, então, essa grande importância de se desenvolver a empatia e a inteligência emocional. Isso não aprimora não só você, mas também a capacidade de se envolver e relacionar. E nem precisa ser cientista, Vulcano ou alguém com uma habilidade incrivelmente rara para tanto.
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