Para Inspirar
Em sua simplicidade de campeão mundial ainda com jeitão de menino catarinense, Gustavo Kuerten contou para nós de onde tirou a força para cada uma de suas vitórias.
24 de Abril de 2018
Até 1 semana antes da palestra, Guga ainda não tinha decidido qual o tema de sua conversa. Para nossa sorte, na última hora ele optou por um caminho simples: contagiar a todos com pura emoção. Em sua simplicidade de campeão mundial ainda com jeitão de menino catarinense, Gustavo Kuerten contou para nós de onde tirou a força para cada uma de suas vitórias.
Em Roland Garros, a descoberta. A lembrança de Roland Garros traz a expectativa adolescente quase destruída por uma oportunidade perdida, mas reconstruída na narrativa do menino Guga: em sua primeira visita a Paris, seu sonho era conseguir jogar em um dos clubes de tênis da cidade na época do torneio.
Porém, para conseguir esse intento, ele precisava ser selecionado entre centenas de garotos com sonhos tão altos quanto os dele. Naquele dia, Guga não garantiu sua vaga e não conseguiu jogar. Seu sonho de menino de quinze anos de idade acabava de desmoronar.
Mas poucos dias depois, ainda na mesma viagem, ele teve a oportunidade de ir até o estádio de Roland Garros.
Com a ajuda e bom humor de seus companheiros de viagem, Kuerten conseguiu entrar e ver de perto a movimentação do torneio mundial em dois dias diferentes. O lugar estava lotado e ele olhava tudo, encantado. Guga contou que naquele momento estaria contente apenas em ver grandes tenistas jogando e levar aquela lembrança para casa.
Mas duas improváveis vitórias de brasileiros que aconteceram exatamente nos dias em que ele foi até o estádio lhe deram uma força e uma certeza até ingênua de que ele havia sido o talismã do Brasil naquelas partidas.
Olhando em retrospecto, Guga hoje vê que naqueles dias ele percebeu que era possível.
Até então acostumado a jogar para poucas pessoas – a maioria delas sua própria família – nas quadras de Santa Catarina, aquela oportunidade de ser exposto a tal evento mundial, ao estádio lotado, às milhares de pessoas envolvidas num jogo foi suficiente para colocar uma nova perspectiva em sua vida. Naquele momento, o atleta novato percebeu que o tênis transcendia o esporte: tratava-se também das pessoas impactadas por ele.
Graças a uma combinação de acaso, oportunidade e decisões internas, a frustração do primeiro dia em Paris foi trocada imediatamente pela certeza de que ele nunca mais perderia uma vaga.
Em Portugal, a construção. Ao voltar a Portugal para o evento, Guga se lembrou do ano de 1994, quando ele foi para o país com 17 anos de idade. Naquela época, o garoto já era um dos melhores do mundo no tênis juvenil.
Mas ao completar 18 anos, ele iria virar profissional. E como profissional, seria apenas mais um.
Era como se todo o caminho trilhado não valesse de nada se ele não brilhasse também naquela nova fase de vida. Naqueles meses em Portugal, Guga estava com medo, ansioso e cheio de ilusões sobre seu futuro. Em seu primeiro torneio profissional, ele passou um mês sem conquistar qualquer ponto.
Naquela fase, uma nova relação fez toda a diferença: nesta época, o tenista se aproximou de Braga, empresário que apoiava grandemente o esporte brasileiro e morava em Portugal. Foi com o apoio do amigo que Guga conseguiu ir passando para as próximas etapas e finalmente ganhar seu primeiro torneio profissional. Na partida, o público era mínimo, mas a presença de Braga naquele dia fez toda a diferença.
Em Curitiba, a lição que o acompanhou para sempre. A memória mais forte e decisiva para Guga vem de um torneio de tênis que ele jogou com 8 anos de idade, em Curitiba. Apesar do constante incentivo do pai, ele era o menino mais fraquinho do torneio. Foi apenas para se divertir – e perdeu. O pai dele foi junto naquele torneio, mas não voltou, falecendo de ataque cardíaco naquela viagem. Ele partiu muito cedo e deixou com o filho muito mais que a paixão pelo tênis: deixou a capacidade de sonhar e acreditar nos sonhos.
Em uma época em que o tênis era um esporte com pouquíssima projeção no Brasil, Aldo Kuerten já tinha a certeza de que o filho seria um campeão. Hoje, Guga percebe que seu pai não tinha um sonho. Tinha era certeza, uma grande convicção. O que Gustavo Kuerten traz de mais forte sobre aqueles dias próximos à morte do pai é a imagem de sua mãe recebendo os filhos de volta em casa com um abraço e a frase “Nós vamos seguir em frente”.
Poucos dias antes de partir, era exatamente essa frase que o pai de Guga deixava como missão para o filho mais velho: cuidar do Guga e de seu futuro como tenista, orientá-lo a seguir em frente.
Para Inspirar
No Dia da Saudade, investigamos esse sentimento que, por sua complexidade, causa efeitos em nossa mente e corpo
30 de Janeiro de 2021
Hoje é o Dia da Saudade. Complexa, profunda e intensa: esses são alguns dos muitos adjetivos possíveis de serem usados quando o assunto é ela. Não há quem ainda não tenha experimentado esse sentimento tão difícil de ser explicado, mas rapidamente identificável quando se experimenta.
Nós somos capazes de sentir saudades até mesmo do que nunca aconteceu. Ou de um futuro que ainda está por vir, mas já deixa a ânsia do seu em breve partir. Mas quando sofremos pela ausência de algo que já tivemos, a dor atinge patamares diferentes e ganha um nome: o luto.
Na terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir, conhecemos
a história de Veruska Boechat
, que após ficar viúva de seu marido - o jornalista Ricardo Boechat - partiu em uma viagem interna, tendo o autoconhecimento como destino final e sem data para acabar.
Inspirados por sua narrativa, o Plenae investigou quais são os estágios do luto e porque é tão importante vivê-los , e também qual é o papel das relações e da rede de apoio nesse processo . Porém, há de se levar em conta que essa situação específica da perda de um ente querido não representa todas as formas de sentir saudades.
Há aquelas mais brandas, ou até mais intensas, mas desencadeadas por outros motivos. Todas representam um rompimento, uma falta. Mas a verdade é que todos os dias damos falta de algo, buscamos por um pedaço perdido, ainda que seja singelo e cotidiano. E, como todos os nossos sentimentos, esse também nasce e se desenvolve dentro de um dos principais órgãos do corpo humano: o cérebro.
Em uma pesquisa rápida em qualquer site de busca, você encontrará a palavra saudade associada a diferentes poemas e músicas. Ela é figura constante em romances, ficções, filmes e peças artísticas em geral. Ela é também muito presente em todos os nossos dias, como mencionamos anteriormente.
Sendo assim, seria evidente que ela reverberaria em nosso corpo e mente de alguma maneira. Assim como a paixão que, como contamos nessa matéria , gera um verdadeiro tsunami hormonal em nosso metabolismo.
Com a saudade, o efeito não é muito diferente. Justamente porque uma pode ser consequência da outra. O movimento fisiológico que desperta a paixão dentro de nós acaba gerando uma espécie de dependência química da outra pessoa. Não tanto pelo corpo da outra, mas pelo que sua presença é capaz de desencadear dentro de nós.
Essas substâncias químicas - que são hormônios e neurotransmissores - trazem uma sensação de bem-estar e completude muito potente. É importante reforçar que elas podem ser geradas de diferentes maneiras, mas durante uma paixão, seus níveis são elevados a potências máximas - daí a intensidade.
Como são substâncias poderosas, nosso corpo pede cada vez mais. E mais. E mais. É como um vício que, quando privado, pode ocorrer uma verdadeira abstinência. São dois caminhos possíveis depois da paixão: fazer com que ela se torne sólida e vire amor, mais equilibrado e ainda prazeroso ao corpo. Ou romper e lidar com ela: a saudades.
Quando estamos saudosos, alguns sintomas são clássicos: rompantes de irritação, picos de tristeza e apatia, episódios de mania, dificuldades para dormir e para se alimentar e um mal estar generalizado. Isso porque a produção daqueles hormônios que nos faziam bem (até demais!) foi interrompida bruscamente, e o corpo leva um tempo para voltar a se acostumar.
Assim como as drogas, estar no auge da produção hormonal a longo prazo é tão insustentável quanto não ter produção hormonal positiva nunca. Ambos são extremos e fazem mal para o corpo. A interrompida brusca, apesar de gerar todo esse desconforto e necessitar de uma atenção especial - sobretudo no que tange a saúde mental - acaba por fim se equilibrando, ela tende a melhorar.
Não há como atravessar o curso da vida sem deixar algo para trás. Esses pedaços de nós que vamos deixando pelo caminho inevitavelmente vão nos fazer falta. Mas também nos servem de lição, nos fortalece e nos faz buscar outras fontes prazerosas, que estimulem a mesma produção de hormônio que o objeto faltante estimulava e amplia nossos horizontes.
Além disso, um estudo conduzido pela Universidade de Southampton concluiu que enfrentar toda essa tormenta acaba por funcionar como uma espécie de "resposta imunológica psicológica”, pois se torna um mecanismo de defesa que nos prepara para as próximas vezes.
Portanto, aceite sua saudades, abrace-a e aprenda com ela. Entenda seus movimentos internos sem deixar que eles te engulam, mas que apenas te conduzam a uma evolução pessoal maior e mais bonita. É preciso conhecer a escuridão para identificar a claridade, e nós somos feitos de ambas as cores. E você, já se permitiu sentir hoje?
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