Para Inspirar
O quarto episódio da décima terceira temporada do Podcast Plenae é com Bernardinho, representando o pilar Mente!
8 de Outubro de 2023
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Bernardinho: Seria possível viver do voleibol? Quando eu recebi a proposta pra ser treinador, eu fui conversar com meus pais. A minha mãe, mais zelosa, preocupada, ficou desesperada, achou que era uma loucura. Já o meu pai me falou: “Se é o que você ama fazer, vai. Mas faz bem feito e só volta quando der certo”. Ele sabia que ia ser difícil, que eu ia querer desistir. Ao longo da minha vida, sempre que eu me deparo com situações dessa natureza, eu penso: só volta quando der certo.
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Geyze Diniz: A trajetória do técnico Bernardinho não é só marcada por suas vitórias, mas também por seus aprendizados. Seus erros e acertos dentro e fora da quadra foram importantes lições para ele e para todos que o acompanham. Bernardinho reconhece a importância de aprender e se adaptar para um mundo em constante transformação. Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
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Quando eu tinha 15 anos, já capitão da equipe infanto juvenil, fui convidado pra jogar com o time adulto do Fluminense. Fiquei me achando. Eu aceitei o convite, mas nem cheguei a jogar, passei a partida inteira no banco. O problema é que, no mesmo final de semana, o meu time infanto juvenil também tinha um jogo. Quando eu me reapresentei pro Bené, ele me falou: “Você é o capitão da equipe, você abandonou justamente os jogadores que mais precisavam de você”. Eu nunca esqueci disso. Com poucas palavras, o Bené me deu uma lição sobre a importância da humildade e do senso de coletividade.
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Os meus pais não viam com bons olhos o meu interesse crescente pelo vôlei. Nos anos 60, 70, 80 mesmo, o esporte era só uma profissão pra quem jogasse futebol.
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Quando eu tinha 26 anos, nasce meu primeiro filho, o Bruno. Eu tinha me casado com uma jogadora de voleibol da época, a Vera Mossa. Foi uma época em que eu comecei a olhar pra várias direções, sem saber que rumo tomar na carreira. Eu me tornei sócio de um pequeno restaurante chamado Delírio Tropical, hoje uma cadeia com 10 unidades, e tava gostando de empreender. Eu continuava jogando pra complementar a renda, mas já caminhando pro final da minha trajetória como atleta.
Só que um convite inesperado mudou os meus planos. Uma amiga, ex-jogadora, Dulce Thompson, me telefonou e perguntou se eu queria treinar o time feminino do Perugia, na Itália. Era uma equipe que estava em último lugar no campeonato italiano. Eu me perguntei: “Como? Eu nunca treinei ninguém”. E ela respondeu: “Mas você tem tudo pra isso. Você conhece o voleibol, tem capacidade de liderança, é perfeccionista, chato, cricri”. Enfim, foi uma daquelas bifurcações que de repente mudam a direção de nossas vidas.
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Ao final de três anos, o Perugia não só se salvou do rebaixamento, como foi vice-campeão do campeonato italiano por duas vezes e campeão da Copa Itália. Depois dessa experiência na Europa, eu recebi o convite para assumir a seleção feminina brasileira. Era uma geração desacreditada. Mas tinha um monte de talentos. Fernanda Venturini, a grande levantadora, Ana Moser, uma super atacante, Marcia Fu, Ana Paula, Ana Flávia, enfim, muitos nomes fortes. Mas elas não ganhavam títulos. O problema da equipe é que não existia um compromisso único, um propósito em comum. Os valores estavam desalinhados. Do ponto de vista pessoal e financeiro, também não estava fácil pra mim, porque eu tinha me separado. Enquanto eu me reerguia, eu trabalhava pra unir as jogadoras e criar um time.
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No dia seguinte, elas iam malhar, não tinha treino com bola. Eu nem ia aparecer no centro de treinamento, até para elas poderem descansar um pouco de mim. Mas eu peguei minha bicicleta e fui. Quando elas me viram, fizeram aquela cara de susto, tipo: “hm, lá vem ele…”. E eu então disse: “Ontem eu explodi com vocês e quero me desculpar em público. Eu errei na forma, mas não na intenção. A minha intenção era tirar o melhor de vocês. Eu sei que ontem vocês não estavam conseguindo por N motivos, mas deram o melhor que tinham. Eu não percebi e cobrei de uma forma exagerada”. Elas se olharam, e nós seguimos. Isso aconteceu algumas vezes.
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Eu treinei a seleção feminina por 7 anos. Foi nesse período que eu conheci a minha segunda esposa, Fernanda Venturini. Nossa relação profissional no começo era conflituosa. Eu era exigente demais com ela, eu reconhecia um enorme talento naquela atleta. Com o tempo, fui reconhecendo que estava exagerando um pouco na cobrança. Ela foi admitindo que deveria se entregar mais pro grupo. Eu costumo dizer que eu briguei tanto com a Fernanda pra transformá-la numa atleta mais completa, que acabei me casando com ela. Juntos, nós tivemos duas filhas, a Júlia e a Vitória.
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Nos meus últimos anos à frente da seleção masculina, eu tive que mudar ainda mais o meu jeito de interagir com o time. Em 2012, nós fomos vice-campeões olímpicos em Londres. Em 2014, vice-campeões mundiais após um tricampeonato mundial. Aquela geração tinha uma expectativa enorme sobre ela que a medalha de prata parecia uma desgraça. Aquela geração, ela não ganhava prata, ela perdia o ouro. Até que um dia, em 2015, o Bruno, meu filho, atleta e capitão da seleção, bateu no meu quarto e pediu pra conversar. Ele veio falando que “nós” precisávamos mudar. Mas o que ele realmente queria dizer é que “eu”, o treinador, precisava mudar. Ele explicou que aquela geração era diferente. Nem melhor nem pior que as anteriores, só diferente.
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Eu baixei a bola e fui buscando formas de interagir com os jogadores. Eu finalmente consegui me conectar com eles durante as Olimpíadas do Rio, em 2016. Nos dias de folga, a gente jantava num dos nossos restaurantes do Delírio Tropical, ali na Barra da Tijuca, perto de onde nós treinávamos. Eu trouxe as famílias para jantar conosco: os pais, as esposas, os filhos, sogras. Durante 1 hora e meia, nós jantávamos e eu ajudava a servir os jogadores e as suas famílias. Aí eu passei a conhecer as famílias, a mãe de um, fazia um carinho no filho do outro. Ou seja, foi criada uma dimensão mais humana no grupo. Eles deixaram de me ver apenas como um louco que obriga todo mundo a acordar mais cedo para treinar.
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Eu acredito que o desconforto gera crescimento, então provocar um certo desconforto é interessante. Mas não pode ser demais, senão a corda arrebenta.
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Essa pequena iniciativa dos jantares gerou números, porque o objetivo não era só ser bonzinho, simpático, popular, era melhorar o desempenho. E nós ganhamos a medalha de ouro.
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Hoje, eu me sinto um aprendiz, um aprendiz assustado. Eu tenho um certo temor de não conseguir aprender tudo que eu gostaria de aprender para me adequar a um mundo em constante transformação. Mas eu continuo tentando. No fundo, eu continuo o mesmo garoto inquieto que começou a jogar vôlei nas areias de Copacabana.
O que eu preciso fazer pra alcançar o que eu quero? O meu espírito curioso e dedicado continua o mesmo, o mesmo.
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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
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