Para Inspirar
Confira a história da médica Ana Claudia Michels, que trocou as passarelas pelos corredores do SUS em busca de seus sonhos, no Podcast Plenae
13 de Setembro de 2020
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Ana Claudia Michels: Eu estava em um ótimo momento, pelo menos aos olhos dos outros, eu era muito bem-sucedida como modelo, uma top model reconhecida no mundo todo. E ainda assim eu sentia que me faltava alguma coisa.
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Geyze Diniz: Ouvir a trajetória da Ana Claudia é ter a certeza de ser embalada por uma doçura ímpar e muita determinação. Trocar passarelas por hospitais é para quem tem um propósito muito bem definido dentro de si mesmo. No final do episódio, você ouvirá reflexões do doutor Victor Stirnimann para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Aproveite este momento, ouça e reconecte-se.
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Ana Claudia Michels: Eu tinha 14 pra 15 anos quando dei o primeiro passo fora de Joinville pra iniciar minha carreira.
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Recebi um convite para vir a São Paulo e conhecer uma agência de modelos. Eu era muito nova e, para não vir sozinha, viemos eu e minha mãe, completamente às escuras, sem saber de nada, só para ver o que estavam falando. Eu era super magra, esquisita, mas na época eles gostavam das meninas assim, com esse padrão que era uma beleza não muito óbvia.
Foi aí que o meu terapeuta, que sabia que eu gostava de medicina, falou: "Por que você não vai fazer um cursinho e vai fazer a faculdade que você queria fazer?". Aí ele começou a me irritar. Eu achava que esse homem estava doido, ou estava querendo me deixar animada, porque qual seria a chance de eu começar agora uma faculdade? E ele começou a me estimular: "Você se matricula no cursinho e vê o que acha". E, assim, de 29 pra 30 anos, realmente me matriculei em um cursinho.
clima de escola, com todo mundo mais relaxado. Todo mundo está ali com um propósito, eu tinha o meu.
Chegou o final do ano e fiz as provas novamente. Conferi as primeiras que tinha feito e de novo não tinha ido bem. Foi frustrante, mas lembro que não cheguei a ficar triste, porque era um projeto meu e ninguém sabia, não havia cobrança por parte de ninguém. E eu tinha adorado a oportunidade de estudar mais velha as matérias de segundo grau, sentia como se fosse um presente.
em outros cursos. Eu fiz o meu internato quase todo no Hospital Geral de Carapicuíba, na periferia de São Paulo, onde fiquei por dois anos, até o fim de 2019, quando me formei.
Duas professoras que eu tive me inspiraram muito e a alegria delas, além de tratar bem o paciente, de serem impecáveis em relação ao tratamento, a técnica, a ciência. Elas falavam com carinho, elas colocavam a mão no ombro pra escutar. Elas viraram as minhas musas e me deram uma referência fundamental da médica que quero ser, do propósito que busco na medicina. Eu conheci elas duas no internato e aquilo que eu imaginava, de um consultório bonito, num lugar bonito, meio que se desmanchou. Isso não é mais prioridade, eu quero ser, pelo menos, um pouco como elas.
Geyze Diniz: As nossas histórias não acabam por aqui. Acompanhe semanalmente nossos episódios e confira nossos conteúdos em plenae.com e no perfil @portalplenae no Instagram. [trilha sonora]
Para Inspirar
O male que já atinge até 4% da população mundial, segundo a OMS, em sua maioria jovens, ainda pode estar cercada de tabus e preconceitos.
9 de Setembro de 2022
No quarto episódio da nona temporada do Podcast Plenae, conhecemos um lado da cantora Wanessa que nem todo mundo conhece: as profundezas de sua mente. Não por acaso, é esse o pilar que ela representa nesta edição. Em seu relato, a artista divide momentos pessoais da infância que criaram nela um profundo medo da morte.
E esse medo evoluiu para a chamada Síndrome do Pânico, um quadro muito mais agravado e até mesmo clínico do que um simples “medo”. Mas do que se trata essa síndrome afinal? É importante começar pelos seus sintomas: ela é caracterizada por crises de ansiedade repentina e intensa com forte sensação de medo ou mal-estar, acompanhadas de sintomas físicos, como explica a biblioteca de saúde do Ministério da Saúde brasileiro.
Ele pode ocorrer a qualquer momento do dia, possui uma duração média de 15 a 30 minutos e nem sempre possui um gatilho evidente, a ponto do paciente conseguir identificar o que desencadeou aquela crise. Um fato curioso e triste é que, muitas vezes, as crises que sucedem a primeira se dão justamente pelo medo de sentir aquilo de novo.
Ou seja, a experiência é tão desconfortável e até traumática, que as outras crises podem se dar pelo simples medo de experimentar toda essa montanha-russa de sentimentos novamente. É o medo de passar por isso que pode levá-lo a passar, por assim dizer.
Mas isso não é uma regra, afinal, como foi dito, nem sempre o gatilho é evidente e ele pode ser múltiplo. O de Wanessa, por exemplo, era o medo de morrer acarretado de uma infância marcada por acidentes que, de certa forma, expuseram sua fragilidade humana desde muito jovem.
E falando em jovens, eles são os mais atingidos: segundo a Organização Mundial da Saúde, a Síndrome do Pânico (ou Transtorno do Pânico, conhecido como TP) já atinge de 2 a 4% da população, uma parcela bastante alta, com pico entre os 20 e 24 anos de idade, sendo que normalmente acomete pessoas acima dos 14 anos.
O cérebro
Apesar de gerar sintomas físicos, quando os pacientes portadores da síndrome são submetidos a exames clínicos, geralmente nada é encontrado - e daí é que vem a frustração. Como assim eu não tenho nada se me senti à beira de um precipício? Pois é, porque todo esse desdobramento aconteceu somente em seu cérebro, mais especificamente na região central dele.
Segundo o psiquiatra Cyro Masci, nosso cérebro foi sendo formado aos poucos, seguindo o processo de evolução de todos os seres vivos. "É como se fosse uma casa que foi ganhando "puxadinhos" para atender às necessidades que foram surgindo." A ansiedade, por exemplo, é um mecanismo de defesa natural muito utilizado por nossos antepassados para se prevenir de ataques, ou seja, era seu corpo avisando para que ele ficasse alerta.
Seguindo a explicação de Cyro, a primeira parte do cérebro surgiu para atender às necessidades básicas de sobrevivência e exigia poucas funções essenciais. "Por exemplo, colocar o corpo em movimento para ir em busca de alimento e também disparar um alarme de emergência diante de perigos no ambiente, como fugir de outros animais para não virar comida”.
Mas com o passar do tempo, a sociedade evoluiu e ganhou novos ares e até novas ameaças. Nosso cérebro, portanto, foi tendo que adaptar-se às mudanças e, em um processo evolutivo, desenvolveu uma nova região do cérebro, mais sofisticada por assim dizer: a amígdala cerebral.
Trata-se de um grupo de neurônios localizados nas profundidades do lobo temporal (lateral), de tamanho pequeno e que fazem parte do sistema límbico, processando as emoções. A Síndrome do Pânico ocorre quando essa região está desregulada e emite falsos sinais de perigo. "Imagine um carro que possua alarme contra ladrões, que é a nossa amígdala cerebral. Esse dispositivo tem que existir para proteger o veículo”, diz o psiquiatra ao Terra,
Quando esse alarme estiver desregulado, ele irá reagir a estímulos errados ou então tocará 'do nada', sem motivo algum. "O sistema de alarme desregula, toca por motivos errados ou sem motivo algum e gera informação errada de que há um grande perigo acontecendo", complementa Cyro Masci.
É mais ou menos isso que acontece na Síndrome do Pânico: o seu cérebro entende que está sob ameaça e coloca todo o seu corpo para reagir diante dessa ameaça, ainda que ela não exista de fato ou esteja sendo superestimada. Mas como e por que essa espécie de alarma desregula?
Em geral, por excesso de estímulos, o que não seria uma grande novidade em uma sociedade tão acelerada. Mas ele pode ter sido acionado diversas vezes na infância, seja por excesso de situações traumáticas ou estressantes, como foi o caso de Wanessa, ou em outro período da vida. "A genética também contribui, mas até o momento a ciência não sabe exatamente qual gene está alterado", diz Cyro.
Na fase aguda, o indivíduo pode sentir até mesmo pontadas no peito e falta de ar, o que o leva a crer que está tendo um infarto, por exemplo. Há ainda outros sintomas, como sudorese excessiva, tontura acompanhado de náusea, formigamentos e tremores, sensação de pernas bambas, calafrios ou ondas de calor e, nos piores casos, até mesmo um desmaio pode acontecer.
O tratamento é completamente individual, e precisa fazer sentido para a pessoa que sofre desse mal. Há diferentes abordagens psicoterapêuticas, com sessões de terapias específicas para isso, como a hipnose, ou uma abordagem psicanalítica para entender a origem do medo.
Há ainda as abordagens medicamentosas e, para isso, é preciso o acompanhamento de um médico psiquiatra. São muitas as opções de remédios no mercado e também não há uma resposta certeira de qual fará melhor para você, é preciso testar ao lado de um profissional.
Importante reforçar que, no caso da abordagem psiquiátrica, é sempre proveitoso ter um psicólogo acompanhando junto pois, enquanto o paciente não entender a origem dos seus medos e identificar os primeiros sinais de uma crise e seus gatilhos, ele não conseguirá lidar de forma mais profunda com a situação, somente irá gerenciar crises.
Ter uma rotina, sobretudo do seu sono, não só deve como pode te ajudar e muito a manter seu corpo mais controlado. Exercícios físicos, como sempre, ajudam principalmente na liberação de hormônios importantes para a sua sensação de bem-estar e também para fortalecer ainda mais sua rotina.
Para alguns pacientes, se afastar de substâncias como álcool e outras drogas será necessário, pois elas podem agir como gatilhos para novas crises. Vale ressaltar, ainda, que alguns medicamentos como anfetaminas (usados em dietas de emagrecimento) ou drogas (cocaína, maconha, crack, ecstasy, etc) podem aumentar a atividade e o medo, promovendo alterações químicas que podem levar ao transtorno do pânico, como ressaltou a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva em seu site.
Não tenha vergonha de procurar ajuda, pois sem tratamento, a Síndrome só tende a piorar. É preciso estar acompanhado de bons profissionais e reconhecer seus gatilhos. Saúde mental é tão importante quanto a saúde física, como sempre reforçamos por aqui, e é parte do processo que pode te levar a uma qualidade de vida e, porque não, a uma longevidade.
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