Para Inspirar
Na terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir, conheça a jornada de fé e autoconhecimento de Ale Edelstein
29 de Novembro de 2020
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
[trilha sonora] Ale Edelstein: Eu sempre fui fascinado por uma passagem bíblica escrita em Gênesis, capítulo 12, versículo 1. Ela diz assim: “Deus diz pra Abraão: “Vá para você mesmo. Anda da tua terra, da terra da tua parentela e da casa do teu pai para a terra que eu te mostrarei”. Aí o texto conta a viagem de Abraão até a terra prometida. Eu sempre quis entender melhor: o que esse convite à introspecção, "Lech-Lecha" em hebraico, poderia ensinar. Pra descobrir eu decidi viajar para o Oriente Médio, seguindo os passos do patriarca, disposto a ir pra mim mesmo mergulhar na minha própria espiritualidade. [trilha sonora] Geyze Diniz: Nem sempre os caminhos para nos conectarmos com a nossa espiritualidade são claros e fáceis de percorrer. Mas, o primeiro passo tem que ser dado. Por isso, convidei o cantor Ale Edelstein para compartilhar um pouco da sua caminhada de espiritualidade. Na busca da conexão consigo mesmo, Ale expandiu seus laços e derrubou muros de preconceitos entre povos e religiões. Ouça no final do episódio as reflexões da professora Lúcia Helena Galvão para ajudar você a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se. [trilha sonora] Ale Edelstein: Eu sou cantor litúrgico de cerimônias judaicas. Minha profissão se chama chazan, que significa cantor, em hebraico. E eu sou o chazan da CIP, Congregação Israelita Paulista. Eu recito as orações e ajudo o rabino nos rituais religiosos. Minha agenda é puxada, eu dou aulas durante a semana. Sexta à noite e sábado de manhã eu canto no shabat. Sábado à tarde faço bar e bat mitzvah, que são os rituais de passagem do menino ou da menina de 12 ou 13 anos pra vida adulta. Sábado à noite tem casamento. Domingo às vezes também tem casamento, cerimônia ou alguma reza. Meu trabalho demanda uma energia bem grande. Pra cantar na frente de 400 pessoas, que vão até a sinagoga pra virar a chave da semana e entrar num momento de conexão espiritual, eu preciso estar num verdadeiro estado de inteireza, de presença. Não dá pra cantar no piloto automático. Eu preciso sentir a música pra conseguir canalizar aquela energia pras pessoas. [trilha sonora]
[trilha sonora] Quando eu estava planejando a viagem, eu cogitei ir pro Líbano, por exemplo. Mas eu falei com algumas pessoas, que me desaconselharam: com esse sobrenome não vai dar. Afinal, a proposta era encarar os meus desconfortos, não correr risco de vida. E aí eu defini um roteiro que, em tese, não me oferecia um risco gigantesco: Turquia, Jordânia, Israel e Palestina. A viagem começou pela Turquia, terra dos meus ancestrais, e acabou em Israel, um país onde eu já estudei e morei. Mas os lugares mais marcantes pra mim foram a Jordânia e Palestina. A minha experiência num país totalmente árabe começou em Amã, capital da Jordânia. Eu andava pela rua e eu era só mais uma pessoa. Logo caiu a ficha de que não tá escrito na minha testa: religião judaica. Eu achei Amã muito parecida com Israel: a mesma cor amarelada, o mesmo clima seco, até as pessoas são parecidas fisicamente. Eu entendi a semelhança, quando vi uma placa, que apontava: Jerusalém 70 quilômetros. É claro que é tudo igual. É mais perto que a distância entre São Paulo e Campinas!
[trilha sonora] Eu nunca tinha atravessado o muro que separa judeus e palestinos. E era fundamental experimentar esse sapato novo. A versão da história que eu conhecia era: “Tá vendo aquela danceteria? Teve um atentado, onde morreram 80 jovens”. Em Israel, se ninguém da sua família morreu num atentado ou numa guerra, no mínimo você conhece alguém, próximo ou distante, que infelizmente passou por isso. Tenho muitos amigos brasileiros que moram em Israel. Conheço guias. Ninguém conseguiu me ajudar a ir pra Palestina. Por indicação da amiga do amigo da prima da vizinha, eu cheguei no Ubama, que é um guia palestino. Me hospedei na casa dos pais dele, um casal super bacana que poderiam ser meus avós. Eu fiz um tour de três dias com uns americanos ligados à Igreja Batista. De cara, uma das mulheres do grupo me perguntou: “Você também é ativista da causa palestina?” Saí pela tangente: “Sou turista”. No primeiro dia, eu senti mal-estar, enjoo, embrulho no estômago. Eu achei que tinha comido algo que me fez mal. Não. Era o incômodo por atravessar o muro, se manifestando fisicamente. Em Belém, visitei o hotel que o Bansky, aquele artista-ativista inglês, abriu de propósito com vista pro muro de concreto que separa Israel e Palestina. Lá também visitei um museu que conta a história do ponto de vista dos palestinos. A palavra “narrativa”, que tá na moda, ganhou um significado gigante pra mim. Eu entendi que toda história tem muito mais de um só lado. No penúltimo dia de viagem, eu conheci um músico palestino em um café. Eu achei que não era coincidência. A gente começou a conversar, ele me convidou pra ir no estúdio dele. Eu passei uma tarde inteira lá. Mostrei pra ele uma música do meu disco e ele começou a cantar junto. Eu perguntei se ele conhecia. Ele respondeu que não, mas que a melodia era familiar. [trilha sonora] Conversamos sobre música, arte, guerra e paz. [trilha sonora] A partir dessas experiências e encontros eu me dei conta de que o que mais me fascina e me move são as relações humanas. Isso é mais sagrado do que qualquer pedra ou pedaço de terra. Meu mini-sabático terminou, e sobre o conflito Israel-Palestina, eu concordo com o escritor isralense Amós Oz: "Não é a luta do bem contra o mal. É antes uma tragédia no mais antigo, no mais preciso sentido da palavra. Um choque entre o certo e o certo. Um embate entre uma reivindicação muito poderosa, profunda e convincente e outra muito diferente, mas não menos convincente, não menos poderosa, não menos humana." O Talmude, que é a biblioteca de textos da filosofia judaica, é um livro basicamente de perguntas, porque elas são geralmente mais importantes do que as respostas. E eu voltei do Oriente Médio com muitas perguntas na minha cabeça: e na minha realidade? Como eu posso continuar fazendo a diferença, me despindo de preconceitos, sendo empático, melhorando as minhas relações, contribuindo para diminuir a desigualdade no meu país? Isso pra mim é a própria definição de espiritualidade. O que é espiritualidade senão a tentativa de ser uma pessoa melhor? De tentar espalhar positividade ao seu redor? Como diz o Bonder: “Os nossos deuses são produzidos pelos nossos sapatos. E a única maneira de encontrarmos o Deus único é descalçando os pés”. [trilha sonora] Lúcia Helena Galvão: A viagem é do Alexandre, não sei se vocês perceberam, mas é também uma viagem nossa. Nós temos às vezes um ponto de fixação, um bom grau de realização naquilo que fazemos e na maneira como vivemos. Estamos bem. Só que chega um determinado momento que sentimos que há que ir além disso. Sentimo-nos um pouco sufocados, aprisionados, como se não tivéssemos realizado tudo aquilo que viemos ao mundo para realizar. E aí, quando nos dispomos a responder a essa vontade, vamos cruzando territórios, quer seja literalmente, como fez o Alexandre, ou simbolicamente. É evidente que nossa viagem, pra que seja bem sucedida, não deve carregar muita bagagem. Você tem que se reduzir ao essencial. Isso significa que tem que deixar pra trás o seu sentimento de dono de verdade, a sensação de auto importância exacerbada, e não se esquecer de levar humildade e espírito de aprendiz. E aí, você acaba por perceber que a coisa mais sagrada que existe é a descoberta de si mesmo no outro. Ou seja, são as relações humanas. Se a humanidade é uma só, a maior parte de você são os outros. E descobrimos uma das coisas mais belas da existência: estarmos juntos. [trilha sonora] Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae. [trilha sonora]
Para Inspirar
Quando um jogador de futebol é considerado “velho”? Como se dá essa aposentadoria? Em tempos de longevidade, o esporte segue bastante limitado
12 de Dezembro de 2022
Aqui no Plenae, falamos exaustivamente sobre longevidade, afinal, é o tema que nos fez nascer. Essa busca por voos mais longos, e claro, com mais qualidade, movimenta cientistas por todo o mundo há anos e tem se tornado o objetivo de muita gente. Até por isso, acredita-se que a pessoa que viverá 200 anos já nasceu.
Mostra o RG pra mim
Primeiro, é importante dizer que tudo se dá mais cedo no esporte. Para atingir a excelência ainda jovem, auge da capacidade física, os esportistas costumam começar ainda criança. Na ginástica olímpica, por exemplo, há crianças de 6 anos já performando bem e aos 11, já profissionalizadas.
No futebol não é diferente. As chamadas peneiras, que são testes para se entrar em times, são repletas de meninos ainda muito jovens, em busca de realizarem o sonho de ser jogador de futebol. Segundo o blog Lei em Campo, a Lei Pelé estabelece que um clube só pode fazer um contrato profissional com um atleta maior de 16 anos.
Esse vínculo não pode durar além de cinco temporadas. Antes disso, a partir dos 14, é possível fazer um contrato de formação, que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) define como uma espécie de "contrato de aprendizagem", uma espécie de menor aprendiz para quem não trabalha com futebol.
Prova disso são os exemplos de Ronaldo e o próprio Pelé, o rei do futebol, que participaram (e ganharam!) títulos de Copa do Mundo antes mesmo de completarem 18 anos. O jogador Ângelo, do Santos, fez história em 2020 ao se tornar o segundo jogador mais novo a entrar em campo com outros profissionais, quando tinha somente 15 anos, 10 meses e 4 dias, segundo este artigo, perdendo somente para Coutinho, do mesmo time, mas que em 1958 entrou em campo com apenas 14 anos.
Apesar de ser prática comum, há leis assegurando esse menor, sobretudo no que diz respeito aos direitos de imagem. Como explicamos nesta matéria, a psicologia do esporte também é obrigatória para acompanhar os atletas da categoria de base, exigência do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Por fim, a Lei Pelé, que mencionamos acima e que permite brechas na lei para que menores de idade trabalhem como atletas, recebeu importantes atualizações recentes, mas o destaque vai para a igualdade de gênero. A partir de 2025, como explica o blog Lei em Campo, haverá paridade de investimento dos recursos públicos nas modalidades de prática esportiva entre as categorias feminina e masculina.
Tanto nessa copa quanto na passada, um grande destaque foi o atacante francês Mbappe, que na Rússia em 2018 tinha apenas 19 anos quando fez seu primeiro gol no torneio. Neste Mundial, o camisa 10 da França já marcou cinco gols - chegando a nove em Copas do Mundo - e bateu o recorde de um jogador com mais gols na competição antes dos 24 anos, que pertencia a Pelé, como conta o Terra.
Nas Olimpíadas, competição onde a seleção também entra em campo, a idade limite para que os jogadores possam atuar é bem baixa: O Comitê Olímpico Internacional (COI) oficializou a idade de 24 anos para atletas do futebol masculino nas Olimpíadas de Tóquio.
O começo do fim
Da adolescência ou início da juventude, tudo vai de vento em popa. Até mesmo em caso de lesão, o corpo mais jovem tende a responder melhor a elas e aos tratamentos propostos. A partir dos 30 anos, o cenário já começa a mudar. As lesões já não são recuperadas mais com tanta facilidade, o fôlego já não é mais o mesmo e a despedida começa a se aproximar.
A idade média que um jogador de futebol se aposenta é aos 35 anos, mas isso não é uma regra, e essa lista aqui pode provar. Nela, constam vários nomes brasileiros, inclusive, o “país do futebol” é também o país de atletas fortes e que chegam mais longe, seja por determinação, amor ou treino. O recorde, que era do inglês Stanley Matthews, foi quebrado pelo japonês Kazuyoshi Miura, que já defendeu alguns times brasileiros em sua carreira e, aos 53 anos, segue jogando.
Este artigo explica como se dá legalmente a aposentadoria de um jogador, já que as leis no Brasil exigem idade mínima de 65 anos para um homem, por exemplo, ou ao menos 30 anos de contribuição. Como essa regra é praticamente impossível de ser aplicada a um jogador, há brechas que garantem que eles ganhem seus benefícios fiscais a tempo, a maioria escoradas no esforço físico que gera lesões e desgastes neles.
Mas, para além das brechas legais, a aposentadoria de um jogador pode ser emocionalmente difícil. Por mais que eles saibam, desde o início, que isso acontecerá, pode haver uma confusão, já que socialmente eles ainda são novos, principalmente em tempos de longevidade, mas para a profissão que eles tanto amam, já estão “ultrapassados”.
Para eles, pode ser bastante importante e valioso nesse período ter um acompanhamento psicológico e buscar outros propósitos na vida. E para nós, evite etarismos quando o assunto é futebol. Dizer que fulano é velho, ou que ciclano está “passado”, pode ser bastante ofensivo e não contribui em nada para o tema.
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