Para Inspirar

Afinal, o metabolismo muda ao longo da vida?

Um grupo de cientistas decidiu investigar a fundo um tema complexo e polêmico rodeado de mitos: o metabolismo.

18 de Fevereiro de 2022


Iniciamos a sétima temporada do Podcast Plenae, e o pilar Corpo foi o abre alas. Nesse episódio, a jornalista Silvia Poppovic conta como uma cirurgia bariátrica, que a fez reduzir drasticamente de peso, mudou sua vida para melhor em detalhes que nem ela poderia prever. 

Esse tipo de cirurgia é indicada aos pacientes que não só apresentam obesidade, mas também dificuldade em perder peso. Apesar de todos os esforços, o número na balança não se modifica. E isso se deve, em muitos casos, ao metabolismo de cada um, que pode ser mais lento e consequentemente ter mais dificuldade nesse processo. 

Segundo o Dicionário de Etimologias, “a palavra metabolismo é um neologismo criado pelo professor alemão Theodor Schwann (1810 – 1882), a partir da junção do termo grego metabole, que significa ‘mudança’, e o sufixo –ismo, que é relativo a ‘qualidade’ ou ‘sistema’”. 

Quando o assunto é metabolismo, é justamente disso que estamos falando: um sistema de mudanças. É graças a um complexo sistema de reações químicas presente dentro de nossas células que nós nos mantemos vivos, evoluímos e nos nutrimos. 

O metabolismo está ainda ligado a três funções vitais do corpo humano: o processo de nutrição (inclusão de elementos essenciais no organismo), o da respiração (quando esses elementos essenciais são oxidados e transformados em energia química) e a síntese de moléculas estruturais (que utiliza essa energia produzida).

O processo metabólico em si, além de estar relacionado às três funções vitais mencionadas, ainda possui dois caminhos possíveis: o de anabolismo (reações químicas construtivas que produzem nova matéria orgânica em nós) e o de catabolismo (reações químicas destrutivas que quebra substâncias - como a quebra da molécula de glicose que é transformada em energia e água).

Em um resumo que simplifique essa ciência tão complexa de nosso corpo, o metabolismo se refere a todas as reações químicas que acontecem no interior das células, sejam elas reações de produção ou degradação. E esse processo acontece a todo tempo! Enquanto você lê esse artigo, substâncias químicas a todo vapor trabalham para que a vida aconteça da forma como a conhecemos.

As 4 fases do metabolismo

Como mencionado no início deste artigo, muitas vezes o metabolismo é apontado como vilão ou mocinho na perda de peso. Isso porque, sim, há características dos corpos individuais que não podem ser desconsideradas, mas há também uma crença de que perdemos a capacidade de queimar calorias muito mais cedo do que os cientistas apontam. 

Segundo artigo publicado na revista científica Science, essa crença é um mito. Como desmembrou o jornal El País, baseado nesse mesmo estudo da Science, há 4 fases comuns do metabolismo humano, que se aplicam a todos nós de forma geral. 

O estudo, cujo autor principal é Herman Pontzer, da Universidade Duke (EUA), coletou informação de 6.500 pessoas de idades compreendidas entre 8 dias e 95 anos e concluiu que:

  • Nossa capacidade de perder peso mais alta é durante o nosso primeiro ano de vida;

  • De lá até os 20 anos, ela diminui;

  • Dos 20 aos 60 ela se mantém estável;

  • E enfim reduz na terceira idade.

A pesquisa ainda acabou com o mito de que mulheres e homens possuem diferenças em seus metabolismos por conta de seu sexo. Segundo a pesquisa, “não há diferenças reais entre as taxas metabólicas de homens e mulheres se as condições forem semelhantes”. A importância desse estudo para a ciência se dá principalmente no campo da nutrição. Se entendermos qual é a necessidade de alimento que cada fase demanda e qual a sua capacidade de sintetizá-los, podemos fazer os ajustes necessários.  No caso de um recém-nascido, por exemplo, que possui um gasto energético diário total equivalente quase ao dobro de um adulto, saberemos como proceder. Da mesma forma com um idoso, que apresentará mais dificuldade em gastar o alimento consumido e pode sofrer de obesidade e outras complicações da mesma.  Ao contrário do que se pensava, nem mesmo processos naturais, como a puberdade e a menopausa, causam alterações significativas na nossa capacidade de digerir os alimentos e transformá-los em energia. Nossa capacidade metabólica, segundo esse estudo, é bastante uniforme pela maior parte de nossas vidas. Isso não quer dizer que não seja possível mudá-lo, mas sim de que isso só ocorre de forma natural na velhice. É preciso, porém, conhecer o próprio corpo para saber o que dará certo ou não.  O chamado metabolismo basal é o cálculo de quantas calorias diárias são necessárias para se manter em repouso, sem gasto extra de energia. E isso varia totalmente de pessoa para pessoa. O estresse, a falta de sono, a ingestão de alimentos termogênicos também influenciam. O próprio ciclo circadiano, como é chamado o funcionamento do nosso relógio biológico de acordo com o horário de dia ou noite, tem relação direta com o metabolismo e também pode alterá-lo. Em casos um pouco mais extremos, como é o caso da cirurgia bariátrica que mencionamos, pode haver mudanças no ritmo corporal.
O desregulamento metabólico causado pela redução natural da velhice, junto com a obesidade, pode significar uma deterioração dessa tão almejada qualidade de vida na melhor idade. Parece chover no molhado mas, como sempre, o melhor jeito de manter o corpo funcionando como um relógio é levar uma vida saudável. Em síntese:

  • Metabolismo é o conjunto de reações químicas celulares que transformam o alimento em energia;

  • Ele pode ser alterado por diversos fatores como estresse, sono, dieta;

  • Se mantém naturalmente estável durante toda a vida adulta, só apresentando redução significativa durante a terceira idade;

  • É fundamental para que se entenda o funcionamento do próprio corpo e como manter uma vida saudável.

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Para Inspirar

Desmistificando conceitos: o que é o Canabidiol e quais são seus benefícios?

Matéria-prima natural, ela é benéfica para diferentes fins - como é o caso da Olívia, filha do chef Henrique Fogaça -, mas segue enfrentando preconceitos culturais

3 de Junho de 2022


No terceiro episódio da oitava temporada do Podcast Plenae, conhecemos o lado paterno do renomado chef Henrique Fogaça. Representando o pilar Relações, ele contou a história de sua filha, Olívia, que aos 14 anos segue sem ter sua síndrome diagnosticada.


Sua condição a inibe de levar uma vida típica, como andar ou até mesmo falar. A adolescente, filha de um cozinheiro premiado, se alimenta por sonda e passa grande parte dos seus dias em uma cadeira de rodas. 


O que ela não poderia imaginar é que seu pai, Fogaça, seria incansável em busca de melhorar sua qualidade de vida. E em uma dessas buscas, ele se deparou com o canabidiol, substância natural amplamente estudada, mas que ainda enfrenta grande preconceito cultural no Brasil e no mundo.


 “A conhecida maconha e haxixe são todos produtos feitos a partir da planta cannabis sativa. Essa planta contém mais de 500 produtos químicos. Desses, mais de 100 apresentam uma estrutura similar, chamadas de canabinoides. O canabidiol é um desses canabinóides, mas ele não é o responsável pelos efeitos conhecidos da maconha, não produz barato ou dependência química. Isso quem produz é o THC, outra substância e que pode ser isolada”, explica Francisco Silveira Guimarães, médico e professor de farmacologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que pertence à USP.


Seus caminhos foram levados aos estudos da cannabis há mais de 30 anos. “Foi basicamente devido ao meu orientador de doutorado, Antonio Zuardi, um dos grandes pesquisadores dessa área e hoje já premiado. Ele que implementou essa linha de pesquisa aqui e criou um grupo de outros psiquiatras no Hospital das Clínicas. Quem o incentivou foi Elisardo Carlini, falecido recentemente, e que foi o grande pioneiro dessa área de pesquisa em canabinóides aqui no Brasil”, resume. 


O Brasil é referência na pesquisa da substância. A USP ocupa o primeiro lugar como a instituição que mais publicou artigos sobre o canabidiol no mundo de 1940 até 2019, segundo o estudo Global Trends in Cannabis and Cannabidiol Research, publicado em 2020 na revista Current Pharmaceutical Biotechnology.


"Existem no momento, em várias partes no mundo, várias preparações contendo canabidiol, em alguns países são vendidos até como suplementos alimentares. As quantidades são bastante variadas, isso é até um pouco preocupante porque os estudos mostram que em mais de 30% dos casos aquelas quantidades que estão descritas nos rótulos não são reais. Por outro lado, ele também é muito usado como medicamento, inclusive aqui no Brasil. Aí é muito melhor classificado, você pode comprar ele puro, ou em spray, e em formatos que contém metade canabidiol e metade THC.


Para quê usar? 


Antes de definir essa pergunta, é preciso entender o processo de um estudo e os níveis de evidência. O primeiro estágio é chamado de cultura de célula, seguido pelo estágio pré-clínicas, quando ainda não começou a ser testado em seres humanos. Depois, há os primeiros estudos nos seres humanos (inicialmente chamado de estudos abertos, onde não tem um controle), e depois finalmente os ensaios clínicos, que são estudos grandes, com controle.


Nessa última etapa, os participantes não recebem a substância, chamado de “duplo cego”, ou seja, a pessoa pode receber a substância estudada ou um placebo - qualquer substância ou tratamento inerte (ou seja, que não apresenta interação com o organismo) empregado como se fosse ativo. Nem a pessoa e nem o avaliador, no caso um médico, sabem. Esse último estágio é chamado padrão ouro, que vai realmente cravar se aquele tratamento ou substância possuem efetividade.


“No momento, esse padrão ouro só foi atingido para o tratamento de crianças com epilepsia de difícil controle, em síndromes mais raras, ou então combinado com o THC no tratamento sintomático da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Agora, do ponto de vista pré-clínico, o canabidiol tem um potencial enorme, principalmente do ponto de vista psiquiátrico e neurológico e até para câncer. Já temos evidências de muitos outros usos, por exemplo, para ansiedade e Síndrome de Burnout. Até mesmo Parkinson, insônia e dores crônicas também já apresentaram evidências”, conta o pesquisador.


É o caso de Olívia, filha de Henrique Fogaça, mencionado no começo deste artigo. Graças às pesquisas do pai e da luta para conseguir informação e acesso, ele passou a medicá-la e viu efeitos incríveis. Hoje, ela já consegue sorrir, olhar nos olhos, dar seus primeiros passos com a ajuda de uma prótese e, para a alegria do chefe, comer papinhas eventuais feitas, claro, por ele. 


“Nas primeiras pesquisas feitas com a substância em ratos, observou-se que ele oferecia o mesmo efeito que ansiolíticos já conhecidos no mercado, como o Diazepam, ou Valium no nome comercial. A diferença principal é que ele não produz tanta sedação quanto esses remédios tarjados”, explicou o mesmo pesquisador, mas ao podcast da Revista Gama. 


Assim como qualquer outro fármaco, ele oferece algum efeito adverso, que no caso, ainda vem sendo estudado. Novamente: isso vale para qualquer remédio. O que intriga os pesquisadores é justamente a baixa quantidade de efeitos adversos em comparação com o grande poder terapêutico do canabidiol. “A pessoa usar ao seu bel prazer não é uma coisa que seja recomendado pra nada”, pontua.


Em termos de inovação e modernidade, as áreas que estão mais avançadas em termos terapêuticos e caminhando para se tornarem padrão ouro, segundo Francisco, são no tratamento do estresse e da dor crônica. “E sabemos que o canabidiol oferece um efeito neuroprotetor que talvez possa ser útil em transtornos neurodegenerativos a longo prazo, como Alzheimer, Parkinson e até autismo, que não é neurodegenerativo, mas pode se beneficiar. Isso traz esperança, nós conseguimos entender que talvez seja possível desenvolver outros medicamentos a partir dele”. 


A cannabis e a sociedade


Para que seja possível avançar nos estudos, é preciso investimento e autorizações. Segundo a revista Exame, que trouxe dados da consultoria especializada BDSA, o mercado global de cannabis legal atingiu o patamar de vendas de 21,3 bilhões de dólares em 2020, o que representa um crescimento de 48% em relação ao ano anterior. A estimativa agora é de um aumento de cerca de 17% ao ano até 2026, levando o faturamento a 55,9 bilhões de dólares em cinco anos.


A reportagem ainda conta que, em um relatório recém-lançado, Gabriel Casonato, analista do BTG Pactual digital, explica que se considerarmos que o avanço na regulação e legalização da cannabis para fins medicinais ou recreativos deve avançar em países como Israel e Alemanha, a cifra prevista para os próximos anos beira os 100 bilhões de dólares. O montante é superior ao movimentado pela indústria de refrigerantes nos Estados Unidos ou de cervejas no Canadá.


Economicamente falando, o destaque vai para o uso terapêutico, mas a cannabis ainda pode ser usada na indústria têxtil, alimentar, recreativa e até automotiva. 

Por aqui, demos um passo importante em 2019 com a liberação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) da venda de produtos à base de cannabis em farmácias. 


Porém, os preços ainda são altos, o cultivo e a manipulação da substância no país seguem proibidos, e a compra dos fármacos só pode ser feita com a apresentação de uma prescrição médica. Um dos grandes entraves que o tema encontra não só aqui no Brasil, como em muitos lugares do mundo, é o preconceito. 


“Isso é uma ignorância geral sobre o que é a maconha, ela foi muitas vezes vendida como uma droga do inferno pela sociedade. Por outro lado, a juventude a enxerga como uma droga leve que não produz efeitos adversos, e isso também é ruim, pois ignora seus efeitos adversos. Mas já está muito melhor do que era há uns anos”, comenta Francisco.


Para sanar esse problema, é preciso esclarecimento à população. Campanhas potentes, como a do antifumo no começo dos anos 2000, pode ser uma solução importante na visão de Francisco. Mas, para que isso aconteça, é preciso que as entidades governamentais estejam comprometidas e determinadas a olhar para o tema com a seriedade que ele demanda. Muitas coisas boas podem vir a partir disso. 

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