Para Inspirar

A cultura como agente de transformação social

Projetos que levam a arte em suas mais variadas formas podem trazer transformação social profunda para a sociedade e suas comunidades

10 de Maio de 2024


No último episódio da décima quinta temporada do Podcast Plenae, conhecemos a história completa de Konrad Dantas, mais conhecido pelo seu nome artístico, Kondzilla. Um dos principais produtores do Brasil é especializado em funk, ritmo que embala não só as comunidades mais pobres, mas todo o país. 

Apesar de ser ainda um tema polêmico e um ritmo que sofre muito preconceito, o funk é parte indissociável de um movimento cultural e que emprega milhares de pessoas em muitas cidades. E isso é só um pouco do que a arte pode fazer como agente de transformação social. A seguir, falaremos mais sobre isso!

O que a cultura traz


A cultura desempenha um papel fundamental na sociedade de várias maneiras. Ela traz, em primeiro lugar, um senso de comunidade, pertencimento e identidade, pois emprega tradições, costumes e crenças que dão uma “cara” para aquele grupo, seja ele delimitado em um espaço geográfico ou não. 

As configurações são muitas: você pode se identificar com a cultura brasileira, por exemplo, e assim se enquadrar em uma regionalidade pautada em um espaço geográfico - o país. Mas, você pode se identificar com culturas que não são atreladas a um espaço, como é o caso da cultura árabe que te explicamos brevemente nesse artigo, ou a cultura indígena, que explicamos nesse artigo.

As expressões artísticas como música, dança, pintura, literatura: todas elas ajudaram até mesmo a demarcar tempos históricos. Hoje estudamos o romantismo, por exemplo, que nos ajuda a entender um pouco mais sobre aquele período do mundo, seus valores, angústias e normais sociais. Isso acaba ensinando os mais jovens com a experiência dos mais velhos. 

Eventos culturais ou o simples consumo de uma arte que você goste pode promover socialização, criando grupos para falar sobre o assunto, por exemplo; aliviar o estresse; trazer uma sensação terapêutica. Por fim, essa troca cultural ainda enriquece um povo e o torna mais capaz a aceitar as diferenças e lidar com as diversidades, gerando mais compreensão e empatia de todas as partes. Esses são os ganhos mais subjetivos relacionados ao papel da cultura em uma sociedade.

A cultura como moeda de troca


Mas, indo além e trazendo para a prática, a cultura movimenta dinheiro. Prova disso são os dados recentes sobre o show da Madonna realizado no Rio de Janeiro. Ele trouxe visibilidade e prestígio para o Brasil e trouxe, sobretudo para a população LGBTQIA+, um senso de pertencimento e acolhimento - além de claro, diversão. Só que o show também trouxe dinheiro. 

Segundo estimativas do governo do estado do Rio de Janeiro, o show da Madonna trouxe retorno de mais de R$300 milhões para a capital fluminense. O custo para os cofres públicos foi de 20 milhões, pois houve muito investimento privado para o evento que reuniu mais de 1,5 milhões de pessoas. 

“A gente fala do retorno financeiro, de R$300 milhões, mas a gente tem outro retorno, que é muito maior, que é a imagem do Rio de Janeiro perante o Brasil e o mundo. Isso é muito mais importante, essa proteção reputacional do estado, mostrando que ele é capaz de dar segurança pública”, diz o secretário de Segurança, Victor César dos Santos.

Esse é um caso atípico de tamanho continental, é claro, mas as pequenas iniciativas culturais que acontecem em comunidades também exercem esse efeito, guardada as devidas proporções. É por isso que há tantas iniciativas do tipo em tantos pontos do país - a bailarina Ingrid Silva, por exemplo, que já passou por aqui em um episódio emocionante no Podcast Plenae, é testemunha disso. 

A cultura pode ainda ser uma fonte de resiliência para as comunidades, ajudando-as a enfrentar desafios e adversidades, se adaptando ao longo do tempo e incorporando novas influências enquanto mantém aspectos importantes de sua essência. Ela ajuda a levantar bandeiras importantes e trazer visibilidade para povos marginalizados. 

Não por coincidência, um dos principais mecanismos de violência destinados às minorias é menosprezar ou até apagar a cultura de um povo específico - como o racismo faz há mais de meio século com a população afrodescendente pelo mundo. Esse discurso abre portas para outras violências como a intolerância religiosa, que tem em suas manifestações artísticas uma das formas de expressar suas crenças. 

“Eu já sabia da importância do funk pras pessoas que vivem na favela. Na comunidade onde eu cresci tocava muito funk. Sabia também que só os artistas grandes, apoiados pelas gravadoras que tinham clipes bons. Eu achava, e continuo achando, que a música tem um papel fundamental como entretenimento para quem é da comunidade. No começo dos anos 2010, a classe C estava vivendo um momento de ascensão econômica. Os jovens estavam entrando na universidade e as famílias estavam comprando carro pela primeira vez”, diz Konrad. 

Ele é um desses agentes de transformação em sua comunidade que acabou expandindo para outros muros e trazendo esperança e, porque não, empregos para muitas pessoas como ele, que não tiveram muitas oportunidades. A arte é uma dessas portas que se abrem como uma nova chance para tantas pessoas e, de uma maneira linda, resgata valores e nos torna todos juntos parte de algo. 

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Qual a diferença fundamental entre solidão e solitude?

Apesar de parecidas, ambas resguardam diferenças cruciais para o entendimento de seus significados.

5 de Agosto de 2020


Paul Johannes Oskar Tillich foi um teólogo alemão e filósofo da religião. Dentre suas várias contribuições ao mundo da teologia e filosofia do século XX, destaca-se justamente o tema central que trataremos ao longo dessa matéria: solidão e solitude. Afinal, qual a diferença entre ambas?


Em seu livro, “The Eternal Now” (em português, “O Eterno Agora”), Paul discorre acerca das palavras loneliness (solidão) e solitude (solitude). Apesar da segunda ser pouco usada no português, ela possui tradução e significado próprio na nossa língua.

Originária do latim, solitude pode ser descrita como “a glória em estar sozinho”. Isso implica em querer estar, em aproveitar esses momentos únicos consigo mesma. Solitude é, basicamente, escolher ser sozinho e ser feliz com essa escolha. É algo feito de forma deliberada, consentida e positiva. É, por exemplo, decidir viajar sozinho por um longo tempo, somente em companhia de si mesmo.

Ela é usada de forma poética na nossa linguagem. Segundo o psicanalista Felipe de Souza, autor de textos para o site Fãs da Psicanálise, “a solitude permite o tempo e o espaço e o silêncio para fazer o útil ou o belo. Também permite não fazer nada. Também permite desenvolver a espiritualidade, encontrar-se enquanto uma pessoa diferente dos demais e se aceitar como se é – independentemente da aprovação do outro.”

Portanto, ela é quase que um estado de silêncio meditativo, e nós já explicamos o quão poderoso pode ser estar quieto, tanto para seu corpo quanto para sua mente. Além disso, seguindo o raciocínio do psicanalista, a solitude pode ser um caminho poderoso para encontrar com a sua espiritualidade - que também revelamos morar dentro de si mesmo nesta matéria, basta querer encontrá-la.

Mas, e a solidão?

Há quem goste de ficar sozinho, ou melhor, curtindo sua própria companhia - com explicamos anteriormente. Mas, e quando esse isolamento não é feito de forma voluntária? Isso sim pode ser muito nocivo à saúde.

Isso porque a solidão é considerado um estado - ser solitário. E ela não traz consigo a escolha, a liberdade em ser só, que a solitude carrega. Ela é algo imposto à um ser humano que não escolheu aquela situação, e pode ser também uma identificação psíquica daquele ser.


Para o neurologista Fabiano Moulin, o isolamento pode ser muito nocivo ao cérebro. “Prova disso é a de que, em diferentes nações no mundo inteiro, a solitária é o castigo máximo que pode ser aplicado dentro de uma prisão, porque ela exerce um efeito gigantesco sobre a nossa espécie” explica.

Outra grande diferença entre solidão e solitude mora em suas permanências. Isso porque a primeira é uma permanência, uma condição, enquanto a segunda é um estado passageiro e deliberado. A solitude só é válida quando se tem um outro alguém para contar - e essa é a grande diferença: o ser solitário não possui ninguém, enquanto o que goza da solitude sabe ter, mas prefere estar só.

O que pensam os cientistas

Considerada por estudiosos uma verdadeira epidemia do século, a solidão parece atingir com mais força os millennials, ou seja, aqueles que nasceram entre os anos 80 e os anos 2000. Hoje, com idades entre 20 e 40 anos, eles apresentaram um resultado dentro do chamado “Índice de Solidão” considerado elevado em pesquisa realizada nos Estados Unidos - mas não se sabe o porquê disso.

Não por coincidência, dentro dos 20 mil entrevistados, os que apresentaram menores índices de solidão eram também os que detinham hábitos mais saudáveis e uma rotina com mais qualidade de vida, como maior presença dos familiares em seus dias, menos sobrecarregados de estresse e maior presença de exercícios físicos no dia a dia.


A solidão pode ser tão nociva à saúde que, por ser considerada epidêmica, também já preocupa as autoridades quanto aos gastos com a saúde pública em decorrência de seus efeitos. Cientistas já concluíram que ela pode piorar o sistema imunológico, elevar os níveis de cortisol e com isso os níveis de estresse - o que também dificulta a perda de peso, por exemplo - e até problemas para dormir, que acarretam em diversos outros problemas para nosso corpo.

Na terra da rainha há até mesmo políticas públicas voltadas para fomentar a sociabilidade da população. A primeira-ministra britânica, Theresa May, criou um ministério dedicado a cuidar dos males que afligem a sociedade moderna - e a solidão está incluída nessa. Pensando nisso, uma ONG local criou a campanha “Be More Us”, com o slogan “ to end loneliness ”, em português, “para acabar com a solidão”. Confira um dos vídeos emocionantes criados por eles clicando aqui.

Em uma das enquetes promovidas por eles, o resultado revelou que 52% dos entrevistados gostariam de ter com quem conversar, 51% sentiam falta de ouvir risadas de alguém e 46% se queixavam de não receber um abraço. E é por isso que a entidade estimula que as pequenas conexões diárias, como interagir com seus vizinhos ou até mesmo acenar para estranhos, tornem-se um hábito.

Por outro lado, a solitude é uma prática encorajada por muitos especialistas. A Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional acredita que marcar um encontro consigo mesmo todos os dias, sem mais ninguém por perto, é extremamente benéfico para o indivíduo, e que isso ajuda-o a fortalecer seu autoconhecimento e sua autoconfiança. Há até um vídeo sobre o tema, gravado por eles.

Que tal fazer as pazes com a sua solitude, e evitar a sua solidão? Mantenha uma vida social saudável, mas saiba aproveitar os seus momentos à sós, desfrutando de sua própria companhia.

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