Tem cheiro de umidade e spray de espuma.
26 de Fevereiro de 2023
Tem cheiro de umidade e spray de espuma. Tem cor de arco-íris e serpentina. Tem som de batuque, de frevo, de samba, de marchinha. Gruda na pele como glitter e suor. Estamos falando, é claro, do carnaval!
Rufem os tambores para a alegria passar. Esse sentimento que chega sem pedir licença e perdura por toda a estação. É tempo de guardar os julgamentos - que já nem deveriam existir - dentro da gaveta e sair o mais livre que puder.
Se despir de pudores, encontrar velhos amores. Sair sem destino, cantar a plenos pulmões a música que você considera hino. Abraçar um desconhecido, voltar para casa agradecido. Essa gratidão por estar vivo, por estar atento, por estar forte.
É sentir-se jovem independente de qualquer documento. É sentir na pele o empoderamento. É distribuir sorrisos, ir embora sem avisos. O carnaval, flexível por essência, pode ser uma desculpa para descansar ou para seguir um bloco até o sol raiar. Você o vive à sua maneira!
Independente de qual foi o seu itinerário, uma coisa é um fato: ninguém passa despercebido desses quatro dias que insistem em te cutucar para te lembrar que a felicidade é só questão de ser! Você se permitiu no feriado que passou?
São Paulo nem sempre é hostil.
25 de Janeiro de 2023
São Paulo nem sempre é hostil. Mas quando é, o faz com maestria. Te chacoalha, esmaga, condensa. Molha a barra do seu jeans para que o incômodo perdure por todo o dia, como um breve lembrete da vil capital que grita “a esquerda é livre!” no ouvido do desavisado.
Por vezes, muda o clima. Em um mesmo dia, te faz suar e tremer, sentir que errou a roupa, o caminho, todas as suas escolhas. Paralisa em um trânsito de horas que te obriga a achar distrações. Mas te faz ser grato: poderia ser pior, poderia ser o metrô. Lar de todas as pessoas que começam o dia esperançosas ou sonolentas demais para pensar sobre. É um ponto de encontro de almas que gostariam de estar em outro lugar, mas há calor humano, não se pode negar.
São Paulo te dá tantas opções de entretenimento que você acaba solitário no mesmo bar que frequenta há anos, tomando o mesmo drink que já fora mais gostoso. Mas de repente, ela te presenteia com um esplendoroso pôr do sol que insiste em aparecer mesmo sufocado por prédios que despontam de toda a parte, ainda que o espetáculo tenha alguma poluição envolvida. O amanhecer que cheira a chuva, gotas que lavaram a sujeira e renovam as apostas.
SP é também a consciência do coletivo, o sorriso do morador de rua que te atinge no meio de uma passada rápida na calçada e te acompanha por todo o percurso. É a prestação de um serviço caro, mas eficaz, é o cachorro na rua que te segue da feira ao trabalho, deixando uma saudade genuína do que é simples.
São as ruas, povoadas, pipocadas, coloridas. Cheias de vida 24 horas por dia, ora dolorosa, ora sorridente, mas viva. Pronta para te acolher, te oferecer, te ensinar um pouco mais sobre o outro, sobre si e sobre espaço. Uma vitrine de pequenos universos particulares que viajam em seus próprios fones, livros, celulares.
É preciso assumir suas falhas e seus defeitos, não romantizar os seus desalentos. Mas é necessário enxergar beleza no que não se vê, assumir o belo que insiste em habitar até mesmo o duro concreto de suas curvas, que abrigam poesias não decifradas. Cabe a você entender a mensagem ruidosa de uma ligação sem sinal dentro de um túnel que São Paulo tenta te enviar. Você consegue?
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