Coloque em prática

Como funciona a terapia Ayurvédica

Desenvolvida na Índia há mais de 7 mil anos, a Ayurveda é um conjunto de saberes medicinais que buscam trazer qualidade de vida sem o uso de medicamentos

20 de Maio de 2021


O mundo é cíclico. Ao mesmo tempo em que nunca antes na história estivemos tão avançados no quesito ciência, também aumentou-se a procura por medicinas mais intuitivas e milenares. Uma delas é a terapia ayurveda, também chamada de ayurvédica.

“A Ayurveda é a ciência da vida. Ayus , ou ayu , em sânscrito, significa vida e Veda é conhecimento. Ele é o sistema atual de saúde na Índia hoje, todo médico lá é formado em Ayurveda, e dentro da sua formação, somente no final eles conhecem são apresentados a medicina atual” explica Ligia Pires Amorim, professora de yoga e terapeuta de Ayurveda.

Ligia, assim como vários outros, conheceu a metodologia quando começou a se preocupar mais com a sua saúde mental. Mas ela não foi apresentada logo de cara a Ayurveda. Isso porque, aqui no Brasil, a técnica é mais restrita e há somente um médico formado - Matheus Macedo, fundador da Vida Veda - e, todo o resto, são os chamados terapeutas ayurvédicos. Apesar disso, a terapia é oferecida pelo Sistema Público de Saúde brasileiro, o SUS.

Mas, depois de experimentar muitas meditações e se aprofundar ainda mais em sua jornada de autoconhecimento, Ligia decidiu embarcar rumo à Índia, berço de tantas técnicas, e por lá foi apresentada a esse novo mundo.

Desde então, não largou mais. “Ele é um conhecimento muito antigo, de 5 mil anos atrás, e essa é a grande vantagem: ele já foi testado e validado milhares de vezes. A medicina moderna muda muito, tem novos vilões a todo o tempo, ainda é uma medicina muito nova quando comparada”, diz ela.

Os caminhos do método

Segundo a Associação Brasileira de Ayurveda (ABRA) , ela é “o conhecimento, a ciência ou sabedoria que propõe uma vida saudável em harmonia com as leis da natureza com o objetivo de alcançarmos a felicidade. Nesta filosofia indiana a saúde é um estado de completude”.

Por ser esse estado de completude, é preciso olhar para mente e corpo como sendo uma só unidade, sem distinção, operando em conjunto para a manutenção da vida com o auxílio da natureza, que é a grande regente das nossas vidas, segundo a filosofia.

“No Ayurveda, cada indivíduo é tratado dentro da sua individualidade, dentro do seu contexto, não existem respostas generalistas. Ela é muito simples e muito complexa ao mesmo tempo”, reflete Ligia. "Existem sim medicamentos utilizados nos tratamentos, mas a mudança de hábitos na maioria dos casos já é o suficiente para pacificar desequilíbrios identificados. Em linha geral, tudo pode ser considerado alimentos ou remédio, a depender da dosagem e administração do uso."

O tratamento ayurvédico irá se basear, sobretudo, na avaliação de seus doshas. E o que são eles, exatamente? São nossos três “humores”, compostos pelos cinco elementos da natureza (chamados de Panchama-habhutas) : o espaço e o ar formam o Vata ; fogo e água geram Pitta; e água e terra constroem Kapha.

Esses três Doshas mencionados - Vata, Pitta e Kapha - possuem qualidades específicas. Exemplo: o Vata (éter e ar) é seco, leve, áspero. Pitta (fogo e água) é quente, líquido, picante. Já o Kapha (água e terra) é pesado, lento, macio. Para avaliá-los e saber qual é o seu dosha central, o paciente responde um questionário padrão.

O resultado desse questionário indicará qual é o seu dosha mais elevado e alterado, que revela informações importantes sobre sua personalidade, mas que é também o causador de alguns males que você pode estar sentindo. "O paciente ainda passa por uma análise de constituição física, tendência comportamental, condições climáticas de onde viva e análise do atual momento na vida e de seus hábitos", diz Lígia.

Relatos de uma paciente

Angélica Reale, que já praticou a terapia ayurvédica em um momento específico de sua vida, contou um pouco de sua experiência. O gosto pela pimenta e o temperamento mais explosivo, por exemplo, podem parecer, em um primeiro momento, características distintas e sem nenhuma correlação.

Mas, em sua avaliação, eles indicaram que seu dosha mais em desequilíbrio era o Pitta. “Isso me causava até mesmo alterações intestinais, por conta de minhas emoções”. Uma vez em consulta, o terapeuta solicitou uma avaliação de seu muco nasal, saliva e fezes e detectou as alterações.

A partir daí, o especialista indicou alguns passos que ela poderia trazer para a sua rotina. “Quando eu acordo, eu não engulo minha saliva, nem tomo água. A primeira coisa que faço é raspar a minha língua com um limpador de cobre. Isso ajuda a tirar as bactérias mortas e, consequentemente, a não alterar meu dosha Pitta”, conta.

Como um dos mais poderosos “medicamentos” da Ayurveda é a alimentação, Angélica também modificou o seu cardápio. “Quando minha saliva foi analisada, o terapeuta detectou uma forte preferência por alimentos secos da minha parte. Hoje, tento mesclar com alimentos mais cozidos e ensopados também”, diz.

Caminhos da terapia

Ainda segundo a ABRA, há dois objetivos principais na Ayurveda: preservar e promover a saúde das pessoas que já são saudáveis e curar doenças em pacientes não-saudáveis. Sendo assim, os tratamentos podem variar a depender do seu objetivo. Fatores como idade do paciente, rotina e até a estação do ano também são levados em conta.

Nessa trajetória, o paciente pode se deparar com tratamentos de rejuvenescimento (Rasayana) que irão beneficiar sua saúde física, mental, emocional e social, ou tratamentos afrodisíacos (Vajikarana) que promoverão a vitalidade e o aumento em libido. Ambos são feitos em pacientes saudáveis, que buscam somente a boa manutenção de suas vidas.

Para pacientes que possuem alguma doença, há seis ramos diferentes que poderão entrar em ação, não necessariamente todos juntos:

  1. Shalya Tantra (cirurgia ayurvédica);
  2. Shalakya Tantra (doenças da cabeça e pescoço);
  3. Kaya Chikitsa (clínica médica ou medicina interna);
  4. Bhuta Vidhya (psiquiatria e psicologia);
  5. Koumara Bhritya (pediatria);
  6. Agada Tantra (toxicologia).

“A diferença de um terapeuta para um médico é que o terapeuta atua pacificando os sintomas, não especificamente a doença. Apesar de que a maioria das doenças, se fossem pacificadas e prevenidas no início, nem se tornaram doenças” pontua a terapeuta Ligia.

Ela ainda explica que, dentro da metodologia, essa rotina na manutenção da saúde é chamada de Dinacharya . Nela, mais do que seguir o que o seu terapeuta indicou para o equilíbrio dos seus doshas, é importante estar atento aos preceitos básicos da vida, os 4 pilares principais: sono, silêncio, movimento e alimentação.

“A meditação, é claro, ajuda a gente em diversos momentos, como esse da pandemia. Mas a respiração, estar atento ao seu respirar, já é algo tão simples, gratuito e pode te ajudar” conclui ela, nos lembrando que não importa a filosofia ou o tratamento que você optar, é preciso, antes de mais nada, se reconectar com o simples, e estar disposto a encontrar sua verdadeira essência.

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Coloque em prática

Qual o nosso papel diante dos desastres “naturais”?

Com a intensificação dos efeitos climáticos causados pelo aquecimento global e a falta de medidas estruturadas, o que fazer para ajudar o outro e a si mesmo em um cenário trágico?

2 de Março de 2024


Recentemente te contamos um pouco mais sobre o que é o estresse climático e o que ele pode causar no seu organismo. Mas, como mencionamos neste artigo, essa é só uma das tristes heranças que o aquecimento global já começa a nos deixar. E não é só sobre excesso de calor: esse fenômeno provoca um desbalanceamento global em todas as estruturas e ordens climáticas. 

É cada dia mais comum vermos as estações do ano invertidas, espécies animais entrando em extinção por não sobreviverem às mudanças em seus habitats naturais e, claro, as chuvas desastrosas que levam tudo ao seu redor, ondas imensas que varrem toda uma cidade e deixam nada se não a destruição. Não é apocalíptico da nossa parte dizer que, como está, não dá para ficar. 

Hoje, vamos entender um pouco mais sobre qual é a nossa responsabilidade diante desse cenário trágico, o que fazer para tentar reverter essa situação e como ajudar as vítimas - que pode te incluir, em algum momento - de um desses desastres. Leia mais a seguir!

Dando nome aos bois


Todo ano, figurões de todas as nações se reúnem para a COP, a conferência do clima, para pensar em soluções que possam conter os estragos climáticos e cobrarem uns aos outros resultado das medidas combinadas no evento anterior. Apesar dos esforços, eles talvez tenham começado tarde demais ou ainda não estejam intensos o suficiente para realmente fazerem a diferença.

A prova disso é que chegamos em um ponto onde muitos dos impactos do aquecimento global são considerados "irreversíveis", segundo uma avaliação produzida pela Organização das Nações Unidas (ONU). E o estrago está por toda a parte ao nosso redor.

Tivemos o ano mais quente da história, assistimos florestas inteiras desaparecerem por conta de queimadas espontâneas. Vimos maremotos se intensificarem, rios secarem e enchentes por toda a parte - e isso é a nível mundial, não só aqui em território nacional.

Ainda assim, há uma resistência por parte de quem entende do assunto em chamar os desastres de “naturais”. “É uma recomendação para não ‘naturalizar’ um problema que não é apenas de responsabilidade da ‘natureza’”, explica Fernando Queiroz, cofundador da HUMUS. 

“Desastre é o resultado de um evento natural extremo (climático ou geológico) quando esse ocorre em uma área de intervenção humana que não tem capacidade de lidar com os impactos. Só que um evento extremo poderia ser algo até bonito de se observar, como um furacão no meio do oceano ou uma tempestade em uma floresta”, diz. 

O problema, como ele explica, é quando esse fenômeno extremo ocorre em um local onde houve uma ‘transformação’, como uma comunidade em encostas, moradias à beira de rios ou cidades construídas em cima de placas tectônicas. “Por isso, além de mais cuidados para reduzirmos (ou eliminarmos) as causas da famosa mudança climática, temos que entender que o desenvolvimento urbano/econômico sem responsabilidade também é ‘culpado pelo desastre’”, diz ele. 

Dar nome aos bois é pensar sobre a nossa responsabilidade diante do planeta, afinal, todos nós deixamos uma pegada de carbono, que é a métrica utilizada para se ter uma ideia das emissões de gases de efeito estufa originadas da atividade humana. É impossível não deixar nenhuma: carregar o celular já é gastar energia e, consequentemente, uma pegada de carbono. Por isso, te contamos por aqui algumas dicas para você ser mais sustentável e amiga do meio ambiente. 

Mas, mais do que as ações individuais - que contam muito! - é preciso cobrar das autoridades ações coordenadas e coletivas para a redução dos danos já causados e evitar danos futuros. Somente o Estado, em parceria com instituições sociais ou privadas, é que teria braço suficiente para medidas mais efetivas e em larga escala. Portanto, somos todos culpados: pessoas, instituições e governo.

“Muitas vezes o desenvolvimento econômico de uma região proporciona um aumento no consumo de recursos e leva a um crescimento urbano desorganizado. Portanto, indivíduos, organizações, empresas privadas e o poder público podem reduzir as causas e buscar soluções”, complementa.

O que fazer? 


“Desastre é uma dos temas sociais mais relevantes do mundo na atualidade. Tem causado muitos e diferentes impactos, principalmente a perda de vidas. Além de provocar danos à natureza, também afeta a economia e o desenvolvimento social, até mesmo daqueles que não foram diretamente afetados”, diz Leonard de Castro Farah, especialista em gestão, redução de riscos e desastres e outro cofundador da HUMUS.

O participante de uma de nossas temporadas do Podcast Plenae conta que, em 2019, ainda como capitão do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, ao retornar de uma missão em Moçambique após o impacto de dois ciclones teve a certeza da importância de equipes especializadas em desastres que pudessem apoiar de forma mais ágil. “Após uma conversa com Fernando, que já me acompanhava nas jornadas de inspirar mais pessoas a salvar vidas, compreendemos que é possível e necessário agir”, diz. 

Foi assim que começou a nascer a HUMUS, uma organização sem fins lucrativos, independente, brasileira e que atua com foco em desastres. Apesar de se tratar de uma instituição séria e organizada, eles acreditam que todo mundo pode fazer a diferença. 

“Na HUMUS dizemos que ‘todo mundo pode ajudar a salvar vidas’ de diferentes maneiras, seja um profissional especializado em resgate, saúde, logística, gestão ou um voluntário que pode mobilizar e compartilhar empatia. O primeiro passo é entender que o desastre é um problema complexo, extremo e urgente. Então, qualquer tipo de apoio no local deve estar minimamente preparado para atuar nesse ambiente, que se difere de outras causas sociais que não precisam lidar com o caos emocional e a falta de recursos”, complementa Leo. 

Para os dois sócios, além da população, muitas instituições do poder público, hospitais, comércio, rede hoteleira, vias de acesso e outros serviços são prejudicados. Portanto, apesar da boa intenção, é preciso agir com responsabilidade e autossuficiência para não se tornar mais um problema ou desperdiçar recursos.

“Após o desastre, é importante se conectar a agentes no local, principalmente instituições sociais, que sabem as reais necessidades naquele momento e que devem continuar ali mesmo quando as atenções diminuírem. Há dificuldades que permanecem por um longo tempo, como a insegurança de seguir a vida em uma área de risco, e outras que surgem após um tempo, como os efeitos na saúde, principalmente mental, e dificuldades para recuperação econômica”, reflete. 

Por isso, apesar das boas intenções, muito provavelmente um voluntário, um doador ou uma empresa não poderá resolver todos os problemas de um local devastado. Por isso, é preciso escolher uma das necessidades que a situação demanda e optar por aquelas que tenham mais identificação com quem está ajudando e melhor condição de viabilizar naquele momento, através de recurso financeiro, produtos ou serviços. 

Outras dicas importantes:

  • Prevenção salva vidas

  • Votar em políticos comprometidos com a causa. “Mesmo que dependa de ações e até mesmo uma legislação que demande um prazo longo para soluções mais efetivas, o desastre é uma causa urgente”

  • Conscientização e capacitação da população e agentes locais, além de apoio a equipes especializadas em desastres. 

  • Empresas e instituições sociais também podem desenvolver protocolos internos de ação para responder rápido, de forma viável e responsável, ajudando a salvar vidas. 

  • Ligar para os órgãos competentes como Defesa Civil (199), SAMU (192) e Corpo de Bombeiros (193). Eles prestarão os primeiros socorros e saberão para quem encaminhar depois. 

Por fim, mas não menos importante: apoiar causas, inclusive financeiramente, que estejam diretamente ligadas a esse auxílio. A HUMUS está iniciando uma campanha de financiamento coletivo junto com a Bemtevi para realizar a “Jornada de Amadurecimento” e desenvolver seu plano de negócio social. A meta é coletar 25 mil reais em até 38 dias e você pode ajudar acessando esse link aqui. Acredite: toda contribuição importa e você faz a diferença! 

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